O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

sábado, 27 de julho de 2013

Reciclando a ilusão

Mudanças são sempre complicadas. Já fiz inúmeras, pareço uma cigana. O bom é que me adapto com imensa facilidade a qualquer situação ou lugar. Nada me soa como problema. Minha zona preferida nunca foi a de conforto, aliás, muito pelo contrário. Encaro  bem os incômodos que qualquer tipo de mudança acarretam, sejam elas externas ou internas. Acho que ninguém consegue fazer uma mudança de casa (e nem mesmo de vida) sem jogar fora, sem rasgar, sem queimar coisas. E dá-lhe papel!(E sentimentos!). O ideal talvez fosse não ler nada que fizesse parte do passado - nem e-mail impresso, nem cartas guardadas, nem aqueles cartões de natal. Mas a gente sempre lê. Eu leio.E  me encho de perguntas: o amor acabou ou não era amor? Todos aqueles "quero ficar junto com você para sempre" eram mentira? Se partir do pressuposto de que o "para sempre sempre acaba", como cantam por aí, diria que não. Não foi mentira. Foi só o "para sempre" que acabou. Então, ninguém mente quando diz "eu te amo" e depois some? Ou depois arruma outra? Reli promessas tão contundentes, certezas tão precipitadamente absolutas, juras de um amor escancaradamente tão surreal, que custo a acreditar que fosse tudo uma grande mentira. Aliás não só li, também vi e vivi tudo isso. Pode alguém mentir tanto assim? Pode.Aliás tudo pode. Mas eu ainda me arrisco a dizer que creio que não. Apenas houve um engano que partiu, antes de tudo, daquele que acreditou que um simples momento de encantamento significasse "o amor que busquei a minha vida toda" e que a ilusão de experimentar uma outra realidade, uma nova vida  lhe deu a ilusória coragem para garantir "por você eu mudo minha vida toda, porque você é diferente". Enganos... Quem não os comete? Eu cometo muitos. Mas não esses. Eu preciso de um pouco de certeza no meu coração para, só então, proferir as palavras. Tenho muito medo de magoar ou iludir meu semelhante. Mas quem pode garantir que naquele momento não houvesse certeza naquele coração? A diferença toda mora, não naquilo que foi escrito ou dito, mas em como o que foi escrito ou dito foi colocado em prática. Há  juras de amor que foram vivenciadas por anos a fio, e que, depois de um tempo acabaram... Enquanto há juras de amor que foram vivenciadas apenas o tempo de alguns bons encontros, onde a palavra nunca foi vivida na prática. A primeira é a típica representação de que "o para sempre, sempre acaba" - era amor, mas deixou de ser. A segunda, talvez, seja aquele tipo de amor objetivado, que tenha como finalidade, não o amor em si, mas o desejo de ser içado (ainda que por breves momentos) de uma dor constante, intrínseca, onde seu portador ao viver aquela idealização obtém breves momentos de alívio. Sem condenações, o fato é que, chego a uma momentânea conclusão de que amores podem acabar, como tudo na vida, mas deles são guardadas memórias sólidas, de momentos a dois consistentes e experiências partilhadas de fato, desse vou guardar cada carta, cada email, cada cartão. Os outros amores eram apenas ilusão que foram doces e ficaram amargas. Nada foi sólido, e nenhuma experiência concretamente partilhada... esses virarão lixo reciclável e, pelo menos, terão alguma utilidade no Universo, como (quase) tudo.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Na rua ou na net, haverão enganos

