A maturidade me trouxe o medo de
perder os afetos. Antes não era assim.
Sempre fui visceral, tudo em mim pulsava, minha dificuldade em lidar com sentimentos, provinha da imensa facilidade que tinha em vivenciá-los. Jamais administrá-los.
Minha primeira reação sempre foi instintual. Agia impulsivamente conforme sentia. Minhas emoções me guiavam, empurrado para um canto ermo a racionalidade. Criei-me em meio a esse turbilhão emocional. Sentimentos à flor da pele.
Lancei-me na vida de qualquer maneira, guiando-me somente pelo calor das sensações.
Sempre fui visceral, tudo em mim pulsava, minha dificuldade em lidar com sentimentos, provinha da imensa facilidade que tinha em vivenciá-los. Jamais administrá-los.
Minha primeira reação sempre foi instintual. Agia impulsivamente conforme sentia. Minhas emoções me guiavam, empurrado para um canto ermo a racionalidade. Criei-me em meio a esse turbilhão emocional. Sentimentos à flor da pele.
Lancei-me na vida de qualquer maneira, guiando-me somente pelo calor das sensações.
Tive uma educação rígida, com
pais "caretas" e controladores o que me impediu de abandonar tudo em
duas ocasiões da minha adolescência - uma para viver em uma comunidade hippie
em Mauá e outra para acompanhar mochileiros para o Tibet. Eu me atirava no
impulso, eles vigiavam, percebiam e me podavam. Por muitas vezes pensei em
fugir de casa, literalmente. Mas minha irracionalidade não superou meu medo.
Até hoje não sei se lamento ou fico grata (ainda não achei o caminho do meio).
Fui assim também no amor. Na
verdade nunca fui arrebatada por paixões violentas, daquelas que acontecem em
um primeiro olhar. Mas bastavam algumas conversas para que eu percebesse pelo
"faro" a chance de um grande amor. Foram poucos, mas sempre intensos
e verdadeiros, para mim.
Com o tempo (e não demorou muito)
comecei a temer os afetos. Talvez a vida tenha me levado ao uso de uma
racionalidade forçada e imatura, e, com isso não consegui encontrar o
equilíbrio entra razão e emoção. Dei um violento salto de um extremo ao outro e
passei a me proteger de tudo e de todos. Fiquei consciente disso pouco
tempo atrás. E confesso que essa consciência não me trouxe a solução. Vivo
entre me lançar e me resguardar, e com isso perco momentos e pessoas. Sou
cuidadosa desde as amizades até uma saída descomprometida com uma turma
qualquer. Finjo para mim e para os outros que sou segura e que me entrego às
vivências - minto nas duas situações, não sou segura, e nem me entrego.
Protejo-me o tempo todo. Ainda oscilo entre emoção (que teima em me guiar) e a razão
(na qual tento me agarrar). Equilíbrio ainda está distante de mim.
Envolvimentos me afugentam, vivo
em uma casca, ando de lado para não dar as costas e olho de soslaio para
qualquer aproximação ou comprometimento com situações ou pessoas.
Mais de uma vez já tive a
curiosidade de perguntar a várias pessoas - "amar
e correr o risco de sofrer ou não amar?" e de todas ouvi um sonoro "AMAR". Entenda-se
amar como comprometimento de qualquer natureza. Desde dedicar-se intensamente
ao trabalho e temer uma transferência indesejada para outro setor, até
envolver-se corpo, alma, cabeça e coração com alguém e conviver com o risco de
perdê-lo. Vale trabalhar mais ou menos, cumprindo obrigação sem colocar o
coração? Vale amar sem entregar-se por inteiro? Acho que não. Mas nem sempre
ajo como acho que deveria.
Vivo entre sair e ficar. Entre não conhecer e conhecer e gostar, entre gostar e
correr o risco de não dar, entre correr o risco de não dar e não tentar deixando sempre como está.
Sofrer ou não sofrer também
carrega uma dose de relatividade - para uns sofrer depois de vivenciar
nem é sofrer, para outros não sofrer porque não arriscou é que é sofrer.
Eu ainda busco a minha medida.