Essa madrugada o sono não cumpriu
seu combinado comigo e... zás!
Adoro o silêncio, mas nunca o da
noite. Gosto da quietude de cantos isolados e vazios da natureza. Mas não
suporto aquele barulho silenciado pela madrugada que sufoca e confunde - não é
mais noite e ainda não é dia. Pensei na solidão. Solidão mesmo.
Aquela sentida quando se está em meio a um batalhão de pessoas. Em tantas ocasiões ela assombra a
nossa falta de sossego, e apontando o dedo na cara diz "entendeu o que é de fato
sentir-se só?" Entendi. Eu, particularmente tenho entendido tanto...
Não vejo à hora de esse dedo parar de apontar em minha direção.
Quando somos traídas pelo
parceiro. Quando nossas expectativas vão pelo ralo...ah! frustração! Quando descobrimos uma doença grave. Quando somos mal interpretados.
Quando nos sentimos indevidos. Quando somos vítimas de mentiras. Quando injustiçados,
não encontramos maneira de nos defender. Em todos esses momentos estamos
absurdamente sós. Nada pode ser compartilhado. É um parto no deserto. Você olha
em volta e nada te alcança.
Curioso é que nesses momentos,
entramos em um ciclo destruidor porque ao invés de nos acolhermos, a tendência
é concordarmos com o mundo, e simplesmente nos abandonarmos também.
Quando sentimos essa solidão
"na raiz", tendemos a desistir de nós. Não queremos levantar pela
manhã, não há dia lindo lá fora, não queremos caminhar, desistimos da
ginástica. Sair para que? Não há graça em comprar roupa, abandona-se o batom e de
quebra, os amigos. Come-se qualquer porcaria fora de hora, deixa aquele exame
para quando "eu estiver mais disposta". E fica-se ainda mais sozinha. Você diz a si
mesmo através dos seus atos "fique por aí, não estou nem aí"!
Então quem estará?
Uma vez uma amiga minha que
estava submersa em antigos problemas familiares, começou uma mudança de hábitos
rigorosa e eu lhe questionei como ela conseguia iniciar uma dieta em meio a
tantos problemas, e ela me disse: "Se eu fizer a dieta, continuarei tendo um problema - minha família, se
eu não fizer a dieta, passarei a ter dois problemas - minha família e meu
peso". Nunca esqueci isso. E olha que já
faz muito tempo... Um tempo onde o sono nunca me deixava e eu achava que
solidão era aquela sensação ruim de ficar sozinha aos domingos à tarde ouvindo
o maldito radio do meu avô narrando jogo de futebol.
Se o mundo que te cercava abriu
as fronteiras deixando-lhe sem rumo, não se maltrate mais ainda. Ame-se! Você
não vai fazer como todo mundo, e te virar as costas justamente na hora em que
mais está precisando de carinho e cuidado, vai?