O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

terça-feira, 30 de abril de 2013

A vida imita a arte

Continuando com as novelas, ainda me surpreendo com a propagação do "vale tudo por amor". Ou melhor com o "vale tudo para se conquistar ou reconquistar um amor". Está no ar, em rede nacional,  uma mulher que simula uma agressão física levando o "objeto" amado aos tribunais, e um belíssimo homem que arma uma cilada para seu amigo de infância, condenando-o à prisão por 7 anos. No primeiro caso foi uma vingança pelo amor não correspondido, no segundo, uma armação para  conquistar a mulher amada por ambos.
Partindo do pressuposto de que a vida imita a arte, certamente isso existe em larga escala por aí. 
Há uma dose de loucura providencial ao amor. Quebramos regras e dogmas. Revemos conceitos e certezas. Rompemos barreiras geográficas, culturais, sócio econômicas, religiosas. Mas não podemos invadir. Para sempre haverá um espaço que é meu, para sempre haverá o espaço do outro. Eu não passei a existir a partir do encontro com esse outro que amo. A existência do outro não se deu a partir da descoberta do seu amor por mim. Há histórias anteriores a esse encontro. Há personagens mais antigos no enredo que merecem consideração. Não há justificativa possível para o desrespeito.  Até entre facções existe uma ética particular e, mesmo que sejam altamente questionáveis (e são) o fato é que existe um código de conduta. Na guerra todos conhecem as armas, conhecem o inimigo, o campo de batalha. Mas quando a luta é pela obtenção do ser amado é um vale tudo. Sem regras. Com armas de efeitos devastadores, usadas em campos desconhecidos, por um inimigo completamente disfarçado até o momento do ataque. Manipulação, mentira, armações e armadilhas. Um está desavisado e o outro o pega pelas costas, sem o mínimo pudor, afinal, "é por amor". Eu já fui vítima dessa guerra sem jamais ter participado dela. Fui pega sorrateiramente, enquanto estava distraída, olhando a lua, como todo apaixonado. Nunca entendi. Nunca revidei. Nunca me prestei a esse papel porque esse ato insano de "salvar o amor" a todo custo, só ocorre porque já se está insano, a ponto de não mais amar a si próprio. E, convenhamos, ninguém salva o amor, ninguém perde o amor, ninguém conquista o amor. No amor se ama e é amado. Fim. Para mim fica essa lição.
Não há armas no amor, um lado pode armar seu ataque com um canhão e não passar nem de raspão. Desperdiçando munição, sem jamais acertar o alvo.  Enquanto o outro lado, pode acertar a alma e coração, apenas com a sua existência.
Não creio jamais que exista qualquer luta em nome do amor. E se há, são todas inglórias. Basta ver o desfecho nas novelas, nos filmes, nos contos de fada, nos romances e... na vida real.
Por um amor a gente faz poesia, compõe música, planta lindos jardins. Mas essa consciência é só para os sãos, para os obsessivos sempre valerá tudo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ainda bem que nesse caso há escolha


Na sala de espera do laboratório encontrei com uma amiga da época de faculdade. Bastou meu caloroso "oi", feliz em revê-la, para que ela começasse a chorar. Aquele choro que é impossível de controlar, costumo dizer que é um tipo que vaza. E me maltrata. Conheço tão bem sua dimensão.
Há 3 anos, casamento em crise, propôs o divórcio ao marido, que negou, pedindo-lhe uma chance. Apaixonada acreditou na promessa de uma nova vida. Abraçou com ele as reuniões do AA, suportou a ex amante que, inconformada com o fim, invadia sua vida de forma doentia. Durante esse processo de reconstrução ele teve recaídas - bebeu, dormiu fora de casa, foi visto com mulheres. Mais de uma vez ela voltou a propor-lhe a separação. Ele voltava a chorar, ajoelhar, implorar. Ela, então, ficava. Afinal ele jurava lhe amar, e só precisava largar a bebida, abandonar "aqueles" amigos, e, quem sabe, frequentar uma Igreja. Aos poucos ela ia perdendo sua paz, adotando atitudes antes desconhecidas para uma pessoa segura, inteligente, de bom senso e sobriedade. Passou a vigiar tudo que o cercava. Pagava por fora a secretária dele para obter informações. Pediu licença do seu emprego para lhe buscar todos os dias no final do expediente. Vasculhava celular, roupa, carteira. Perdia horas ao seu lado, enquanto ele, na internet, ela fingia ler um livro que nunca saiu da mesma página, olhando-o na tentativa de decifrar sua fisionomia, e por vezes seguidas, se aproximava de surpresa para ver onde ele estava navegando. Enfim, abandonou sua vida na esperança de uma vida com ele. Perdeu seu rumo para seguir o rumo dele. Um dia ela recebeu um telefonema com insinuações sobre seus casos extra conjugais, como acontecia tantas vezes. Mas diferente das outras vezes, onde ela lhe interrogava e ele negava fazendo uso de argumentos muito bem embasados e convincentes, não lhe perguntou nada. Foi direto à fonte e descobriu que depois de ajuda-lo a largar a bebida (completara 2 anos limpo), a reconstruir sua autoestima, a se integrar socialmente, ele estava de caso com a advogada da empresa onde trabalhava. Nada me surpreendeu o fato dela me dizer que ele ainda negou.
Completava 3 semanas de separação. A dor dela era contagiante. Saímos dali para minha casa. Fiz força até onde pude para me emocionar só por dentro, mas confesso que também "vazei". Ao invés de ficar triste comigo, fiquei feliz. Ando preocupada com a frieza do mundo. Temo um dia não me consternar mais com a dor do meu semelhante. Rudeza me assusta. Preciso acreditar que sempre haverão pessoas solidárias, que enxugam lágrimas alheias. Gosto da ternura.
Depois de um tempo de conversa ela disse "percebi que não sinto falta dele... nem do seu cheiro, nem da sua voz, nem do dia a dia ao seu lado". Questionei-a então sobre o motivo de tanta dor ao que ele me disse "ele me enganou, jurou me amar, era consciente do tanto que suportei para permanecer ao lado dele, quando desconfiada, perguntava se tinha outra, ele negava e nunca vou perdoá-lo por isso". Nem um minuto ela disse sobre a dor de ver encerrado aquele projeto de vida a dois. Ela não falou da falta. Nem de ausência. Não falou de amor. E pude perceber mais uma vez que nosso mal, de todos nós, é o ego. Quem chorava era seu amor próprio e não seu amor perdido... Ela chorava porque ele prometeu e não cumpriu, e eu entendo, mas usando a razão, ninguém pode prometer nada quando o assunto é amor. Promessa é algo racional. Amor é irracional. A dor dela passava longe de ser uma dor de amor... Ela já andava há muito decepcionada, desiludida, descrente. Consegui fazê-la perceber que ela estava aliviada com aquele final, enquanto ela batia na mesma tecla - "Mas ele prometeu que ficaríamos juntos, ele jurou que me amava! Ele tinha que cumprir!" Coração não cumpre nada... coração só sente.
E volto a questão do apego, da posse, do domínio sobre o outro... Todos sofremos por amor, mas é uma dor sacralizada. Arrisco a dizer que é até bonita. Sofre-se com a aceitação inerente ao sentimento de amor, tudo fica mais leve, até que passe ou ache um abrigo do lado de dentro. Mas a dor da perda é profana, é feia, é revoltante, tudo fica pesado e não passa, porque é um sofrimento amarrado, lacrado, renitente... todos ficam prisioneiros, e se não ficar muito atento, pode-se ficar nessa prisão eternamente. Ainda bem que nesse caso há escolha.