Há mais ou menos uns 2 anos atrás fui convidada a dar um depoimento no blog, "O Amor Está na Rede" (homônimo do livro) da escritora Érica Queiróz sobre meu casamento que aconteceu a partir de um relacionamento iniciado na internet. Desde essa época, sempre recebo muitos emails a respeito desse assunto, e semana passada recebi um que me questionava sobre o final do meu casamento.
Por mais de uma vez, escrevi textos onde me posicionei como uma defensora dos relacionamentos virtuais. E continuo defendendo-o. Tive um casamento que após 11 anos chegou ao fim, como ocorre com vários casamentos, e isso não teve absolutamente nada com o fato da relação ter se iniciado na internet. Em detrimento de ter chegado ao fim, minha experiência foi positiva e, de saldo, uma filha de 9 anos. Relações são relações, independentemente se tiveram início em frente a tela de um computador ou na mesa de um bar. O que as diferencia é simplesmente esse primeiro contato - em site de relacionamento ou na festa de aniversário de uma amiga - mas no decorrer do tempo equiparam-se. Amor só é eterno enquanto dura, Vinícius já dizia isso.
Se eu tivesse mudado de ideia acerca dos amores virtuais, não teria investido, após meu divórcio, em outra relação desse tipo.
Mas confesso que me cansei um pouco desse contato virtual. Decidi apostar em um início mais real. Sabe aquela coisa de você saber quem é o irmão, o filho, e conhecer aquela vizinha que também o conhece? Pois é... Ando precisando de mais realidade e menos virtualidade. Coração que vai se aquecendo a cada nova conversa e não a cada nova teclada. Quero descobrir ouvindo o som da voz e não das teclas do computador. Dessa vez me apraz ouvir, e para ler, sigo com Fernando Pessoa, que há muito me hipnotizou com sua sensibilidade, que é fato, e não arma de conquista.
Estar ciente do poder contido nas palavras não foi suficiente para me proteger do imenso estrago que elas podem causar quando vêm completamente desvinculada de certezas. Como consequência dessa rica experiência,  interessa-me, agora, os atos e não as pobres ricas palavras. 
Não quero mais flores entregues pelo site "Flores on line", não quero mais noites nos fins de semana no Skype, não quero mais aqueles telefonemas com horas e horas de duração, não quero mais sexo virtual, não quero mais encontros programados com antecedência, não quero mais celulares desligados, não quero mais detalhados relatórios explicativos, típicos da distância e de outras "coisinhas mais".
Quero amor pertinho. Quero amor sem tempo regulamentado. Quero amor límpido. Quero amor com nome e sobrenome.Quero amor bonito. Como diz Quintana  "O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser."
Na rua ou na net haverá sempre o risco de engano - aquele amor que se dizia amor, mas não se cumpria amor. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Traição e doença

Nessa última semana, o tempo todo tinha um site ou programa de TV falando de uma tal de Aryane (participante do reality show, a Fazenda), que traiu o namorado (com quem vivia sob o mesmo teto há dois anos) que desolado (?) expôs sua história aos quatro cantos da "mídia da fofoca". Resumindo, a esposa iniciou, já na primeira semana, um  romance com outro participante, embalado por juras de amor eterno. Logo na semana seguinte, ao ser eliminada, afirmou em rede nacional que encontrara dentro do reality, o grande amor da sua vida, e que estaria à sua espera para que dessem continuidade ao romance, na vida real. O marido, que passou mais de 10 dias assistindo pela TV, as tórridas cenas e as incansáveis promessas de amor entre os dois, aguardava por uma explicação que possibilitasse um final menos indigno à relação, do que aquele ao qual ela lhe submetera. De um modo apelativo, ele trouxe em cena uma carta que ela lhe escreveu antes de entrar para o reality, onde reafirmava os votos de amor a ele e o empenho à vida que construiram.  Ocorre que a moça não o procurou, não buscou suas roupas, objetos de uso pessoal, nem  documentos no apartamento de ambos. Enfim, ela segue, em rede nacional, feliz com seu novo amor, como se nada existisse além dela mesma, como se sua vida tivesse tido início ali, naquele programa de TV, como se ela não tivesse um passado e muito menos um compromisso moral e afetivo com outro.
Deparei-me, então, com a entrevista de um psiquiatra sobre o assunto, que baseado nos fatos, disse que a garota está adotando um comportamento ao qual não cabe qualquer tipo de explicação. Que a atitude esperada de uma pessoa dita "normal", ainda que dentro de um quadro sórdido de traição, seria no mínimo tocar no assunto "minha vida lá fora" com seu recém descoberto amor, ainda dentro do reality, e, ao ser eliminada da fazenda, o óbvio seria procurar imediatamente o (ainda) marido. E mais, ao ser atacada por tantas frentes, o esperado é que reagisse, senão para se retratar, ao menos que fosse para adotar algum tipo de postura, mas nunca essa absoluta indiferença.
Segundo a explicação (supeficial) do médico, a moça parece adotar uma conduta com traços de sociopatia. Pelo que li a sociopatia caracteriza-se principalmente por algo de errado na consciência do indivíduo, ou ele não a tem ou está cheio de buracos como um queijo suíço, ou ,de alguma forma, ele é capaz de neutralizar ou negar completamente qualquer senso de consciência ou de prospectiva sobre o futuro. Os sociopatas têm apenas o cuidado de atender as suas próprias necessidades e desejos: o egoísmo e o egocentrismo ao extremo. Qualquer outra coisa e qualquer outra pessoa são reduzidas, em sua mente, a objetos para usar e atender suas próprias necessidades e desejos. 
Uma pessoa que age como a tal mocinha do reality, completamente indiferente a dor do marido, e aos ataques que lhe são feitos, parece mesmo atender ao quesito "ter algo de errado na consciência do indivíduo".
Continuando com a leitura, o termo "sociopata" é, frequentemente, usado por psicólogos e sociólogos  referindo-se a pessoas cujo caráter anti-social é principalmente devido a deficiências nos pais (geralmente a ausência do pai) ao invés de uma característica inerente do temperamento. Alguns fazem uma clara distinção entre o sociopata (que se tornou um psicopata por causa das circunstâncias sociais) e um verdadeiro psicopata (que nasceu desse jeito). 
Segundo disseram,  o meio em que a moça em questão se criou, não foi dos mais, digamos, fáceis. 
A mídia quer ibope (quase sempre sem nenhum tipo de ética) e um marido, bonito, aparentemente bom caráter e bem sucedido, chorando em rede nacional, é lucro certo. E, também, condenar a moça é outro caminho certo para um alto ibope. Mas é correto levantar, dentro de um tema tão comum (ainda que nada banal) quanto a traição, outro tema tão complexo e sério quanto a sociopatia?  
A dor de quem é traído arrebanha defensores ferrenhos, e eu entendo, mas ainda assim, é preciso cuidado para não rotular a outra parte, pois por mais asquerosa que seja sua postura (e é), todos merecem, senão uma chance, pelo menos seriedade ao se levantar uma questão tão dolorasa e complexa quanto essa.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Um propósito para minha existência

