Muitos casais, em detrimento dos inevitáveis problemas do dia
a dia, continuam felizes após muitos anos de união. Os filhos,
já adolescentes, lhes permitem, novamente, mais tempo para estar junto.
Foi assim com Lizandra, que escreveu ao blog, 48 anos, casada
há 18 anos com um homem tranqüilo, e, segundo ela, excelente pai e marido. Ela,
por sua vez, tinha prazer em cuidar da casa, dos filhos e dele. Separar sua
roupa e deixar junto à toalha para quando saísse do banho. Fazer os bolos e
tortas que ele adora e cafuné para ele dormir. Ele por sua vez, nunca permitiu
que ela acordasse de madrugada quando as crianças eram bebês, pois à noite, era
a sua vez de colaborar. Todas as tardes ela o aguardava chegar do trabalho para
que lanchassem juntos. Uma mãe e esposa zelosa, e ele sempre lhe dizia da
imensa admiração pela forma com que ela conduzia a família. Só tinha um problema. Ele nunca a satisfez sexualmente. E ela sofria por
isso. Tentou conversar com ele algumas vezes, sugeriu que visitassem um médico,
que descartando qualquer problema físico, os encaminhou para um terapeuta de
casal que nunca foram. Ele não quis. E ela então, sublimou. Ou melhor, tentou e
conseguiu por mais de uma década deixar esse “assunto” de lado.
Os anos passaram, os filhos cresceram e ela voltou a ficar sozinha com o
marido. Com o tempo mais ocioso, a falta de uma vida sexual satisfatória voltou
a perturbá-la. Faziam sexo cada vez mais raramente, e ela, sincera, ainda insistia
para que procurassem aquele terapeuta sugerido anos atrás. Explicava-o que
sofria com essa falta, inclusive fisicamente, com enxaqueca e insônia
constantes. Mas ele não cedeu aos seus apelos. Depois de muito tentar uma
solução a dois, tomou uma custosa decisão - alugou um apartamento, para
levar amantes, nunca fixos e sempre desconhecidos.
Um dia, um colega de trabalho do marido, lhe disse sobre esse “boato”, e
ele fingiu que não ouviu. A esposa desse amigo contou a ela, e perguntou-lhe se
ela não temia que os filhos, já adultos, descobrissem como ela estava
conduzindo sua vida. Ela respondeu que não. Pois sempre se manteve
fiel ao que acreditou. E principalmente, sabia que o marido era feliz ao seu
lado, e que seria assim, até o último minuto de suas vidas. Segundo ela, sua consciência não pesava, pois em primeiro lugar, sempre
estiveram os filhos e o marido, e o sexo, em segundo.
Bom, Lizandra, você termina seu email me perguntando o que eu acho. Acho
que traição, como tudo na vida, é relativo. Como condenar uma mulher que
dedicou sua vida à família, mas infeliz sexualmente, “ajeitou” uma solução como
pode? Sua postura foi tipicamente masculina – separar amor de sexo.
Não é ideal que seja assim. Vocês não vivem uma relação de mentira (a
meu ver), mas também não vivem uma relação inteira. A diferença é que ambos são
leais aos seus propósitos – você doa-se a família com alegria, responsabilidade
e prazer – ele, em contrapartida, sente-se amado, cuidado e em paz. Quando
você lhe pediu que buscassem juntos ajuda para o problema que a afligia, ou
quando o colega de trabalho insinuou algo, ele não lhe deu ouvidos. Ele foi
enganado? Não...
Você poderia tê-lo deixado, seria talvez o mais sensato. Talvez. Mas
como você afirmou, sexo vinha depois do marido e filhos. Então... É uma
situação muito delicada, mas não cabe julgamento.
O ideal de um casal é que a parceria aconteça na cama e fora dela. No
caso de vocês não aconteceu na cama. Tenho absoluta certeza de que se
você tivesse escolha (é, as vezes não temos), você agiria de outro modo.
Parabéns pela bela família!
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