sábado, 27 de abril de 2013

Zyah, Ayla, (eu não!) e você?

Não costumo ver novelas, por falta de tempo aliado ao fato de considerar, ao lado de uma minoria, um entretenimento de baixa qualidade. Mas, ainda assim, quase todos acabamos parando em frente a TV e assistindo um capítulo aqui, outro lá, e, como defendo que de (quase) tudo, tiramos uma lição, é válido. Disse o jornalista H.L. Mencken, em um cinismo providencial que "Ninguém nunca perdeu dinheiro por subestimar a inteligência do grande público". Pois é... Caso a se pensar.
Bom, o fato é que dia desses, assisti uma parte da novela e me deparei com a cena protagonizada pelo triângulo amoroso do charmosérrimo Zyah, com as belas Ayla e Cléo Pires (de quem esqueci o nome da personagem). Ele é casado com Ayla, por quem sente respeito, carinho, amizade e uma imensa culpa que lhe impossibilita de largá-la para vivenciar seu amor. A esposa sempre desconfiou do sentimento do marido pela "estrangeira"(como se refere a ela), e vive dia a dia atormentada pela desconfiança,  insegura por causa do ciúme, esquecendo-se que há enorme diferença entre o que recebe e o que merece receber. No capítulo que vi, ela flagra o marido com a outra, em uma linda cena de amor, entrega, felicidade entre o dois, obtendo, finalmente, a confirmação de sua desconfiança. Foi embora para casa, e junto com a família, decide fingir que nada aconteceu no intuito de preservar seu casamento, perdendo-se de si mesma. Quando o marido chegou dizendo que precisavam conversar (obviamente decidido a separar-se dela) ela rebateu dizendo qualquer coisa que o  lembrou de sua amorosa dedicação como esposa, calando-o pelo sentimento de culpa, gratidão, piedade. (Como um ser humano pode se submeter ao desamor?)
Passando do particular para o geral que fazemos quando generalizamos ou fazemos predições, há mulheres que fazem isso com tanta competência que os "algemados parceiros", sequer percebem que passaram de lobos a cordeiros. Mas, como o amor e o desejo costumam ter a força de um vulcão, certamente eles não deixarão de viver essa outra relação, mesmo que na clandestinidade. E dá-lhe sofismos e ilusões, que, diga-se de passagem, foram solicitados pelas próprias "parceiras oficiais" destes, que mesmo cientes de não mais serem amadas, contentam-se com a posse do "objeto" do seu desejo. E no final, caímos no ceticismo feminino de que homem é tudo igual...  
É aquela sábia frase - "Há pessoas que armam a tempestade e, depois, reclamam quando a chuva caí". É por aí...
Eu fico indignada! 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

"Escrevo para não deixar passar..."