Meu amigo, pai, padrasto, guru, enfim, uma pessoa que vale à pena ter ao lado, me disse que hoje, dia do meu aniversário,  meu passado aumentou... Aumentaram minhas memórias, lutas, enganos. Verdade. Esse último ano, em especial, foi o ano de um grande engano.
Há uma sutil distinção entre a vida, e o ato de viver, onde navegamos os mares revoltos do momento presente. O futuro é apenas uma sombra projetada do agora, e o passado é uma folha seca ao chão - desfaz-se em cinzas. Só o presente é real. Existimos fluidicamente em um constante envolvimento com a crueza do tempo - sem antes nem depois. Tudo é ilusório, em alto grau. Vivemos em um realidade muito pequena... Carecemos de substância diante da suprema infinitude de possibilidades na existência. Racionalizamos belamente um sem número de conceitos religiosos, filosóficos, sociais, mas não percebemos que nenhuma harmonia será viável sem uma profunda transformação de nossas consciências individuais.
A vida não se encaixa em nossas banais expectativas, ela insiste em não realizar exatamente o que queremos, e quando acontece de atingirmos o que almejamos, a vida nos apresenta aquela desagradável sensação de frustração, e que nos faz sempre desejar mais do que já temos. E, então, surgem os momentos de perda e dissolução e ali ficamos, desamparados, maldizendo o mundo à nossa volta. O que é realmente valioso e digno de viver?
O movimento da vida é expansivo, mas não para fora, como uma guerra para conquistar territórios, cargo, fama, poder, prestígio que nos faria mais sedutores, idolatrados por pessoas e com ganhos materiais e emocionais. Mas um fluxo direcionado para a descoberta de si mesmo, para o amadurecimento humano integral. Mas a maioria das pessoas não quer saber destas tortuosas considerações reflexivas... Elas desejam sentir-se vitoriosas, desejam usufruir dos prazer do corpo, das riquezas, do poder. Mas a vida não se encaixa nesta perspectiva, ela segue insistindo em ser maior e mais dinâmica do que isso. Infelizes aqueles que não percebem isso.
O tempo forja a realidade última da existência, e no entanto desprezamos completamente a percepção do tempo frente às nossas experiências de vida. Nossa mente não sabe contemplar. Nós aprendemos a guardar na memória o resquícios de um tempo perdido, aquelas imagens, sentimentos e sensações congelados que fizeram parte de uma fase de nossa vida, mas que jamais conseguimos manter conosco, e nem poderíamos, pois nada disso é realmente concreto. Tudo o que vemos e percebemos são coisas, pessoas e sensações que se reconstroem a cada momento. Viver é feito dessas reconstruções, pois sem isso o mundo existencial não poderia acontecer. Nossa mente é tão viciada que costumamos olhar em volta e temos a impressão de que o tempo quase não passa, e tudo parece igual, e que aquilo continua "meu", no entanto NADA é nosso... O tempo passa e quando as mudanças acontecem (e elas estão acontecendo mesmo agora) e nos despertamos para percebê-las ficamos desesperados sem entender porque as coisas não se mantém como queremos.  Nosso vício de percepção baseado no usufruto de desejos e na imposição de nossas próprias opiniões e anseios é o real aspecto negativo da vida.
É preciso que a mente esteja mais fluida e adaptável aos processos impermanetes da existência. É preciso a calma consciência das coisas como elas são, e não como queremos que elas sejam. Esse é o meu verdadeiro propósito para mais esse novo ano de vida - o meu progresso individual, a capacidade de substituir o egoísmo e a superficialidade, viver sem artifícios, ser consciente de mim mesma e aberta aos recomeços inevitáveis - e suas consequências. E aquele grande engano que citei lá em cima foi uma das maiores lições de humildade que tive nessa  minha existência, e somente por isso, ele(com todos os seus personagens) já merece a minha gratidão.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Mulheres perigosas

