O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Máscaras


Não sei o momento exato em que lançamos mão da nossa máscara. Talvez na adolescência, onde desejamos ser quem somos e ninguém deixa. Compreensível, vamos descobrindo o mundo enquanto ele nos descobre, e o danado costuma se implacável. Tente não se enquadrar para ver! Os adultos, sempre por trás de suas máscaras, contribuem na confecção daquelas que servirão aos neófitos, geralmente filhos, sobrinhos, netos, enteados, alunos. Particularmente não gosto daquelas de resina, prefiro como no teatro grego, confeccionadas em gesso. O molde não é tão perfeito (mas não é esse o objetivo?), mas na hora de quebrar, fica mais fácil. Ah! Você não sabia? Sim... Uma hora quebra.
Tem também aquelas típicas de carnaval que seguramos nas mãos e a levamos ao rosto ocasionalmente.

Não me recordo do dia em que usei a minha pela primeira vez – talvez tenha sido quando entendi que fazia parte da minoria, não sei. Era muito pequena e o mundo já me soava estranho. E pior, as pessoas também. Tentei a máscara de carnaval, mas com o tempo acho que meu braço doeu de tanto que precisei levá-la à cara e depois tirar. Estranhamente acho que eu tinha consciência que fazia uso desse importante instrumento de adequação social. Lembro de minha mãe, muito educada dizendo “sorria para as pessoas, elas não têm culpa de seu mau-humor”. "E eu? Tenho culpa por elas passarem na minha frente, justo no momento que estou vendo tudo de cabeça para baixo?" E foi assim que desisti da máscara de carnaval e optei pela máscara de gesso. Trocava-a como fazia com as roupas, de acordo com a necessidade do que estava do lado de fora. Tornava-me socialmente aceita e seguia interpretando, como todos. Enxergando com os olhos da maioria.
Não demorou muito e a máscara me incomodou. Se antes me sentia indevida aos olhos do mundo, pior era esse estranhamento de mim mesma. Novamente voltei a fazer uso da máscara de carnaval.E sigo com ela.
Hoje o braço já nem dói, uso-a infinitamente menos. Ainda fujo dessa “normopatia” social que me embrulha o estômago e turva a visão, mas para não viver no isolamento absoluto, por vezes lanço mão da minha máscara, e sigo descobrindo que tudo na vida tem a sua utilidade.  

domingo, 26 de agosto de 2012

A morte


A morte nos faz compreender o inevitável e nos confronta com nossos limites. Morrer não é o problema, a morte é a apenas a finalização de uma existência terrena, o grande dilema é que a morte inevitavelmente nos obriga a repensar a vida... Que vida levamos? Ou é a vida que nos leva? Quando a morte vem e arranca alguém de nós, automaticamente ressignificamos a vida, buscamos no nosso interior os valores reais da existência. O mundo de hoje é efetivo e não afetivo. O valor encontra-se na técnica e não no amor.
Hoje é um daqueles dias em que me sinto reduzido a nada. Fico encarando minha insignificância em um mundo lotado de significados que tantas vezes me passam despercebidos. O cenário à minha volta parece sintonizado comigo - dia cinzento, sol irritantemente cheio de dúvidas que entra e sai detrás das nuvens brincando com a minha melancolia, não sei se esconde de mim ou por mim. E esse dia carregado da mesma rotina chata, me obriga  a continuar. A lentidão hoje parece ter tomado conta do universo e aqui ao meu lado tudo passa incrivelmente devagar. É sufocante. Para piorar tem sempre aquela música que toca em algum lugar distante, mas ondas traiçoeiras teimam em trazê-la até você e ironicamente elas sempre aumentam a sua dor. A dor que você não conseguiu esconder de si mesma. Você, então, deseja ser consumido. E em total desrespeito à sua vontade, nada te consome... Nem ninguém. E você urge por outra alma que te exploda ou exploda com você. E diante de tanta efemeridade tento entender - porque isso insiste em piorar? Talvez nada esteja pior... É apenas a minha reação perante a morte de alguém... É a morte de alguém me forçando a olhar minha vida de frente.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Manipulação