Escrever para mim sempre foi um transbordar. Posso escrever sobre a Capadócia, onde nunca estive ou sobre o Modernismo sobre o qual apenas estudei, e minhas palavras estarão, invariavelmente, traduzindo um tanto de mim. E, diga-se de passagem, me salvando de uma loucura maior... Desde muito cedo encontrei no hábito da leitura uma forma de abstrair-me daquele "entorno de mim" tão maluco. E o ato de escrever passou a ser um processo de cura, onde invariavelmente eu atirava no papel todos os sentimentos (nocivos ou não) que me entorpeciam e que, muitas vezes, cri , me levariam a um estado irreversível de insanidade. Deu certo. Nos momentos mais conturbados da minha vida, posso não encontrar tempo para caminhar ou para meditar, mas ficar sem escrever me é impossível...Na maioria das vezes, nem posto por absoluta falta de tempo de criar título, corrigir, formatar, colocar imagem. 
Escrever é a minha mais poderosa oração.
Hoje acordei muito cedo com a certeza de que seria realmente impossível escrever. Ando em um período onde um dia se dissolve em minha frente, como acontecem com as horas quando estamos ao lado de quem amamos.
"Coisas demais e tempo de menos" me assolam ultimamente. Mãe doente, viagem quase diária de 110 Km ida e volta, aulas, escola, monografia, e uma Filosofia da Religião que tem tirado minhas poucas horas de sono, repensando fé, Deus, religiões. Enfim, para completar tudo isso, hoje minha afilhada faz 10 anos. Uma menina doce, que enfrenta de forma aguerrida a separação dos pais, o retorno para a casa dos avós, um doloroso tratamento hormonal. A mãe exausta de muito mais coisas do que simplesmente o trabalho diário, decidiu que não faria nada para ela. Lembrei da minha infância e dos meus aniversários onde não tenho na memória, nenhum envolvimento afetivo dos que me cercavam nos preparativos das minhas festas. Era tudo impessoal. Só eu sei o quanto isso me perturbava.
Não poderia deixar que ela completasse uma década de vida sem uma vela, sem uma foto, sem nenhuma simbologia. E, na contramão do tempo, fiz o cachorro quente, o brigadeiro, o bolo e ainda soprei bolas. (E... ainda estou aqui, escrevendo). Liguei para ela e avisei. Daí a pouco ela chegou toda feliz e me entregou uma folha de papel em branco e uma caneta e disse: "Dinda, vim te ajudar porque se você ficar fazendo tudo sozinha não vai dar tempo de você escrever nada para mim e aí eu vou ter que passar mais um ano lendo toda noite o que você escreveu para mim nos meus outros aniversários".  Mais uma que encontra a cura na força das letras e que, estava mais ansiosa com o que eu escreveria para ela, que seria, provavelmente, também sua oração, sua força para transformações, e seu combustível do que com o bolo, o brigadeiro, o cachorro quente e as bolas...
Como disse Priscila Rodê:
"Escrevo pra não deixar passar,
pra guardar sorrisos e mudar caminhos.
Escrevo pra (você) não esquecer quanto tempo faz."

terça-feira, 23 de abril de 2013

O renascer diário

Cada novo dia traz em si latentes possibilidades.  
Dormir é uma pausa, momento de recompor energias, uma forma de “não pensar conscientemente” porque inconscientemente, os sonhos que o digam! Quando você dorme, encerra um dia de vida – bom ou ruim, já sabendo que ao acordar, outra jornada se iniciará, com outras oportunidades e novos aprendizados.
Mas é verdade que tantas vezes o dia amanhece e a noite permanece lá, teimando em não dar chance para o dia nascer dentro de mim. Eu desperto e não abro o olho, a garganta fecha, o coração aperta e a vontade é que o mundo não me espere, e me deixe ficar quieta. É um luto interno, solitário, ninguém vai me abraçar, os amigos não virão para ficar ao meu lado enquanto enterro alguém. Enterrarei sozinha - sonhos, pessoas, desejos. A vida congela e por mais que eu cumpra o ritual diário, metade de mim não está ali. E quando a noite finalmente chega, me dou conta de que aquele dia nem amanheceu ainda dentro de mim.  
Vivemos tão ligados no automático que nem notamos a grandeza dessa cadência perfeita de dormir/ acordar diário que corresponde ao  desencarnar de uma vida e reencarnar em outra.  Aquele novo dia que começa, é uma nova chance que possibilita, ou mais que  possibilita, te convida a  fazer algumas escolhas.
Hoje eu amanheci fazendo a minha escolha. Acordei com uma sensação de noite eterna dentro de mim. Olhei em volta e não vi chão nem paredes. Novamente me senti em queda livre. Fechei a janela, os olhos, e o meu coração e voltei para cama. Mas e aí? O dia que acenava na minha janela era meu. Não sou vítima de  ninguém, portanto não tenho como culpar terceiros. Ou dramatizo sobre uma inevitável constatação e perco tempo e vida, ou reajo.  Tinha uma escolha a fazer - jogaria um dia fora? Levantei, abri a janela, os olhos e o coração. O céu sem uma nuvem me inundou com seu azul e aceitei o convite para o dia.  Afinal...  "é tudo como tem que ser" e fui repetindo como um mantra a mim mesma, enquanto calçava o tênis da corrida, enquanto preparava a coalhada com granola, enquanto descia as escadas de casa, enquanto corria os primeiros minutos. Em segundos a angústia deu lugar a paz. E eu abençoo, mais uma vez, minha resiliência. 
O homem jamais deveria se permitir despertar para um novo dia como se fosse um ser irracional que levanta e vai, sem saber para onde e nem por que. É imprescindível refletir a respeito daquela “nova vida” de 24 horas, com seus desafios e surpresas, sejam eles, positivos ou negativos. É preciso coragem para olhar e ver. A postura adotada frente àquilo que vem ao seu encontro é que vai fazer toda a diferença. Nunca haverá culpa e culpados, nunca haverá vítimas e algozes, nunca haverá a bela e a fera, porque em algum momento todos que são feras, serão belas e vice e versa. A vida é uma troca, o tempo todo... hoje eu troquei com o céu azul, todo dia trocamos com as pessoas, sempre daremos algo, sempre ficará um pouco do outro em nós. É preciso desprendimento para entender que está tudo absurdamente organizado no universo e nada jamais sairá fora do lugar. E essa inquestionável verdade conforta uns, mas desespera aqueles que acreditam que podem sempre. Não podem. É preciso abrir as mãos e o coração para receber aquilo que já está destinado a você. É na não vontade e no desapego que tudo acontece.
Existem pessoas que olham para o dia chuvoso e “rosnam”, outras aproveitam para fazer poesia enquanto aguardam a roupa secar.