Impossível resistir a Félix, de Amor à Vida. O ator está dando um show e o personagem é, de fato, impagável, assim como foi Caco Antibes interpretado por Miguel Falabela no Sai de Baixo. E assim, vou quebrando mais e mais preconceitos e me pego assistindo (muito mais capítulos do que imaginei) a novela das 9. E ainda dando boas gargalhadas.
Mas como me é impossível fugir ao vício da filosofia, fiquei a pensar no rumo que tomou a vida, até então, pacata, da boa e doce médica Leona. Só no capítulo de ontem ela cedeu à proposta do psicopata Félix, adulterou o exame de DNA e assassinou uma enfermeira que cruzou o seu caminho. Tudo isso por amor. Ou melhor, por não ser amada. Incrível o que uma pessoa pode fazer quando se sente preterida, abandonada, ferida e humilhada pelo homem que ama. Leona sempre esteve ao lado do Bruno, como aquela grande amiga, mas nutrindo por ele um amor não declarado durante anos. Fazendo-se presente em todas as situações da vida dele, certa de que um dia, ele reconheceria seu valor passando a ama-la (como se amor nascesse de alguma lógica ou racionalidade...bobagem...). O tempo  passa e ele se apaixona por outra médica, e Leona decide se declarar a ele, indo ainda mais longe (na minha concepção), ela se humilha para ele propondo, inclusive, que vivam uma história de amor de um lado só - ela o ama e ele apenas recebe esse amor. Ele a renega veementemente, e deixa claro que o único sentimento que nutre por ela é o da amizade. Ela que até então, foi a fiel amiga, guardando segredos e partilhando com ele todos os momentos de uma vida difícil, se une à Félix e, sem que ele sequer imagine, passa de fiel escudeira, a grande inimiga.
As mulheres apesar de mais passionais que os homens, são menos violentas, o que se deve, segundo a ciência, ao hormônio testosterona presente em maior quantidade no sexo masculino, e um dos grandes responsáveis pela agressividade. Enfim, é infinitamente menor o número de mulheres assassinas, mas uma mulher ofendida (dependendo da sua predisposição e do meio em que se criou, do que viu e sentiu, claro) pode ser muito mais "assassina" do que um perigoso assassino. Ainda que  produzindo pouca testosterona, ainda que sem usar da violência física, ela pode, destruir covardemente, a vida daquele que lhe feriu. Geralmente vemos isso acontecer por amor. Os homens subestimam isso, e passam a correr um risco que sequer imaginam. Nunca sabemos o que pode acontecer quando uma mulher sente-se mortalmente traída. Se ela acreditar que não tem nada a perder, ou que tenha  pouco, certamente serão capazes de tudo. Do amor diretamente para o ódio.
Desde muito nova entendi que quando acabamos uma relação falando mal do parceiro, estamos falando mal de nós mesmos. Além de ninguém errar sozinho, você dividiu com ele uma pedaço da sua vida, e energia comuns se atraem... Não é assim? Ninguém é só mal, como ninguém é só bom. E ainda que um possa ter errado 90% a mais do que o outro e ainda que, dentro de um conceito geral um possa ser 99% melhor do que o outro, há aquela "tal" relatividade presente em tudo...
Para as "Leonas da vida", vou de Clarissa Corrêa: "Tomara que a gente tenha maturidade suficiente para olhar pra dentro e reconhecer nossas falhas. Tomara que a gente consiga descartar o que não serve sem apego ou drama. Tomara que a gente possa olhar para a frente sem aquela mágoa azeda do que ficou para trás. Tomara."

