Eu nunca me distraio, percebo tudo que me cerca, creio que tudo, mas
tudo mesmo contêm alguma lição, e se acontece sob minha "jurisdição"
é porque dali, vou assimilar algo.
Relacionamentos humanos são grandes fontes de aprendizados, mas ainda
assim, destaco relacionamentos românticos como as maiores fontes de
aprendizado. Pais e filhos, irmãos, avós, tios e primos, enfim, são relações
impostas, já o amor é uma relação escolhida, mesmo que de certa forma, seja uma
escolha "prisioneira" de todas as nossas outras relações.
Creio indiscutivelmente na doutrina da reencarnação, mas como questiono
tudo, sempre busquei entender qual é o objetivo Divino para jogar sobre nós o
véu do esquecimento, pois caso lembrássemos o que fizemos em outra vida, seria
tão mais fácil seguir o caminho da luz e não tropeçar nas mesmas pedras. Li muito sobre isso e ouvi outros mais estudiosos, mas nunca fui saciada
nessa questão. Deixei-a de lado.
Hoje após o fracasso de mais um casamento, e desabafos de decepções
amorosas de vários amigos - deslealdades dos parceiros, traições, atos
levianos, mentiras, omissões, justificativas diversas, e aquele desfecho de
sempre - cada lado tem sua versão, cada um defende sua verdade, cada um tem o
que acusar e também o que se defender, pensei "se todo candidato a novo
parceiro fosse colocado em uma sala fechada com o ex de seu atual amor, e ali
pudesse ouvir tudo sobre ele, será que não poderia ser evitado mais sofrimento
e rompimento?" Ri de mim mesma, claro que não! Histórias são vivenciadas a
partir dos protagonistas, ou seja, se mudam os personagens, muda o enredo. Quem
foi desleal, traiu, mentiu, omitiu, não quer dizer que agirá do mesmo modo.
Mas, que há uma tendência, ah... isso há! Mas a vida não é feita de tendências,
histórias não são construídas sobre suposições e achismos... O caminho a dois
não existe, o que existe são dois que construirão um caminho comum e singular.
Pessoas têm a chance de se transformar a partir do referencial que o novo
parceiro lhe trás, a partir de um olhar, de um gesto, de uma postura, portanto,
ouvir de um ex a respeito do atual, é tolher chances e possibilidades de, a
partir daquela convivência, nascer outro ser humano, e isso ninguém tem o
direito de fazer. Uma história não pode condenar seu personagem para sempre.
Dessa forma, creio que encontrei a minha resposta a respeito do véu do
esquecimento da doutrina reencarnacionista. Lembrança de outra vida seria um
alerta sobre nossas falhas, o que desencadearia temores, inseguranças e medos,
embotando assim novas possibilidades, encolhendo nossa crença acerca de nós
mesmos, nos forçando a olhar para aqueles que fizeram parte da nossa caminhada
de modo tendencioso, dando maiores chances a uns e excluindo outros. Isso não
seria uma nova vida... Isso seria uma vida recomeçada, cheia de retalhos
emendados, de cacos colados, de suspiros entrecortados.
Vida nova precisa ser toda nova. Portanto, boa sorte a todo ex e suas
atuais, e a mim e a você que somos atuais do ex de alguém, e somos ex dos
atuais de outras... É o ciclo da vida.
Como na "Quadrilha" de Drummond:"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili que não amava ninguém..."
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