Há exatamente um ano fui jogada do 20º andar, sem que me dessem tempo de puxar a corda para abrir o pára-quedas. Quebrei-me toda... Cicatrizes que ficarão para sempre. Hoje nem eu as avisto mais, de tão miúdas que se tornaram. Mas como miúda não quer dizer insignificante, permaneceram as lições. Vivia por aqui, no blog, expurgando minha dor através da escrita, que entre análise, ansiolíticos e antidepressivos, foi, incontestavelmente o meu remédio mais eficaz. Escrever me cura. O que mais ouvi de amigos foi o famoso "vai passar", e agarrei-me a essa certeza como fosse colete salva vidas em alto mar. E não é que passou mesmo? Esses meus amigos sabem das coisas...
Como disse Heráclitos de Éfeso, filósofo que viveu em 454 aC - Jamais entraremos no mesmo rio duas vezes, pois assim como as águas, nós mesmos já seremos outros. Nunca mais fui a mesma -somei mais um ano de vida, perdi alguns sonhos (mas confesso que ganhei outros), entendi que é preciso idealizar menos, voltei a enfrentar carro/estrada, a conversar com o eletricista, a criar filho sozinha, a dormir pouco, a não julgar nunca, a pensar ainda mais (se isso é possível). Nada na minha nova realidade me soou como problema, encaro simplesmente, como meu novo jeito de caminhar, acolhido por mim com gratidão.
Não há acaso. E ainda pude me certificar, mais uma vez, o quanto sou corajosa para encarar as mudanças.
Desde pequena sofro da síndrome de "Pollyana Moça", a doce menina que fazia o "jogo do contente" onde a regra era encontrar, em qualquer situação, alguma coisa para ser feliz. E, em decorrência desse "mal", tive certeza que depois de ter conseguido, finalmente, me levantar sem auxílio de muletas, a vida me pouparia dos tombos por um período significativo, esse era o lado bom. Mas... A campanhia nem soou e, novamente, a decepção invadiu minha casa, minha vida, minha paz... quando a vi, pensei que tivesse sido entregue no errado de endereço. Afinal, a vida não ia me enviar essa "encomenda" em espaço tão curto de tempo... Mas a vida não erra endereços. Então, entendi que mais uma vez, estava sendo empurrada do 20º andar, e novamente não tive tempo de abrir o pára quedas e, inacreditavelmente, a mão que me jogou foi a mesma da outra vez. Não sei se o chão ficou macio, ou se estou mais resistente, pois dessa vez, só quebrei algumas partes e entendi mais rápido que não é porque cai que devo permanecer no chão. Meu aprendizado tem sido muito rico, não me revolto, não lamento, nem mal digo, acato, tiro as lições, agradeço e liberto. Sinto raiva sim, mas antes de tudo, de mim mesma, por nunca aprender que meu semelhante nem sempre é "semelhante" a mim.
Como disse Bob Marley: "Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O
tempo passa... e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas
pequenas demais para torná-los reais."
Mas sei que há pessoas do mesmo tamanho dos meu sonhos.