Minha vida foi pautada por perguntas. No fundo acho que as respostas pouco me interessavam. Elaborar as perguntas quase saciava meu anseio de reconhecer as coisas. Reconhecimento é a palavra que mais se aproxima do que acredito que possamos ter acerca daquilo que existe fora de nós, pois só podemos conhecer o que já está em nós. Portanto apenas reconhecemos o que nos cerca, ou seja, conhecemos sob um olhar próprio. Uma ótica interna que pouca chance nos dá de enxergar de outro modo, que não aquele que nos experimentamos através de nossa vivência e apreendemos a partir dos sentidos.
Capacidade de abstração é algo que acho necessário para a criação e evolução de novas idéias. Esse nosso "intelecto agente" consegue abstrair idéias ainda distante dos objetos em si, e nos permite imaginar resultados diversos antes da ação. Assim também é o objeto de amor. Uma ideia concebida antes da forma. Mas até mesmo essa capacidade de abstrair é, de certa forma, engessada pela nossa bagagem interna.
Aí chegamos a relatividade dos conceitos - certo e errado, bom e mal, verdade e mentira.
Conceitos são sempre
fragmentados, não há uma unidade, uma coerência lógica entre eles. Ele é
preenchido sempre pela concepção ideológica de cada um. Um marxista descreve o
fundamentalismo de uma forma, se esse conceito for definido por um liberal, o
posicionamento é outro. Há um indiscutível vácuo no campo das referências
teóricas por conta da fragilidade a não sustentação de alguns conceitos. Para
uns amar pede fidelidade, para outros amar pede lealdade. Eu vejo extrema
diferença entre esses dois termos, mas outras pessoas não veem. Traição que me
machuca é aquela dos sentimentos, para outros é a da carne.
O que é real quando o conceito de
real é relativo? Real é uma crença individual? Cada um cultiva sua realidade?
Se o real nasce do nosso imaginário, nossa existência faz parte desse
imaginário? Por outro lado se minha realidade particular se sobrepuser às
normas e regras sociais como será o mundo em sociedade? Voltando para o amor, se
o amor é também uma real invenção de nosso imaginário, minha forma de amar está
condicionada ao meu imaginário. Talvez por isso as relações deixam tanto a
desejar. É preciso encontrar uma pessoa que tenha um conceito de amor semelhante ao seu, e que traga esse conceito imaginário para o real, junto com você. Todos os conceitos existem e se manifestam - o bem, o mal, o amor, a honestidade, a traição, a lealdade, a tristeza, a felicidade,- a partir da compreensão de que tudo é relativo porque só existe a partir da concepção individual de cada ser humano. Entender isso, faz a vida ficar mais fácil e o coração mais leve.