Não há relacionamento que sobreviva à manipulação. Mas muitos costumam conviver com “ela” mais tempo do que se imagina.
Amor maduro e estruturado para resistir às inevitáveis reveses da vida, carece de respeito. Manipulação é desrespeito. É  violar a liberdade e desumanizar a pessoa amada, que deixa de ser pessoa e torna-se  apenas objeto amado.
É razoavelmente fácil o jogo de manipulação - elabora-se habilmente um arranjo,  ultilizando-se dose extra de egoísmo (pois o manipulador só leva em conta o seu objetivo) e tudo vale para  atingir a meta – principalmente fazer com que o outro sinta-se culpado. Sedução é a grande arma do manipulador. Não no sentido de atrair,  pois isso faz parte do amor que é amor. Falo do ato de persuadir e influenciar. A manipulação que mais judia, ocorre quando a relação chegou ao fim e um dos parceiros não aceita. Para eles os fins sempre justificam o meio. Afinal, tudo é feito em nome da família.
A manipulação só ocorre em uma relação assimétrica, onde um ganha e outro perde, quando na realidade, ninguém ganha nada, e a relação, mais dia menos dia, estará perdida. Amor que perdura nasce da simetria, das semelhanças.
Relação a dois quando é saudável e feliz não trás emoções negativas. Nenhuma pessoa normal, por mais culpada que esteja, faz algo contra si mesmo. A não ser... Que esteja sendo muito pressionada... Quer maior pressão do que a mental?
Manipulação é uma trama perigosa, quase invisível, principalmente aos olhos estrábicos de quem mantêm o ilusório desejo de posse. Um bom manipulador envolve toda rede de relacionamento do seu objeto de desejo e quando esse acorda... Está só. “Mas o manipulador me ama, me acolhe, me ajuda...” Mas ele não faz nada disso pautado na nobreza, faz por necessidade própria, porque está emocionalmente doente e por isso precisa sugá-lo,  privando-lhe aos poucos de ser feliz e de acreditar em si, até que chega o momento em que você se perde de si mesmo e passa a ser somente a sombra dele. 
Mas, em um momento qualquer, essa relação frágil como um castelo de areia, será varrida ou porque você cansou de fazer o que não acredita ou porque entendeu que não há culpas e não quer mais padecer à margem da vida. Quem estava manipulando vai espernear, odiar, gritar e... Se libertar, porque nesse tipo de relação todos são vítimas, todos encontram-se exaustos e todos recobram a paz quando podem ir ao encontro de emoções verdadeiras, sempre libertadoras.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Emoção e razão


Eu percebo o mundo através das pessoas e das palavras, preferencialmente pessoas e palavras que sejam desconcertantes, pois é essa imprecisão que me fascina.
Cada vez sei um pouco menos, e quanto menos sei, mais busco e quanto mais busco menos certezas me permito. Essa falta de completude me move. Agarro-me ao conhecimento com todos os meus sentidos. Sou obcecada por tudo aquilo que colabora para que eu me torne maior que eu.
Minha vida voltou-se muito para o universo dos relacionamentos. E me surpreendo do quanto esse oceano é como o próprio oceano: incerto e sedutor. Uma forma de tormenta. Que tem pressa.
Geralmente a capacidade de racionalizar é proporcionalmente inversa às delícias de se apaixonar. Não vai aqui nenhum juízo de valor. Até mesmo porque a probabilidade de não sofrer é maior para quem usa o bom senso e a crítica para guiar a expressão emocional. Os menos racionais atiram-se, tropeçam, caem, machucam, mas em compensação... Recebem mais, amam mais e até sonham menos porque se permitem experimentar mais (entenda-se esse experimentar como se aventurar por terras que de fato ofereçam um algo mais).
No amor, quem se guia só pela razão, um dia vai sair em busca do que ninguém poderá devolvê-lo – o tempo que ficou congelado, as emoções não vividas, as luas que não foram olhadas, os abraços que não foram trocados, porque estava pesando e medindo sensações e desejos, com o que lhe era conveniente - por medo ou crença.
“É assim, o tempo: devora tudo pelas beiradinhas, roendo, corroendo, recortando e consumindo. E nada nem ninguém lhe escapará, a não ser que faça dele seu bicho de estimação”.
Eu acredito que o amor é sempre idealizado. É importante saber o que se ama, antes de saber quem se ama, para que quando o objeto desse amor aparecer, você não o permita passar despercebido. Por mais que eu acredite que destino é responsável por trazer na hora certa o amor, ainda acredito que apostar ou não no futuro desse amor é uma escolha a ser feita.
É aquela hora de pesar e medir - Vale à pena investir? É essa pessoa que quero para minha vida? Serei feliz convivendo com seu temperamento, suas posturas, seus valores? A razão redireciona e modifica a expressão das emoções. Não sei se isso engessa a espontaneidade, talvez sim.
Prazer e satisfação são sensações agradáveis, mas tirando essa similaridade, há grande distinção entres esses conceitos – um é só um momento, o outro é uma escolha. Mas para escolher, é preciso se permitir o momento. As emoções são mais rápidas que a razão.
É preciso manter a emoção enquanto ainda se é platéia. Nessa hora é preciso pagar para assistir o primeiro ato. Não sei se é uma escolha inteligente, aliás, nem é uma escolha, é quase um instinto (ou o destino), o ato que leva a subir ao palco.
No momento seguinte é hora de lançar mão da razão. E a partir daí decidir com consciência, se continua ou sai de cena, arcando com todas as dores que isso pode causar. A mesma coragem que é preciso ter para se lançar é preciso ter para se retirar.
Só acho que ninguém deveria se retirar sem antes se lançar. O tempo não perdoa... Melhor o ferimento e suas recordações cheias de vida, do que o vazio repleto da pergunta -“como poderia ter sido”?

