Quase me acostumei a olhar para certas pessoas de uma forma da qual elas não eram. Olhos verdes esmeraldas, eram violetas, fartos cabelos encaracolados, eram ralos, sorriso largo que nunca sorria, descontração na voz sempre muda. Nada era como eu via. Mas eu juro que via. Nada era igual. Seu olhar não me explica o que realmente é, e o que só parece ser. Fomos incapazes de existir. Não sangrei mais. Ninguém acorda. Tenho perdido as paisagens e ando nos atalhos que alongam os caminhos. Não me deixam sozinha e sinto que aos poucos me refaço e aos muitos, me desfaço. Ouço música sem ouvi-la e ainda assim, somo no seu compasso. Para amar há de se observar. Quando apenas se é amado, melhor não. Ao amar, nada subtrai, os maiores defeitos viram pó. Ser amado (ainda) sem amar (porque dizem que o amor pode nascer), é olho na espreita, por detrás do vão da porta, esperando um fio de cabelo fora do lugar para, aliviada, declarar a si mesmo "viu porque não o amo?" Mas em frente ao espelho, não há engano possível...
E a campainha toca pontualmente às oito, e a flor entra, linda, enfeitando meu dia, amo flores, mas como faço para conseguir amar o que está por trás das flores? E o telefone toca dezenas de vezes, a voz firme tenta me coroar rainha, enquanto sequer voltei meu olhar em direção ao castelo... O corpo carente se contrai diante do olhar engessado de desejo, contrai mas se retrai, e volto para casa. Sorrio frente a tantas declarações feitas desavergonhadamente na presença de tantas pessoas e penso com raiva jogando para quem me ama a responsabilidade por não amá-lo: "Porque você não consegue me convencer? Incompetente! Preciso disso, não vê? Que merda!" Por fim, tudo aquilo enternece. Mas, só enternece. De alguns escuto que amor é treino, é fazer uma escolha e permitir ser amada, e aguardar pacientemente que esse mesmo amor nasça em você, podendo finalmente amar e ser amada. Porque não acredito nisso? Eu poderia tentar, talvez até tente... Acho tudo tão irritantemente racional... E eu, sempre tão intensa e passional. Eternamente dividida entre o que é e o que deveria ser...
Como diz Pessoa - "Este perpétuo analisar de tudo é que tira a inocência verdadeira".
Nunca quis amar o belo, o perfeito, o incólume, aliás nem nunca quis amar. E, de repente amei. Mas posso (des) amar e (re) amar, porque viver é (re) criar.
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