domingo, 21 de abril de 2013

Amor amigo



Porque os relacionamentos de amizade são mais estáveis que os relacionamentos de amor? Quantas vezes pensei e ponderei a esse respeito. Raramente as amizades verdadeiras terminam em "divórcio", quase sempre se perpetuam, e o casal de amigos envelhece junto.
Parceria de amor deveria ser tão ou mais forte que a de amigos. Mas não é. Penso que é porque existem amores que não são tão tamigos, enquanto amigos sempre são amores.  
A experiência que só o tempo trás, me permitiu algumas constatações.
Para começar, amigos criam laços mas não se acorrentam. Amigos não se sentem proprietários um do outro. Amigos não pedem garantias. Amigos não se cobram por telefonemas que não foram dados, não exigem do outro mais do que eles querem dar. Amigos simplificam a relação. Sabem-se especiais. São seguros quanto ao afeto do outro. Amigos podem ficar à vontade para errar, não temem julgamento, pois sabem que aquela amizade não está condicionada aos seus acertos. Formam um casal de duas pessoas livres. 
Relacionamentos amorosos, são um convite a perda da identidade. Para ser feliz é preciso tornar-se um só, acatando ou refutando de forma uníssona o mundo. Despersonificando, tolhendo, calando o outro, em prol da vida a dois. Nesse tipo de relação, ambos coisificam-se, e terminam por ter ali, a seu lado, uma extensão de seus projetos e não um ser humano.
Quer ver uma coisa? Amigos somam as economias para aquela viagem programada, já o casal, ele banca. Tem o mesmo gosto? Amigos dividem os pesos, enquanto o casal quase sempre o peso fica com um só. Vira obrigação, acomodação. Ele ganha bem? Então ela não precisa lutar para melhorar. Amigos torcem para que o outro se supere cada vez mais. Casais se acomodam, amigos se encorajam.
Amigos não fingem gostar do que não gostam, nem mesmo da mãe do outro. "Tenha paciência com a sua mãe, vamos levá-la conosco para tomar um sorteve." E a mãe passa a amar aquela amiga do filho como se fosse filha. Não deveria ser assim com a nora? Mas quase nunca é... Porque nos relacionamento a dois há disputa, posse, egoismo. As mulheres especialmente, simulam a ponto de perderem-se de si mesmas.
Nas relações de amizade, quando um erra corre para o colo do outro, sabendo que será acolhido. Nas relações de amor, quando um erra, corre para longe do outro temendo julgamentos. Amigos dividem o outro com o mundo. Amores querem a posse do outro só para si. Na amizade há concessão, não sacrifícios, como no amor.
Amigos amam, sem antes antever o que será do outro, futuramente. Amam enquanto o outro ainda está atrás dos bastidores, sem nem se importar se um dia,  subirá ao palco. Amam aquela pessoa torta, errada, defeituosa. Amores escolhem. Amigos acolhem. Amores pedem promessas que quando não cumpridas dão ao outro o direito de se vitimizar, imputando culpa e remorso naquele que dizem amar. Amigos não. Prometeu e não cumpriu? "Não tem importância... na próxima vez você faz melhor."
Seria tão mais fácil se soubéssemos amar a dois, do modo como fazem os amigos.
Confesso que eu sei.
A diferença fundamental entre esses dois tipos de casais é o desejo sexual porque amigos, não se sentem atraídos fisicamente. E, se por acaso sentem, invistam!
Enfim, viver um relacionamento a dois, com seu melhor amigo, certamente é o paraíso, mas  fazer do seu amor o seu melhor amigo é um empreendimento difícil para grande a maioria, porque quem ama automaticamente acorrenta o outro, tabulando antes de uma relação de afeto, uma relação de medo e culpa. 
"Para amar é preciso transbordar de amor e para compartilhar é preciso ter amor. Quem se relaciona, respeita e não possui." Osho

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Cardápio de amor na internet