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O teste da depressão

Não sei como nem porque aconteceu. Aos poucos, eu que dormia como um anjo passei a dormir cada vez menos. Depois a novela de época exibida às 18hs que eu adorava, deixou de me interessar. Lia a biografia de Che Guevara sofregamente, fechei o livro na metade e não abri mais. Nada prendia minha atenção. Não ligava mais o som quando chegava do trabalho. A palavra concentração evaporou-se do meu vocabulário. Não tinha lugar, nem posição, nem sossego... Eu não cabia mais em mim. Tudo que comia me fazia mal. Parei de comer. Eram duas ou três maçãs ao dia. Repentinamente, eu, naturalista de carteirinha comecei a ir a médico quase diariamente. Sentia tudo de ruim, por dentro e por fora. Por dentro eu sublimei, e por fora me submetia a exames sem fim. E, nada. Quantas vezes saía de madrugada para ir ao hospital... Era uma tortura solitária e que me minava a conta gotas. Olhava para meus filhos com saúde, crescendo lindos, minha casa,  mesa farta, um novo relacionamento que me fazia feliz, e tentava entender aquele sofrimento. Um dia não dormi, veio outro dia e não dormi também, chegou o terceiro e nada. Sentia um sono imenso, mas não desligava “algum botão” em mim. Telefonei para minha mãe, cedi ao comprimido de calmante que me trouxe (nunca havia tomado nada parecido, aliás, não tomava nem remédio para dor de cabeça). Acreditei que fosse desmaiar e dormir por 24hs. Não fez efeito... Às 6 da manhã cai num pranto que durou mais de cinco horas. Desse momento em diante a luz se apagou. 
Eu desaguava ininterruptamente, como se aquela água toda fosse esgotar minha dor. Tinha consciência de tudo e buscava um motivo que justificasse. Não encontrava. E me consumia ainda mais por isso. Dilacerava-me de tanto sofrimento, e não encontrava a razão. Comecei a dormir a noite inteira (no canto da cama da minha mãe) mas, continuava chorando. É incrível a sensação de um mundo preto e branco. De nada ter sentido, de tudo o que “era” deixar de ser. Eu me via no meio no nada. Um vazio sem precedentes. Percebia as pessoas em volta aguardando uma reação e não suportava a expectativa em relação à minha ressurreição. Minha mãe se dedicava incansavelmente, mas não entendia isso. Meu padrasto segurava minha mão e recitava um mantra que iniciou a minha cura “vai passar... vai passar...” e eu me agarrava àquilo como náufrago em alto mar. Passado uns dois meses, senti o paladar de uma torrada e dias depois, me peguei cantarolando enquanto tomava banho. Impossível descrever o que senti nesses dois momentos. Retornava lentamente à vida. Muito tempo depois, um ano talvez, senti forças para me reinventar. Ninguém é o mesmo após tanto sofrimento. Hoje tenho consciência que tive uma... digamos...premonição e foi ela que me levou àquele episódio de depressão; eu sofri antes dos acontecimentos terríveis que me aguardavam à frente. Quando seis anos depois esses tristes acontecimentos invadiram minha vida, privando-me de coisas e pessoas que me eram tão caras,  como se fossem um exército armado até os dentes para me derrubar, eu só balancei... Resisti a um rolo compressor que passou devastando toda a minha estrutura e nem assim, eu perdi o sono ou a esperança. Ao reconstruir-me o fiz em base sólida e com material resistente que provavelmente eu não teria acesso antes de passar pelo doloridíssimo "teste" da depressão. Agradeço a Deus por isso.