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Decepção

 
Impossível conhecer o outro. 
Por um tempo acreditamos que isso se dá por culpa daquele que não se mostrou. Até reconhecer que a falha está na incapacidade do ser humano de enxergar para além do que se quer ver. 
Entregar-se é perder-se. A entrega é um ato de confiança absoluta, e o outro é sempre um ilustre desconhecido. Na boa fé, você jura que conhece. E não bastando acreditar conhecê-lo, ainda costuma ousar reconhecer-se nele. 
Mas quem é ele?
E passa a enxergar-se somente dentro dos olhos dele. 
Ao confiar demais, você se trai. Embarca em um trem cujo maquinista não veio com referências e muito menos com garantias.
E você vai... 
Muitas vezes a decepção nasce em um terreno adubado pelo excesso de boa-fé. 
E aí chega um momento em que você olha, olha de novo e não se vê mais ali. No outro dia, insiste e olha de novo, e percebe que o outro já virou as costas e se foi. Você, então, não sabe mais onde está. E começa a se buscar em outros lugares, que não mais dentro daqueles olhos onde você mergulhou sem coletes salva vidas.  Pronto! Temos agora um náufrago em alto mar de infinitas mágoas. 
Mas é preciso lembrar que outras pessoas chegarão...  Alguém que entenda que o seu direito termina quando começa o do outro.  
Enquanto isso é preciso seguir nadando e perdoando a si mesmo e aos que cruzaram o seu caminho... Todos eles, sempre grandes professores. 
É aquela velha máxima  - decepção não mata, ensina a viver. 
E ensina mesmo.
 

domingo, 14 de julho de 2013

Maquiavel, o amor e algumas considerações

Recebi antes de ontem o e-mail de uma mulher (essa, nunca tinha sequer, ouvido o nome). Não entendi ao certo o objetivo... muito bem escrito, com um ar poético... Não sei se era um desabafo, uma tentativa de parceria perante uma situação comum (já passada), ou os dois. De qualquer forma, foi em vão. Não coloco lenha em fogueira que já apaguei.
"Sei que você foi vítima..." Erro! Vítima é aquele que sofre por culpa do outro, e isso não aconteceu. "...você foi usada..." Fui? Então, usei também e bem usado. 
O e-mail mereceu uma análise, e serviu de tema  para um assunto que tanto gosto, que são os relacionamentos.
Aquilo que a maioria das pessoas custa a enxergar por medo, comodidade ou conveniência, eu enxergo muito rápido, e, como sou frontal pergunto logo, portanto, dificilmente entro em alguma história como vítima. Eu não compactuo com essa "novela dos vitimados", pelo simples fato de não acreditar nela. Raciocinando friamente fica fácil. 
Como diria Maquiavel "os fins justificam os meios". Só que as pessoas resistem em aceitar que tornam-se maquiavélicas na conquista de um amor. E se contorcem em seu "amor próprio" quando descobrem que o outro mentiu, inventou, ludibriou. Eu raciocino de outra forma. Penso que isso só aconteceu porque eu ainda era importante, porque a pessoa em questão não queria me perder, porque ela estava "ganhando tempo" para resolver outras questões. Não estou valorando o desvalor, só estou sendo lúcida: quem nunca fez uso de algum artifício, digamos, questionável para proteger uma história de amor na qual estava apostando? Abaixo a hipocrisia, né?
Desmarcar à meia a noite, às vésperas do encontro porque alguém da família tinha sido hospitalizado em estado grave, protelar por meses outro encontro porque estava de repouso com uma pedra, no rim, no fígado, no baço, na cabeça ou seja lá onde fosse,  não atender a ligações porque estava em reunião com um superior, justificar que não termina a relação com uma quase ex por isso ou aquilo, enfim, tudo pode ser mentira (e era) mas ainda assim, a mentira se justificava por ser em defesa daquele sentimento de amor. Mentir por amor é algo maquiavélico? Eu sou fã de Maquiavel, talvez eu veja além dos outros. Ele dizia também "Todos vêem o que pareces, poucos percebem o que és."
Mas, segundo meu entendimento, tudo torna-se injustificável, quando, no lugar de preservar aquele amor, as mentiras são ditas por covardia de assumir para o outro que  tudo mudou, que o sentimento passou, e ela não encarna mais o seu conceito de amor (afinal outra já está encarnando). Ninguém tem o direito de privar o outro dessa informação e optar por seguir "enrolando", tirando-lhe a chance de buscar outro amor, outra história, outros beijos, outras noites de amor. Como também, ninguém tem o direito de se esconder atrás do outro, imputando-lhe uma responsabilidade inexistente, como forma de (tentar) justificar sua decisão de ir embora. Essa, eu afirmo sem medo de ser injusta, que é uma atitude desumana, covarde, imoral. E tanto é assim que aquilo que seria um simples fim (como milhões de fins) torna-se fuga. Nesse momento, de Maquiavel passamos para Hittler:
"Toda propaganda tem que ser popular e acomodar-se à compreensão do menos inteligente dentre aqueles que pretende atingir." Só que tudo fica reles quando a maioria do elenco escolhido, me parece que passou longe de ser composto pelos(nesse caso pelas) "menos inteligentes".
Enfim, de tudo ficam aprendizados, até mesmo do referido e-mail que me possibilitou fazer essas considerações.
 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Revenge