Li hoje uma reportagem sobre o promissor mercado de sites de relacionamento que está por aí, a serviço do amor. Eu sou sabidamente uma defensora dos relacionamentos virtuais, primeiramente por uma questão pessoal, já que amo antes de tudo, aquela famosa "beleza interior", e depois por uma questão prática e geográfica, já que abrange um leque maior de possibilidades.
Mas percebo que esses sites já embarcaram nessa ignóbil "viagem capitalista", e no afã de atrair mais clientes,  vão criando compulsivamente serviços diferenciados, perdendo sua mais nobre função - a possibilidade de reconhecer-se no outro, antes de conhecê-lo em detalhes. Racionalizando, enquadrando, objetivando o que deveria ser apenas sentido.  Os sites hoje, são verdadeiras vitrines humanas. Os candidatos passam por uma profunda anamnese onde nem mesmo aquela tatuagem feita na adolescência, escapa. Oferecem um minucioso cardápio onde é você mesmo quem monta cada item que deve compor a pessoa que você desejaria amar. Pode isso? Pode, aliás tudo pode, mas perdeu o significante e o significado. Tornou a busca vazia. Assassinou o sentido, literalmente. 
Cor do cabelo, peso, altura, renda mensal, cor da pele, religião, preferência musical... Tudo lá à disposição. Basta escolher. Um convite ao preconceito. Eu já não seria mais candidata a esses sites, porque a única coisa que tem o poder de me conquistar  não tem cor, não tem sexo, não tem peso, nem altura... é a alma. A sensibilidade, por exemplo, que eu poderia expressar em uma frase escrita durante um bate papo,   nunca iria ocorrer caso o candidato em questão, tivesse optado por uma mulher sem tatuagem. Na contra mão do que é objetivado, esse  rol imenso de possibilidades, impossibilita o verdadeiro encontro. É vedado o reconhecimento. E porque aquela pessoa não tem o mestrado exigido no seu cardápio você perde de conhecer uma alma nobre. E porque o outro não tem a renda mensal que você quer que ela tenha, você perde de conhecer um ser humano inteiro.
Em meio a tantas exigências você está  se fechando  dentro de seus próprios dogmas e crenças, ou seja, rodando em círculo. Buscando semelhança em excesso e abrindo mão do grande aprendizado contido nas diferenças. Um atraso na evolução de todos nós. Você se protege e deixa de experimentar. 
Sem contar que você poderá ser privada de descobrir que por trás daquela pessoa misteriosa está um ser humano nobre, que em detrimento de tantas diferenças entre vocês, socorre cachorros que vivem sobre uma laje quente. E mesmo que tudo dê errado, o que vale é olhar para trás e certificar que de tudo, fica uma história que enriquece a vida. Dor de amor, todos vamos passar. Decepções, frustrações, mágoas todos estamos sujeitos, mas o que vale é o que ficou de belo e verdadeiro, daquilo que não pode mais ficar. 
"Eu quero amor feinho.

Amor feinho não olha um pro outro.

Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais." (Adelia Prado)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quando a chave gira



Um dos grandes aprendizados da minha vida é conviver bem com as diferenças. Respeitá-las é algo inegociável no meu mundo. Gostando ou não, respeito e ponto final.
Mas tenho algumas dificuldades extremas que por vezes passeiam dentro de mim. Ficam latentes, e eu luto até onde posso para que permaneçam assim. Não gostaria, impotente, de presenciá-las jorrar em direção ao outro. Pertenço ao time que acha que desculpas devem ser evitadas, portanto prezo o fato de não precisar pedi-las a ninguém (mas nem sempre obtenho êxito, claro). Geralmente não me permito aquele “momento estrela” onde jorra falta de educação para todo lado, prefiro sempre, sair de cena.
Não sirvo de exemplo para muita coisa, mas sem falsa modéstia, gostaria de ter a mim mesmo como amiga. Tenho imenso prazer em exercer essa função. E o que é feito com prazer, costuma ser eficiente. Perco noite de sono ao lado, ando a pé do Oiapoque ao Chuí, seguro firme na mão quando o mundo inteiro já virou as costas. Amores meus não ficam só. Jamais. E, entendendo que relação de amor é, antes de tudo, uma relação de amizade, estendo isso aos meus relacionamentos afetivos. Deixo qualquer coisa para estar ao lado. Posso negar o convite para uma festa, mas jamais para um dia cinzento.
Não é tão fácil encontrar quem chore junto.
Mas a mesma ênfase que dou ao reconhecer em mim uma qualidade, repito ao reconhecer em mim um defeito. Quando uma chave indecifrável gira dentro de mim, pum! Morre a pessoa, protagonista daquela amizade e/ou daquele amor, ainda que permaneçam em mim, os sentimentos. Com a mesma intensidade com que viveu em mim, deixa de viver. Como gostaria de compreender o que acontece dentro do meu coração... Mas não consigo! O que aciona essa chave? Desconfio de algumas coisas, mas não sei ao certo.
Só permaneço incondicionalmente ao lado, quando algum tipo de fagulha do sentimento alheio, ainda chega até mim, pode estar fraca e esporádica, mas sou capaz de sentir se é verdadeira. Se for, não desisto nunca. Sentimentos não se comparam, não existe "toma lá, dá cá", mas existe algo que, também não sei explicar, é imprescindível para nutrir a história e seus protagonistas. Quando não há, definha-se
Algumas vezes aconteceu essa morte. Eu nem percebi... Decepcionei-me (e também não sei dizer porque) uma vez, duas, na terceira, tudo – a situação e a pessoa - já me ficaram indiferentes. Não pensei mais no assunto. E quando um dia o encontrei, já era um estranho para mim. Conversou, me buscou de todas as formas. Foi em vão... Eu tentei, briguei comigo mesmo, lutei contra a chave, quis deixar tudo de lado e recomeçar, mas já era tarde. O sentimento ainda estava ali, só que passou a ser  impessoal. Passara a ser, digamos, coisa minha. Só minha. Do fundo do coração, eu não queria que fosse assim. Mas é involuntário.
Sou incapaz de desejar qualquer coisa de ruim à pessoa em questão, primeiro porque não consigo mesmo desejar mal ao meu semelhante, e segundo porque desejar é um verbo que pede complemento - “quem deseja, deseja algo a alguém” e esse alguém, simplesmente passa a ser sujeito inexistente, por mais que eu lute e sofra por tudo isso, que apesar de  ser tão meu é, ao mesmo tempo, tão inerente à minha vontade.
Perdoar é fácil. Louco de quem se acha no direito de não perdoar. Aliás não me refiro aqui a culpas, julgamentos e absolvições, afinal, quem sou eu para tanto? Só me refiro  mesmo a essa maldita chave que gira, e faz esse "algo" acontecer dentro de mim eliminando pessoas, sem que eu tenha sequer tempo de decidir se é isso que quero ou não.  