domingo, 12 de agosto de 2012

Carta aos ex-pais



Senhores ex-pais,
Sei que existem milhares de pais coitados, viciados, miseráveis, que espancam os filhos. A lei os condena. Mas (quase) não condena pais que como vocês, tornam seus filhos vítimas do abandono afetivo e ainda ferem o princípio da dignidade humana e o princípio da afetividade.
A postura paternal de quem esquece que colocou filhos no mundo é no mínimo, imoral.
Quantos momentos ruins seus filhos passaram, quantas psicólogas, quantas tentativas das mães em minimizar a dor causada por suas irresponsáveis ausências?
Vocês presenciaram seus filhos, já adolescentes, chegando em casa pela primeira vez de madrugada? Vocês conheceram o prazer de, após dias debruçados junto com eles sobre um livro de matemática, vê-los chegar da escola com um sorriso no rosto agradecido por terem recuperado a nota? Vocês nem viram seus filhos tornarem-se adultos! “É porque depois de divórcio tudo fica difícil.” Como assim? Difícil deveria ser dormir tranqüilo depois de abrir mão de ser pai! Divórcio é de marido e esposa, jamais de filhos! Vocês conseguem a proeza de manter por anos a fio, uma relação com seus filhos baseada em parcos telefonemas, um almoço anual e uma pizza semestral para alívio de suas consciências. Vocês certamente tiveram todas as chances de reformular essa fundamental relação pais/filhos, após o divórcio, mas dava trabalho e não dava lucro, então vocês não o fizeram. Vocês não se afastaram dos filhos porque se divorciaram, afastaram por opção. Acredito que no início a ausência da convivência diária, lhes tenha feito sofrer, mas foi mais prático conviver com essa dor do que se estruturar para tê-los perto não é?
É inadmissível que pais possam negligenciar um papel que lhes foi confiado por Deus! Nos finais de semana, feriados, férias, vocês nem cogitaram ficar integralmente com seus filhos, para acordarem juntos, almoçarem, tomarem banho, ver TV, dormir? Não fez falta aquelas mãozinhas no seu pescoço quando eles ainda eram crianças?
Provavelmente de vez em quando tudo isso vá lhes assombrar e quem sabe uma hora vá até lhes consumir... Natais e aniversários, e vocês os pegavam só o tempo de trocar presentes...
Quantas vezes essas mães recorreram a vocês por causa de problemas relacionados aos seus filhos, e vocês reviravam os olhos impacientes – será que ela não percebe que esta me incomodando?
Fácil escrever bilhetes dizendo “papai te ama, nunca se esqueça disso”. Amar os filhos nunca foi suficiente para fazê-los homens de caráter, nem cidadãos responsáveis, para isso é preciso dedicação. E esse dedicação independe do fato de se estar casado ainda com a mãe. Ao separar vocês também deixaram de ser pai. Dormiam ou estavam embriagados enquanto os filhos cresciam.
Certamente vocês vão atingir o grande objetivo de suas vidas – uma velhice abastada e só aí, irão compreender que amor não se compra, pois essas mães que criaram sozinhas os filhos que seriam de vocês dois, certamente estarão com a casa cheia de netos. E vocês?
Não desejo mal a nenhum ser humano, mas para sempre desejarei a todos os pais ausentes que a vida, de alguma forma, lhes faça ter consciência de cada lágrima, cada tristeza, cada decepção, cada frustração, cada sentimento de abandono que causaram aos seus filhos.
E aos pais de verdade, um feliz dia dos pais!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Ciúme


