Como posso ser feliz? Pilhas de livros de auto-ajuda.
Sempre em vão.
Felicidade não é um bem que vamos
conquistar se cumprirmos algumas regrinhas básicas. Serão felizes os mais
determinados, ou aqueles que meditam, ou os que não bebem, não fumam, não comem
carne, a esses grupos, o reino da paz, da harmonia, da sonhada felicidade. Nada
disso. E aí você casa com o amor da sua vida, têm filhos saudáveis, sua
carreira vai muito bem, obrigada, fez aquela plástica de nariz e a
lipoescultura, comprou aquele carro maravilhoso e ainda viajou a dois para
esquiar em Aspen... (bom, eu ficaria com o amor da minha vida, filhos
saudáveis, carreira, uma biblioteca inimaginável, a compra de um sítio para
construção de um asilo modelo, e uma viagem a dois para qualquer lugar que eu
ouvisse os grilos e visse a lua, enfim... felicidade não tem molde). Bom,
prioridades acertadas: sou feliz!
E instala-se a terrível decepção.
Quem disse que felicidade segue algum padrão? E caso seguisse, quem ditaria
esse padrão? Tudo é absurdamente relativo. A tal almejada felicidade não
"vinga" por uma condição humana. Somos naturalmente faltosos de algo
que não podemos nomear por uma questão quase estrutural - incapacidade de
silenciar-se, ouvir-se, sanar-se. Quem não sabe do que precisa não tem como
buscar. É isso. As previsões da vida plena de felicidade falham porque não
conhecemos nossas reais necessidades, e nos guiamos pelos desejos, daí vem a
sensação de falta. Mas objetivamente tudo está suprido, não há falta... Eu
até posso ver a lua do vão da janela enquanto leio Fernando Pessoa, ou...prioridades respeitadas, eu
até tomei vinho em Paris enquanto olhava vitrines... E então... Quem vai levar a culpa por essa sensação
de falha, de falta, de ausência? Para cada época uma explicação - desde Platão,
passando por Niesztche, Gramsci, chegando a Gikovate ou Shinyashiki,
e o final é sempre o mesmo - o coração funciona muito além da razão. Felicidade
não é uma conquista dos merecedores. Ela simplesmente é um estado, sei lá
como ou porque acontece. E, muitas vezes, quando aquela felicidade nos acomete e o coração fica quente, sinalizando que está absurdamente vivo dentro do peito,
nos questionamos “quem é essa pessoa que aqui está?” É isso mesmo... Dá-se uma
crise de identidade ao vivenciar esse estado de plenitude... Aceitamos a
infelicidade muito bem, nos condenamos a seres não merecedores, nos punimos e
quando a felicidade chega sem aviso, entramos em uma crise de identidade e corremos o risco
de que ela se vá novamente. Para ser feliz aí vai uma dica que li e gostei: “Agüente
nem que seja por um instante o amor que não se compreende, que explode qualquer
cenário, que nos leva a habitar o mais forte que nós mesmos".
Para mim, Vinicius de Moraes dá a
definição quase perfeita - A vida é a arte do encontro,
embora haja tanto desencontro pela vida. É preciso encontrar as coisas certas
da vida, para que ela tenha o sentido que se deseja. Assim, a escolha de uma
profissão também é a arte do encontro, porque a vida só adquire vida, quando a
gente empresta a nossa vida, para o resto da vida.
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