Assistir televisão no domingo é para grandes guerreiros... Iniciar a semana com Faustão, Fantástico e aquela profusão de soco e sangue dos filmes no fim de noite é um ato de extrema coragem, ou... de auto punição. Mas desde que anunciou a estreia de Revenge, decidi que assistiria a série. E não me arrependi. Trata da alma humana, seus conflitos e complexidades. Tudo que me fascina.
Uma criança que foi covardemente privada da companhia do pai e criada em um reformatório onde  cresceu acreditando que o pai era um assassino terrorista. Em meio ao sentimento de rejeição, indignação e saudade desse pai, ela completa a maioridade, e, só então, descobre que tudo não passou de uma trama cruel feita pelos milionários e, até então, "grandes amigos" da família. Sua existência passa, assim, a ter um propósito - vingar cada uma daquelas pessoas que destruíram sua vida e a vida de seu pai, já morto. Uma linda garota fria, culta, educada e rica entra em ação, e mente, manipula, e destrói. Como diz meu filho que sempre assiste comigo: "mãe você é lesada demais", devo ser, porque enquanto ele esbraveja, ali ao meu lado, com raiva das atitudes da personagem, eu, apesar de não tentar justifica-las, sinto compaixão. A vida foi cruel demais com ela, que reagiu como lhe foi possível. Vingar é a única forma de aplacar sua dor, e isso não é fruto de uma escolha fria e calculada, muito pelo contrário, é resultado de uma absoluta falta de escolha. Em meio a essa história, ela teve chances de amores sinceros que lhe acenavam para uma nova vida, mas o estrago feito pelo peso do passado esmagou o convite para um futuro livre e feliz (...pequenos medos e os pequenos prazeres não passam de sombra da realidade...)
Tenho uma grande amiga que conheceu uma pessoa pela internet que mora em uma cidade vizinha, e já na primeira semana se conheceram pessoalmente. Por coincidência ele havia sido casado com uma conhecida nossa e foi fácil ficar sabendo que ele sempre fora, digamos, um homem de muitas mulheres. Ainda assim, eu fui a primeira a entrar em defesa, não dele especificamente, mas do ser humano em si, que a meu ver, está em constante mudança e sempre merece o benefício da dúvida. E ela, então, decidiu apostar. Seguidamente choveram telefonemas anônimos para seu celular, para sua casa, além de e-mails desconhecidos contendo ameaças e vários tipos de alertas. Enfim, parece que um filme estava sendo reprisado em minha frente. Eu acabara de viver tudo aquilo e, essa amiga me acompanhou de perto, insistindo, dia a dia, para que eu deletasse a pessoa e todo aquele entorno da minha vida. Nunca lhe dei ouvidos. Apostei até o último minuto. De fato, me quebrei em várias partes. Mas, inacreditavelmente, eu ainda lhe digo para que dê chance a ele. Porque acredito que as pessoas não são iguais, acredito que as pessoas mudam e acredito que todos merecemos a chance de ser acolhidos. Sei que o risco é muito grande, mas fico feliz por não me deixar contaminar pelo pessimismo e a amargura, pelo simples fato de ter vivido isso. Na vida não há vítimas e tudo pode ser diferente. Sempre pode.
Voltando a Revenge, no último domingo a "perversa" Amanda Clarke, se enternece ao perceber que a irmã seria indiretamente prejudicada por um plano seu e, então, não o leva adiante. Parecia que eu estava frente a uma cena da vida real, com pessoas reais de tão feliz que fiquei... Pela primeira vez ela demonstrara afeto!
Ninguém merece rótulos definitivos por mais grave que tenham sido seus atos. Todos têm direito a chances. Dentro de nós mora uma essência divina e nunca sabemos quando ela poderá brotar, e tenho comigo que ela sempre brota. Pode ser que isso ocorra bem aos poucos, timidamente, mas é certo que uma hora ela chega colocando por terra tudo o que, até então, era sombra. Eu só olho para os meus semelhantes com esperança. Creio que todos sejam do bem. Talvez eu ainda me magoe muito por conta disso, mas não tenho escolha... E afinal, no fundo, tudo é uma grande ilusão.
Então, apesar de tantos pesares, ainda dou a chance a Amanda Clarke e ao novo namorado da minha grande amiga. Minha crença na bondade humana supera meus temores. Como disse, somos todos um.
Como escreveu o sábio Thoureau no belíssimo livro Walden:
"Ao mesmo tempo que a realidade é uma fábula, simulações e enganos são considerados como as verdades mais sólidas. Se os homens se detivessem a observar apenas as realidades, e não se permitissem ser enganados, a vida, comparada com as coisas que conhecemos, seria como um conto de fadas ou as histórias das Mil e Uma Noites.
Se respeitássemos apenas o que é inevitável e tem direito a...
ser, a música e a poesia ressoariam pelas ruas fora. Quando somos calmos e sábios, percebemos que só as coisas grandes e dignas têm existência permanente e absoluta, que os pequenos medos e os pequenos prazeres não passam de sombra da realidade, o que é sempre estimulante e sublime. Por fecharem os olhos e dormirem, por consentirem ser enganados pelas aparências, os homens em toda a parte estabelecem e confinam as suas vidas diárias de rotina e hábito em cima de fundações puramente ilusórias. "
 

