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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Como reles ratinhos de laboratório

 
Há uma enorme discussão sobre a ética das pesquisas científicas realizadas com animais. Eu já li muito a respeito e, ao final de cada novo artigo,  reitero a certeza de que sou terminantemente contra. Segundo Maquiavel os fins justificam os meios. Eu sei. No meu mundo idealizado, nunca é assim. Mas no mundo em que vivo, é. Então, que os meios, pelo menos, não sejam a qualidade de vida dos seres vivos. Se me revolto com o destino desses animais, que dirá sobre os seres humanos que são submetidos a algum tipo de experimento, sem que, sequer, tenham dado consentimento para tal. Pois é, mas isso existe.
Há pessoas que participam das redes sociais na internet em busca de "ratinhos" para fazer experimentos. Verdade... É de graça e nem demanda tanto esforço. Não precisa sedação, nem nenhum tipo de procedimento, digamos, paralisante. Basta uma boa retórica, aquela precisa manipulação - alguns "você é a alma que eu busquei a vida toda", outros "eu te amo", e um tanto de "será para sempre". Pronto! Tornou-se objeto daquela pesquisa. Pesquisa sem ética não é pesquisa séria. Ética visa discernir entre bem e mal - "Como assim? Bem? Mal? O bem é aquilo que me atente." Pois... É sob essa base que se dá seguimento ao experimento. De qualquer forma, não há ratinhos prisioneiros, justiça seja feita, mas ainda assim, eles nem imaginam que seu embarque será para um laboratório e não para o prometido conto de fadas; e nem que o príncipe, nada mais é do que um "experimentador".
De início nenhuma atrocidade é cometida.  Enquanto o metódico pesquisador estuda seu novo "objeto", esse segue se acreditando amado. E, sentindo-se feliz, não atrapalha os experimentos, ao contrário, até colabora. 
Quanto maior a diversidade, mais preciso será o estudo - idade? Dos 18 aos 60 (pois menor, prefiro crer que não entra). Negra, branca, baixa, alta, magra, gorda, bonita, feia. Tudo é válido. A abordagem sociológica, através dos seus conceitos, teorias e métodos, é para o estudioso em questão, um excelente instrumento de compreensão das situações  cotidianas e das suas múltiplas relações sociais. Enfim, aqui conta-se onde essa nasceu, como vive, onde mora, qual seu nível intelectual, sua visão de mundo, sua visão religiosa, seus anseios, etc. Aí, segue-se a abordagem fisiológica, anatômica, motora, biomecânica. Tudo serve como objeto de estudo - desempenho e preferências sexuais,  tipo de culinária, gosto musical, conhecimentos gerais. Emocionalmente falando - capacidade de suportar pressões, isolamentos, atitudes inexplicáveis. São testados diversos tipos de resistência. Aos poucos percebe-se a tortura. E descobre-se a farsa. Não era uma relação, era uma pesquisa. Você não é uma pessoa especial, em breve será apenas uma estatística. E vem à tona atos de verdadeiras atrocidades cometidas em todo o processo - mentiras, manipulações, pressões, distorções, jogos de sedução; promessas de amor e planos de um belo futuro, feito concomitantemente àquelas que se acreditavam amadas, respeitadas, humanas e ainda por cima, únicas... E que não passavam de reles ratinhos de laboratório!
O investigador não considera o quanto causa de dor e angústia, não compreende que é moralmente responsável. Fala sobre sentimentos, amor, sonhos enquanto emprega métodos estatísticos, de observação empírica e até de um ceticismo. É sádico. Deleita-se com a dor causada em seus ratinhos. Não basta só catalogar seus experimentos, é preciso causar sofrimento.
São abusos como aqueles cometidos contra prisioneiros nos campos de concentração durante a 2ª Guerra Mundial. Abuso em todos os sentidos. Sem saber você fez parte de um trabalho experimental. Tornou-se mentalmente e emocionalmente presa. Perdendo tempo e vida. Acreditando em algo que nunca existiu. É uma subordinação ilusoriamente concedida. Uma crueldade sem limites. Uma tortura.
O bom é que, nesse caso, há salvação e libertação, diferentemente dos ratinhos, cujo final é sempre o mesmo... Desanimada, constato que a indignidade, a imoralidade e a insensibilidade empregada em ambos os casos, é a mesma.
 

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