quarta-feira, 10 de abril de 2013

"A hora do sim é um descuido do não"

"Tem mulher que dispensa o cara da musica do Roberto Carlos, pra ficar com o cara das musica do Mr. Catra..."
Achei graça quando me deparei com essa frase no facebook, e, jogando para o alto qualquer filosofia, é isso mesmo que acontece muitas vezes. O cara da música do Roberto Carlos, pensa em você toda hora e ainda te acorda no meio da noite pra dizer que te ama, enquanto o Mr Catra fere toda e qualquer mulher na "cama, mesa e banho". 
Analogias à parte, a verdade é aquela de sempre - não há razão no amor. Quantas vezes temos à nossa porta (para que não dizer aos nossos pés), aquele homem disponível, apaixonado, cavalheiro e você simplesmente diz não, enquanto as amigas ponderam, incansáveis aos seus ouvidos: "Dá uma chance pra ele... Tão boa pessoa, cheio de boas intenções, olha só que gracinha, envia flores, liga para dar bom dia, envia sms de boa noite, manda entregar água de côco na sua casa porque alguém contou que você estava com dengue." E aí passam-se dois meses, três meses, e elas já começam mesmo é a berrar: "Você é burra! Dispensa quem faz tudo por você! Depois não reclama, quando perder vai dar valor!" Quem nunca passou por uma situação dessas?  As amigas, o mundo, todas as constelações, fadas, gnomos e duendes sabem que seria tão mais fácil dar uma chance ao rapaz à la Roberto Carlos, mas quem avisa isso ao coração? Como disse Vinícius de Moraes "A hora do sim é um descuido do não."
E aí você esconde das amigas e do resto do universo que não, definitivamente você não vai dar essa chance, porque... porque... porque... Não há "porque" disponível no mercado para esse tipo de situação. Nada é racional quando o assunto é amor.  Ao coração não importa se há quilômetros de distância, de dificuldades e de impedimentos. Ele segue batendo indiferente  às inerentes complicações de um "amor complicado". Parece que posso vê-lo, calmamente, sentado dentro do peito em uma confortável almofada, "lixando às unhas" enquanto o "circo pega fogo" aqui do lado de fora... Posso ouvir seu pensamento "sinto muito minha querida, amo à priori, ou seja, independente da larga experiência do mundo, amo porque amo, o resto é problema seu." É assim, megalomaníaco e egocêntrico esse coração. Acha que pode tudo, ainda mais quando sente o outro coração do lado de lá na mesma sintonia, e aí... Fazer o que? Há escolha, claro que há. Difícil, mas possível. Diga não, siga a razão e, de quebra ainda terá o cara da música do RC, é só ligar para ele e pedir que venha e...   passar o resto da vida com o coração batendo bem devagar enfadonho dentro do peito. 
Eu preciso de sobressaltos.
Como lindamente escreveu Clarice Lispector: "Mas há a vida que há para ser vivida, há o amor. Há o amor. Que é para ser vivido até a última gota. Sem medo. Não mata."




domingo, 7 de abril de 2013

É preciso dignidade para aceitar que amor não se negocia.