domingo, 7 de julho de 2013

No fundo, somos um só

Nasci primeira - primeira filha, primeira neta, primeira bisneta. Sempre a primeira aluna da sala, primeiro lugar nos concursos de poesia, primeira a se apresentar em um recital de piano, aos 6 anos de idade (tocando prelúdio, e não valsinhas). Fui crescendo e, sem esforço, fui deixando para trás todos os primeiros lugares. Passei de orgulho a problema para meus pais. Odiava aquele refinamento - guardanapo no colo, dezenas de copos e talheres à mesa. Enquanto minha mãe se equilibrava em salto agulha, e, maquilada, desfilava sua elegância, eu me agarrava ao tênis e jeans, levando-a ao desespero por não aceitar sequer um batom. Não participava das reuniões com os filhos dos seus amigos. Minha turma era outra, meu sonhos eram outros. Eles projetaram em mim o que eu jamais poderia realizar. Um dia desistiram de me "adestrar". Meus olhos eram atentos demais para aquele universo de olhos vendados. Fiquei sozinha muito cedo, e por muito tempo. Levei daquele ambiente em que cresci, muitas referências do que não fazer. Ainda assim, tive boas coisas, como acesso a uma biblioteca daquelas que vai até o teto, com direito a escada que corria nos trilhos, tive o som clássico do piano nas madrugadas insones de minha mãe, tive cultura, bom gosto e educação, em detrimento do tanto de outras coisas, emocionais, que me faltaram. Ninguém me ensinou sobre o amor. Queria ter presenciado afeto. Relações para mim eram sinônimo de sofrimento. Jurei que conduziria minha vida de forma diferente. Não queria repetir aquele padrão. Consegui, ou o destino já tinha determinado? Ainda não sei. De qualquer forma, ao invés de me trancar, cultivei relações sólidas, fieis, prazerosas. Fico feliz. Nunca mais me senti tão só, diferente daquela época em que eu me isolava para escolher o mundo que queria viver e as pessoas que colocaria nele. Nem sempre acertei, claro, mas tudo foi de verdade, diferente dos referenciais que tive, onde fazer de conta era a ordem da vez. Até o que parece não ter sido de verdade, foi, porque a verdade "não contém", ela "está contida", e mora em mim, de um jeito próprio, um jeito dela, um jeito que não contrasta com a mentira, apenas se afina com a consciência. Me faz bem. E creio que faça bem a outros. Muita coisa que foi difícil, que foi ruim, que foi dor e deixou dor em mim, transformei em várias coisas que nem sei dizer. Nunca dei o troco ao mundo, nem bati em ninguém os tapas que me foram dados, ainda que muita gente tenha devolvido em mim, o troco por sua vida difícil. Ainda assim guardo comigo que ninguém causa dor ao outro por escolha, prefiro crer que isso ocorra justamente pela falta dela. Não consigo imaginar que seja de outra forma. Estarei sempre na linha de frente para defender o ser humano, porque no fundo, somos um só, filhos do mesmo Pai, ainda que haja tanto descompasso entre nós. No fim, tudo é apenas uma questão de tempo. E, de encarnações. Não tenho dúvidas disso.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Morreram partes de mim