Ciúme é um tema recorrente nos relacionamentos desde os primórdios da humanidade, tendo destaque entre filósofos de todos os séculos, e continua existindo “atavicamente” e sem nenhum tipo de evolução, que não a teórica, em pleno século XXI.
Na peça Otelo, de Shakespeare, há a clássica fala de Iago:
“Oh, tende cuidado com o ciúme. É um monstro de olhos verdes, que zomba da carne de que se alimenta".
Seria ele inerente aos seres humanos, desde a época em que os homens da caverna faziam uso desse sentimento para proteger sua tribo?  Se assim fosse, carregaríamos um sentimento instintivo, remanescente de um período humano praticamente irracional. Revendo... Se racionalidade não é lá o grande destaque em relacionamentos amorosos, pelo menos é preciso um esforço coordenado nesse sentido. Porque destruir a possibilidade de relações saudáveis, chegando ao cúmulo de destruir vidas em nome do ciúme, é inadmissível.
Hoje pela primeira vez tive ciúmes dos olhos do meu primo”. 
Porque eles viram-te e eu não te vi”. 
Confesso-me totalmente parcial quando se trata de Fernando Pessoa, mas essa doçura com que ele se refere ao ciúme está valendo... Sentimento gostoso destinado a quem se quer sempre ao lado para dividir a vida. Ciúme dos olhos que a olham, dos sorrisos que lhe dirigem, das mãos que lhe estendem. Existe esse ciúme que é cuidado e não posse. 
Dizem que sentimentos irracionais fazem sentido quando entendemos o que está por trás deles. O que vemos por trás do ciúme nos relacionamentos amorosos é o medo, real ou irreal, vergonha de se perder o amor da pessoa amada, falta de confiança no outro e/ou em si mesmo. Esses sentimentos podem estar embasados em alguma coisa real, como já ter sido traído por exemplo. Mas racionalmente, nada justifica esse sentimento. Pois senti-lo, não modifica os fatos - se tiver que ser traído, será, se tiver que ser abandonado, será, se tiver que ser trocado pelo seu melhor amigo, será. Sentir ciúme não tem utilidade nenhuma. Não ajuda, não previne, não defende, e, quando é exagerado, pode tornar-se patológico e transformar-se em uma obsessão.
Eu acreditei que não fosse ciumenta, mas sou. Ainda assim não me conformo em sê-lo, pelo simples fato de eu ser tão consciente acerca da total incoerência desse sentimento. É a irracionalidade do amor.
Diz Rubem Alves que "O ciúme é aquela dor que dá quando percebemos que a pessoa amada pode ser feliz sem a gente". Enfim, ciúme resume-se em desejar a posse absoluta do outro. Não basta se saber amado. Busca-se a garantia ilusória de que aquela pessoa nasceu a partir do momento em que te conheceu - não tem passado para recordar, e nem futuro para almejar, que não a sentença de viver com você e para você. 
Como a vida nunca nos dá garantia, tudo isso é absolutamente em vão. 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Testando a minha humildade


A humildade está entre as qualidades humanas que mais me encanta, por isso mesmo busco cultivá-la desde o primeiro minuto que acordo. Confesso que nunca havia sido difícil para mim, talvez por tanto tempo de treino, talvez por temperamento. Mas falar é fácil,  difícil é quando a vida te coloca de frente com tudo o que você sempre jurou não aturar: mentira, traição... por uma vez, por duas vezes, por três vezes. E aí, você é instada a provar sua humildade com o cuidado de não confundi-la com falta de iniciativa e coragem. É chegado o momento de pensar em outras pessoas que merecem esse ato de humildade. Como dizem "pelos anjos, beijamos pedras", e sempre temos anjos perto de nós.
Mas o fato é, que apesar de estar conscientemente exercitando minha humildade, me peguei hoje com uma imensa sensação de que sou melhor do que muitas pessoas que fizeram ou fazem parte da minha história, e de outras que cruzaram meu caminho sem minha autorização, e que fui obrigada a engolir, estejam longe ou perto. Ao perceber esse sentimento que se apossou de mim, achei que merecia punição. Então, peguei o carro e saí por aí para pensar. Pensei, repensei, revivi coisas, pessoas e momentos e ao invés das dezenas de chibatadas que acreditei merecer pela minha falta de humildade, decidi que merecia um belo sorvete. Busco a consciência de minhas faltas, e geralmente consigo, talvez devido aos anos de análise, reiki, meditação. Claro que isso não minimiza as mágoas que causei ou as injustiças que cometi, mas me protege de um grave erro, comum a quem falha: a inconsciência do erro.
Ainda acredito que a honestidade maior precisa ser antes de tudo, consigo mesmo. Muitas vezes não consegui e sabendo disso,  sofria ainda mais. Como sempre digo por aqui, jamais podemos tirar das pessoas que nos cercam o direito de escolher se querem ou não compartilhar a vida ao nosso lado - sejam essas amigos, parceiros, filhos, pais. Não é fácil ser verdadeiro o tempo todo, mas é vital para construir e manter relações de confiança. Nunca tive tanta certeza disso. Hoje tenho. E sei o que eu preciso fazer e o que quero que façam para construir histórias em terrenos firmes. É assim a vida, a gente cai ou é derrubada, e enquanto está lá no chão pode ficar maldizendo a sorte ou repensando o tombo. Eu preferi a segunda opção.
Não sigo religiões, apesar de buscar incansavelmente desenvolver minha espiritualidade, mas nem assim, me escondo atrás de Deus e Suas "normas" para decidir qual o erro mais ou menos grave que posso cometer  sem correr o risco de me deparar com a porta do reino dos céus fechada para mim. Vamos abandonar a velha e cômoda hipocrisia. É preciso coragem para viver e se assumir,  e nunca é tarde para começar a desenvolver em si, um ser humano melhor.
Fico com Drummond:  
"Quando nasci, um anjo torto desses 
que vivem na sombra 
disse: Vai!"

