O tempo é relativo.
Às vezes é amigo, às
vezes é cruel.
Lembrei-me de um
namorado que tive dos 15 aos 18 anos. Terminamos o namoro antes do natal. Desgaste dos anos, descompasso de projetos futuros. Nenhum motivo
concreto no qual eu pudesse me agarrar e dizer "pois é seu traidor, fiquei
livre de você". Nada de ruim. Nenhuma acusação. Nenhuma mágoa. Cada pedaço
de mim guardava a presença dele. Todas as roupas do armário, a almofada na
cama, o urso de pelúcia na estante, os milhares de retratos - na praia, no
campo, em casa, nos aniversários, nas festas.
Foram três natais,
três réveillons, três aniversários, uma formatura, um vestibular. Como pedir
que ele desse licença desses lugares todos? Jogando as roupas fora? Doando as
almofadas e ursinhos de pelúcia? Rasgando fotos? E fazer o que com as
lembranças que estavam na minha cabeça e no meu coração? Como foi difícil, meu
Deus! Achei que fosse morrer, não morri. Achei que nunca mais encontraria
alguém tão especial quanto ele, encontrei. Achei que quando tivesse no altar
trocando alianças, me lembraria dele, não lembrei. Achei que quando meu
primeiro filho nascesse, colocaria o nome que tantas vezes escolhemos juntos,
não coloquei. Achei que jamais sentiria prazer com outro, senti. E assim, hoje
ele é apenas uma doce lembrança. Muitas vezes percebo que meus 40 anos, querem
desrespeitar os meus 20, minimizando aqueles sofrimentos, como se tudo fosse
uma grande bobagem. Mas não permito. Todas essas lembranças, boas e ruins,
foram muito importantes. Cada uma delas sou eu. Nada nem ninguém foi mais
como antes. Nunca é. E nem será. A vida voa, e as pessoas tentam acompanhar.
Hoje estou em um
dia ruim, focada em separações. Tentado
dar cor a um cenário cinzento.
Não vale à pena
manter relações pretas e brancas. Vida é cor. É preciso ter bem
definido dentro de nós mesmos o que queremos e o que merecemos. Esse é o
termômetro de nossa felicidade. Para ser feliz é preciso antes de tudo,
coragem. Para viver bem é essencial não temer as inevitáveis despedidas.
Como filosoficamente canta Lulu Santos: "Tudo muda o tempo todo no
mundo".