Fui orientar minha afilhada, de 10 anos, a fazer uma poesia cujo tema era "Esperança", e enquanto ia fazendo perguntas acerca do tema para que ela fosse coordenando suas idéias, minha filha, de 8 anos, que ficou ao lado, participando, voltou-se para mim e disse "Mãe, esperança pode ser quando a gente quer que pai da gente não vai embora?" Tive míseros segundos para retornar à Terra e responder-lhe que esperança é esperar algo, já sabendo o quanto é improvável que aconteça. E não tive coragem de lhe dizer que muitas vezes era mesmo impossível que acontecesse, como por exemplo, a volta do pai.
Meu domingo transcorria em paz até o momento em que minha filha sussurrou aos meus ouvidos, seu sofrimento. Se eu não sabia dele? Sim, mas a vida fica mais leve quando não estamos vendo algo que gostaríamos que não acontecesse. 
Isso me remete à minha separação, que esteve perto de uma "hecatombe nuclear". Um casamento de 12 anos e uma filha, frutos de uma relação de cumplicidade, paixão e amizade. Jamais imaginei que isso aconteceria conosco e fui apresentada ao famoso "para sempre, sempre acaba". Me vitimizei ao máximo, dificultando o que já seria naturalmente difícil. Eu não queria me separar. Ele não podia fazer aquilo comigo. E os nossos planos? E eu insistia. E o tanto que você dizia me amar? E ele, penalizado perante minha recusa em aceitar o fim, ficava. A idéia fixa de que não poderíamos nos separar me cegou, e eu sempre tão lúcida e coerente, perdi, por um período, o meu bom senso. E não notava as evidências que caiam à minha frente torrencialmente. Mas como enxergar quando não se quer ver?  E, agarrando ao pouco de lucidez que me restava, eu tentava me convencer de enxergar o óbvio - ele tinha outra. Tudo eram suposições, e ele dizia que me amava, e custei a aceitar que palavras o vento leva... E as atitudes eram absurdamente diferentes daquelas de antes. Eu tinha o parâmetro que precisava - ele não era mais o mesmo - o que mais eu queria? E perguntava se tinha outra mulher e ele negava, claro. E eu via o quanto era difícil para ele. Sim, ele também sofria. Confesso que eu poderia ter facilitado as coisas, afinal, para que torturá-lo com a pergunta: "você ama outra?", se as atitudes dele demonstravam que ele não mais nutria por mim, o amor que afirmava ter? E eu seguia implorando pela confirmação daquilo que, acreditava que seria a minha libertação, em detrimento do inevitável rancor que a seguiria. Um dia, tomei um tombo que teve o poder de me lesionar o pescoço e me sacudir por dentro. Enfim, sai do sono profundo e resolvi abrir meus olhos e ver. Entendi ali o que sempre preguei - não se perde o que não se tem. A dor diminuiu e entendi que meu amor-próprio estava na contra mão da minha insistência por manter aquela relação, a qualquer custo. Tinha virado posse, a posse que tanto abomino. Tirei a máscara, lancei mão da minha frontalidade abafada pelos últimos acontecimentos, sai da postura de vítima e percorri o caminho que me traria a resposta que ele jamais me daria. Sim, ele já amava outra. A raiva foi descomunal, como eu já previa. Eu queria entender em que momento aquilo aconteceu, onde eu tive culpa, o que poderia ter sido feito diferente. Eu o odiei pelas promessas que me fez, pelas juras de amor eternas, pelos planos para nosso futuro, e, por alguns segundos, em meio àquele momento de guerra, vi nos olhos dele a culpa pelo meu sofrimento, e entendi que bastava mais um pouco para que ele ficasse. Mas seria por culpa, não por amor. Confesso que por segundos pensei em aceitar assim mesmo, mas meu amor próprio, minha auto estima, meu respeito pelo amor, e até mesmo minha solidariedade falaram mais alto, afinal, eu queria amor e não piedade, e ele, por sua vez, tinha direito de viver ao lado de quem passara a amar. Seria desumano condená-lo a mim, somente porque um dia ele me fez promessas, que no momento, eram verdadeiras, tanto eram que eu acreditei. 
Mas o tempo passou, a raiva também, amo, sou amada, ele vive seu amor, e a vida segue seu curso normal, sem prisões e nem prisioneiros. Quando olho para trás tenho orgulho de mim, da minha capacidade de superação, de força e coragem, sentimentos essenciais para que eu me libertasse e, conseqüentemente, libertasse o outro. É preciso dignidade para aceitar que amor não se negocia. Eu tive. E é isso que me fortalece ao presenciar a dor da minha filha pela ausência do pai - a certeza de que estava determinado que fosse assim, e me dá serenidade para respondê-la que junto com a esperança, é preciso vir a consciência de que há lugares onde não se cabe o sentimento de esperança, e uma delas é na obtenção ou preservação do amor do outro, pois esse jogo de "sou amada aqui, amo ali, deixei de amar, amei aqui, deixei de ser amada, fui amada lá", faz parte do inegociável destino. Porque amor, esse, jamais se negocia.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