Eu estava ainda deitada na cama. Ele saiu do banho, se aproximou de mim e disse "pronto, agora é só te matar". Sorriu, completando "não é assim que fazem nos filmes?" Eu ri.
Aquelas palavras continham verdade. Significados e significantes. Era uma brincadeira ali. Seria uma verdade acolá.  Outros e outros momentos como aquele. Nunca mais fui carinhosamente ameaçada de morte. O tempo passou. Estou viva. Mas morreram partes de mim. Ou uma parte. A melhor. Aquilo não era uma brincadeira. Era uma promessa. E como deve ser com uma pessoa de palavra, cumpriu-se. Morreu meu olhar sobre o outro. Minha crença nas palavras alheias. Minha capacidade de enxergar a alma. Matou minha boa fé. Matou minha singeleza. Perdi uma luta de tantas décadas, e, depois de resistir a tanta coisas, percebo que endureci. Será? Temo perder a ternura, mas algumas coisas novas me levam a crer que não... Há estoque de ternura em mim. Tive medo de passar a desrespeitar o amor. Tive medo de nunca mais querer cuidar do outro. De não ter mais colo a dar. Nem mãos para afagar cabelos. Nem palavras doces para acalmar tormentas. Tive medo de não querer mais oferecer a minha mão. De não sonhar. De não ter ilusões. Ainda me assombro. Acordo no meio da noite. Adormeço durante o dia. É estranho experimentar medos novos. Medos que nasciam enquanto certezas tão doces morriam. Mas vez por outra percebo que  nada em mim está definitivamente morto. Deixou-me ranhuras, mas tenho inteirezas maiores.
 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Felicidade

 O mundo parece uma pista de corrida onde a felicidade é o prêmio que todos se atropelam para conquistar.
Cada um vê sua felicidade dentro de um contexto que sempre se difere do vizinho, e por ser um conceito individual não há como enquadrá-la, apesar dos milhões de manuais que teimam em ensinar fórmulas para conquistá-la. Tem um autor que diz que o "anseio é realista quando você parte da premissa de que a pista para a realização deve estar em você". É nessa pista que você tem que correr, as outras são becos sem saída e te levarão a lugar nenhum. Para ser feliz é inevitável pagar o preço de uma auto confrontação severa. Você tem que assumir a responsabilidade pelo seu estado atual e pelo estado ao qual aspira. Enquanto não tiver consciência disso, vai repetir escolhas equivocadas e continuar infeliz.
Momentos infelizes proporcionam uma compreensão mais profunda das relações entre causas e efeitos e uma percepção de sua força e de seus recursos internos. Mas para isso também é preciso consciência. E nada disso é em vão, o ruim é "errar o mesmo erro". Reproduzir escolhas em escala vida afora é viver na marcha à ré. Todos erram muito até acertar. Faz parte do aprendizado. O ruim é ficar escolhendo as mesmas situações, pensamentos, emoções, relacionamentos, teimando em repetir interminavelmente o mesmo padrão. Isso é improdutivo, não leva a lugar algum e ainda adoece você e contamina quem está a sua volta. Sem consciência ninguém se liberta. O hábito pode ser um inimigo poderoso quando decidimos nos livrar dele... Sempre cria raízes profundas e para modificar isso é preciso força, e ninguém é forte se estiver inconsciente de si mesmo. 
Ser feliz é o maior projeto da humanidade e todos acreditam depender de pessoas e coisas para realizar essa conquista. Mas não deveria ser assim. Eu aposto que a felicidade verdadeira só existe a partir de um encontro solitário consigo mesmo. No mais conquistaremos bons e inesquecíveis momentos felizes que podem durar algumas horas ou algumas décadas.
Mas em detrimento de tudo isso, existe uma certeza interna em cada ser humano e que nunca pode ser abandonada que é o desejo que nasce da sensação de que sua vida pode ser muito mais.
 
 
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