domingo, 5 de agosto de 2012

"Tudo muda o tempo todo no mundo"


O tempo é relativo. 
Às vezes é amigo, às vezes é cruel. 
Lembrei-me de um namorado que tive dos 15 aos 18 anos. Terminamos o namoro antes do natal. Desgaste dos anos, descompasso de projetos futuros. Nenhum motivo concreto no qual eu pudesse me agarrar e dizer "pois é seu traidor, fiquei livre de você". Nada de ruim. Nenhuma acusação. Nenhuma mágoa. Cada pedaço de mim guardava a presença dele. Todas as roupas do armário, a almofada na cama, o urso de pelúcia na estante, os milhares de retratos - na praia, no campo, em casa, nos aniversários, nas festas.
Foram três natais, três réveillons, três aniversários, uma formatura, um vestibular. Como pedir que ele desse licença desses lugares todos? Jogando as roupas fora? Doando as almofadas e ursinhos de pelúcia? Rasgando fotos? E fazer o que com as lembranças que estavam na minha cabeça e no meu coração? Como foi difícil, meu Deus! Achei que fosse morrer, não morri. Achei que nunca mais encontraria alguém tão especial quanto ele, encontrei. Achei que quando tivesse no altar trocando alianças, me lembraria dele, não lembrei. Achei que quando meu primeiro filho nascesse, colocaria o nome que tantas vezes escolhemos juntos, não coloquei. Achei que jamais sentiria prazer com outro, senti. E assim, hoje ele é apenas uma doce lembrança. Muitas vezes percebo que meus 40 anos, querem desrespeitar os meus 20, minimizando aqueles sofrimentos, como se tudo fosse uma grande bobagem. Mas não permito. Todas essas lembranças, boas e ruins, foram muito importantes. Cada uma delas sou eu. Nada nem ninguém foi mais como antes. Nunca é. E nem será. A vida voa, e as pessoas tentam acompanhar.
Hoje estou em um dia ruim, focada em separações. Tentado dar cor a um cenário cinzento.
Não vale à pena manter relações pretas e brancas. Vida é cor.  É preciso ter bem definido dentro de nós mesmos o que queremos e o que merecemos. Esse é o termômetro de nossa felicidade. Para ser feliz é preciso antes de tudo, coragem. Para viver bem é essencial não temer as inevitáveis despedidas. 
Como filosoficamente canta Lulu Santos: "Tudo muda o tempo todo no mundo".

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Vontade de entender...


Hoje acordei com uma vontade imensa de entender...
Porque o tempo leva com ele nossos porquês?
(aquela criança que tanto perguntava, se cansou?) 
Porque seguramos o choro quando crescemos?
(aprendemos que é feio chorar... e quem disse que tem que ser bonito para ser feito?)
Porque não sentamos com aquela naturalidade de sol nascendo nos colos de outrora?
(estão frágeis para nos agüentar, ou estamos tão fortes que não precisamos deles?)
Porque somos cordiais e amáveis com quem não escolhemos?
(finalmente o mundo nos convenceu que para conviver é preciso fingir? )
Porque perdemos a coragem de olhar os mendigos de rua?
(foi mais cômodo passar a enxergá-los como parte integrante da paisagem feia?)
Porque tememos tanto o que nos aguarda na próxima curva?
(será que ainda temos aquele medo infantil do escuro?)
Em que momento optamos por olhar primeiro o que está fora para só depois dar chance ao que está dentro?  
Quando a vida deixou de ser contornada livremente por lápis de cor e ganhou molduras pesadas?
Quando abandonamos as fadas pelos seres humanos?
Cadê aquela solidão não tão solitária...
Para onde foi nosso fiel amigo imaginário...
Porque a solidão virou solidão?
E os amigos de carne e osso, nem sempre foram tão fiéis?
Em que momento Papai do Céu virou Deus?
Anjo da guarda tornou-se um porte de arma?
Papai Noel virou dinheiro?
Porque não conseguimos seguir um velho conselho e endurecer sem perder a ternura?

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