O risco de apostar, de novo, no velho

Eu sou descrente de que possa haver sucesso ao investir, novamente, em um mesmo relacionamento. É uma expectativa ainda maior, e como consequência uma frustração gigantesca. Claro que isso não é impossível, mas acho improvável o recomeço entre casais. Propostas, esperanças e expectativas - o novo dentro do velho. Defendo a busca incansável pela felicidade. Acredito, e muito, que as pessoas mudam, e quando essas não mudam temos a chance de mudar a forma como as enxergamos. Tudo na vida é uma questão de perspectiva. Casais que não deram certo podem e devem se dar a chance de um novo começo, só que com outros parceiros. 
Se hipoteticamente ocorresse uma transformação de 180º, mais que o suficiente para fazer com que aquela velha relação, a partir de então, desse certo, seria possível queimar na fogueira, as lembranças, as mágoas e o receio de enfrentar os mesmo sofrimentos? Ocorre que mesmo que as pessoas se transformassem, os fatos que elas protagonizaram são atos já consumados. Enfim, a dor já doeu. E esses "atos" precisariam, antes de tudo, serem aceitos, relevados e... principalmente, esquecidos. Mas o coração que tem memória de elefante fica “gritando” que está ali, vivo, pulsando, quando deveria estar quieto... E sente dor e quase pula fora do peito quando as lembranças ruins do que aconteceu voltam sem pedir licença -   "E aquele dia que ele mentiu que ia ali e foi lá?" "E o dia em que descobri a  traição, e os vi juntos na porta da academia?" "Nunca podia me receber em horário de expediente, mas  quando me fiz passar  por outra, disse à secretária que eu entrasse." 
Quando o parceiro é outro, tudo isso pode acontecer também, aliás, um dia sempre acontece, pois é normal que as lembranças de relacionamentos passados assombrem - vem o medo de sofrer, de ser traída , de ouvir mentiras. Mas quando a relação não é mais com "aquele" que foi o protagonista daquelas dores, a diferença é que, apesar do temores, quando você olhar para o lado, vai estar de mãos dadas com a esperança de algo novo e diferente, e não com aquele passado, que mesmo querendo ser um novo presente, está carregado de lembranças.
O risco de apostar, de novo, no velho é muito alto.Construir é diferente de consertar. Reconstruir só se for a si mesmo.Certezas não existem, mas existem caminhos mais prováveis. E, certamente colar cacos de relações desgastadas, não pelo tempo(porque o tempo tem poder de desgastar cores, não amores), mas pelas frustrações e decepções é um caminho direto para se deparar novamente com o fracasso daquela mesma relação que, no fundo,  já sabíamos que tinha chegado ao fim, porque o coração nunca se engana... e Cazuza canta o que sabemos sem querer saber: muitas vezes  "as ideias não correspondem aos fatos..."

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Que atire a primeira pedra, quem puder...

Muitos casais, em detrimento dos inevitáveis problemas do dia a dia,  continuam felizes após muitos anos de união. Os filhos, já  adolescentes, lhes permitem, novamente, mais tempo para estar junto. Foi assim com Lizandra,   que escreveu ao blog, 48 anos, casada há 18 anos com um homem tranqüilo, e, segundo ela, excelente pai e marido. Ela, por sua vez, tinha prazer em cuidar da casa, dos filhos e dele. Separar sua roupa e deixar junto à toalha para quando saísse do banho. Fazer os bolos e tortas que ele adora e cafuné para ele dormir. Ele por sua vez, nunca permitiu que ela acordasse de madrugada quando as crianças eram bebês, pois à noite, era a sua vez de colaborar. Todas as tardes ela o aguardava chegar do trabalho para que lanchassem juntos. Uma mãe e esposa zelosa, e ele sempre lhe dizia da imensa admiração pela forma com que ela conduzia a família. Só tinha um problema. Ele nunca a satisfez sexualmente. E ela sofria por isso. Tentou conversar com ele algumas vezes, sugeriu que visitassem um médico, que descartando qualquer problema físico, os encaminhou para um terapeuta de casal que nunca foram. Ele não quis. E ela então, sublimou. Ou melhor, tentou e conseguiu por mais de uma década deixar esse “assunto” de lado.
Os anos passaram, os filhos cresceram e ela voltou a ficar sozinha com o marido. Com o tempo mais ocioso, a falta de uma vida sexual satisfatória voltou a perturbá-la. Faziam sexo cada vez mais raramente, e ela, sincera, ainda insistia para que procurassem aquele terapeuta sugerido anos atrás. Explicava-o que sofria com essa falta, inclusive fisicamente, com enxaqueca e insônia constantes. Mas ele não cedeu aos seus apelos. Depois de muito tentar uma solução a dois, tomou uma custosa decisão  - alugou um apartamento, para levar amantes, nunca fixos e sempre desconhecidos.
Um dia, um colega de trabalho do marido, lhe disse sobre esse “boato”, e ele fingiu que não ouviu. A esposa desse amigo contou a ela, e perguntou-lhe se ela não temia que os filhos, já adultos, descobrissem como ela estava conduzindo sua vida. Ela respondeu que não. Pois sempre se manteve fiel ao que acreditou. E principalmente, sabia que o marido era feliz ao seu lado, e que seria assim, até o último minuto de suas vidas. Segundo ela, sua consciência não pesava, pois em primeiro lugar, sempre estiveram os filhos e o marido, e o sexo, em segundo.
Bom, Lizandra, você termina seu email me perguntando o que eu acho. Acho que traição, como tudo na vida, é relativo. Como condenar uma mulher que dedicou sua vida à família, mas infeliz sexualmente, “ajeitou” uma solução como pode? Sua postura foi tipicamente masculina  – separar amor de sexo.  Não é ideal que seja assim. Vocês não vivem uma relação de mentira (a meu ver), mas também não vivem uma relação inteira. A diferença é que ambos são leais aos seus propósitos – você doa-se a família com alegria, responsabilidade e prazer – ele, em contrapartida, sente-se amado, cuidado e em paz. Quando você lhe pediu que buscassem juntos ajuda para o problema que a afligia, ou quando o colega de trabalho insinuou algo, ele não lhe deu ouvidos. Ele foi enganado? Não...
Você poderia tê-lo deixado, seria talvez o mais sensato. Talvez. Mas como você afirmou, sexo vinha depois do marido e filhos. Então... É uma situação muito delicada, mas não cabe julgamento.
O ideal de um casal é que a parceria aconteça na cama e fora dela. No caso de vocês  não aconteceu na cama. Tenho absoluta certeza de que se você tivesse escolha (é, as vezes não temos), você agiria de outro modo. 
Parabéns pela bela família!


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