Se “A”
diz que ama sua parceira e a agride fisicamente, ele a ama mesmo? Antes, eu
afirmaria que não. Hoje, digo apenas que não sei qual o conceito que “A” tem
sobre o amor. Posso dizer que não aceitaria o amor de “A”, mas não posso dizer
que ele está mentindo ao dizer que ama a esposa.
Qual seria a origem dessa
crença na tal da verdade? De onde surgiu essa guerra entre verdade e mentira?
Segundo Nietzche verdade e mentira são construções que decorrem da vida em
grupo e dos códigos de cada grupo. O homem do grupo chama de verdade aquilo que
o possibilite manter-se inserido no seu grupo, e chama de mentira aquilo que o
exclui do grupo. A verdade e a mentira são ditas a partir do critério da
utilidade ligada à paz do grupo. Assim, atos e escolhas pessoais que entrem em
choque com o grupo, por não serem aceitos ou compreendidos pelos demais
componentes, nunca são ditas. Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade
do grupo. A verdade só se manifesta através da palavra, por mais que digamos
que os olhos falam, que a respiração ofegante entrega, que o rubor nas faces
condena, sabemos que só a palavra tem o poder de negar, afirmar ou confirmar.
Mas sabemos também que palavras são metáforas que muitas vezes não correspondem
com o real. O complicado ato de metaforizar ocorre no vácuo incerto do impulso
nervoso e uma cena.
Enfim, existe verdade
absoluta ou o conceito da verdade é algo pessoal? Tenho um amigo que escreveu
que a verdade se encontra super valorizada ou corrompida. Concordo com ele.
“B”
pergunta ao marido se ele a trai com outra mulher e ele responde que não, só
que ele sai com outras mulheres. Ele está mentindo, mas como diz Nietzsche é
para evitar expor suas escolhas pessoais para não entrar em choque
com o “grupo” (nesse caso a família constituída), e ser expulso. Isso seria o
mesmo que aceitar que os fins justificam os meios. E justificam? Pessoalmente,
acho que não. Não creio em relacionamento baseado na desconfiança. Mas também
não conheço modelo ideal e nem acho que há receita. Acredito em códigos
pré-estabelecidos entre duas pessoas que decidem investir em uma relação. Quem
quebrar os códigos quebrou a confiança, agora, se nesse código cabe ou não
traição ou omissão, isso é uma questão do casal. Ainda assim, o conceito de amor no qual eu acredito, não
pede nada disso.
Enfim, para Nietzsche, o
homem é o mestre da dissimulação, cuja tarefa específica é metaforizar o mundo
em palavras e conceitos, e de ajeitá-lo de modo tal que o permita “existir mais
um minuto”. Será que isso é válido para que, relações fadadas ao fim, sobrevivam por mais alguns minutos? Particularmente, acho que não.
Quando amor é amor, como eu o concebo, tudo já
está estabelecido. É amor e ponto final. Transcende verdades e mentiras.