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terça-feira, 9 de julho de 2013

Revenge


Assistir televisão no domingo é para grandes guerreiros... Iniciar a semana com Faustão, Fantástico e aquela profusão de soco e sangue dos filmes no fim de noite é um ato de extrema coragem, ou... de auto punição. Mas desde que anunciou a estreia de Revenge, decidi que assistiria a série. E não me arrependi. Trata da alma humana, seus conflitos e complexidades. Tudo que me fascina.
Uma criança que foi covardemente privada da companhia do pai e criada em um reformatório onde  cresceu acreditando que o pai era um assassino terrorista. Em meio ao sentimento de rejeição, indignação e saudade desse pai, ela completa a maioridade, e, só então, descobre que tudo não passou de uma trama cruel feita pelos milionários e, até então, "grandes amigos" da família. Sua existência passa, assim, a ter um propósito - vingar cada uma daquelas pessoas que destruíram sua vida e a vida de seu pai, já morto. Uma linda garota fria, culta, educada e rica entra em ação, e mente, manipula, e destrói. Como diz meu filho que sempre assiste comigo: "mãe você é lesada demais", devo ser, porque enquanto ele esbraveja, ali ao meu lado, com raiva das atitudes da personagem, eu, apesar de não tentar justifica-las, sinto compaixão. A vida foi cruel demais com ela, que reagiu como lhe foi possível. Vingar é a única forma de aplacar sua dor, e isso não é fruto de uma escolha fria e calculada, muito pelo contrário, é resultado de uma absoluta falta de escolha. Em meio a essa história, ela teve chances de amores sinceros que lhe acenavam para uma nova vida, mas o estrago feito pelo peso do passado esmagou o convite para um futuro livre e feliz (...pequenos medos e os pequenos prazeres não passam de sombra da realidade...)
Tenho uma grande amiga que conheceu uma pessoa pela internet que mora em uma cidade vizinha, e já na primeira semana se conheceram pessoalmente. Por coincidência ele havia sido casado com uma conhecida nossa e foi fácil ficar sabendo que ele sempre fora, digamos, um homem de muitas mulheres. Ainda assim, eu fui a primeira a entrar em defesa, não dele especificamente, mas do ser humano em si, que a meu ver, está em constante mudança e sempre merece o benefício da dúvida. E ela, então, decidiu apostar. Seguidamente choveram telefonemas anônimos para seu celular, para sua casa, além de e-mails desconhecidos contendo ameaças e vários tipos de alertas. Enfim, parece que um filme estava sendo reprisado em minha frente. Eu acabara de viver tudo aquilo e, essa amiga me acompanhou de perto, insistindo, dia a dia, para que eu deletasse a pessoa e todo aquele entorno da minha vida. Nunca lhe dei ouvidos. Apostei até o último minuto. De fato, me quebrei em várias partes. Mas, inacreditavelmente, eu ainda lhe digo para que dê chance a ele. Porque acredito que as pessoas não são iguais, acredito que as pessoas mudam e acredito que todos merecemos a chance de ser acolhidos. Sei que o risco é muito grande, mas fico feliz por não me deixar contaminar pelo pessimismo e a amargura, pelo simples fato de ter vivido isso. Na vida não há vítimas e tudo pode ser diferente. Sempre pode.
Voltando a Revenge, no último domingo a "perversa" Amanda Clarke, se enternece ao perceber que a irmã seria indiretamente prejudicada por um plano seu e, então, não o leva adiante. Parecia que eu estava frente a uma cena da vida real, com pessoas reais de tão feliz que fiquei... Pela primeira vez ela demonstrara afeto!
Ninguém merece rótulos definitivos por mais grave que tenham sido seus atos. Todos têm direito a chances. Dentro de nós mora uma essência divina e nunca sabemos quando ela poderá brotar, e tenho comigo que ela sempre brota. Pode ser que isso ocorra bem aos poucos, timidamente, mas é certo que uma hora ela chega colocando por terra tudo o que, até então, era sombra. Eu só olho para os meus semelhantes com esperança. Creio que todos sejam do bem. Talvez eu ainda me magoe muito por conta disso, mas não tenho escolha... E afinal, no fundo, tudo é uma grande ilusão.
Então, apesar de tantos pesares, ainda dou a chance a Amanda Clarke e ao novo namorado da minha grande amiga. Minha crença na bondade humana supera meus temores. Como disse, somos todos um.
Como escreveu o sábio Thoureau no belíssimo livro Walden:
"Ao mesmo tempo que a realidade é uma fábula, simulações e enganos são considerados como as verdades mais sólidas. Se os homens se detivessem a observar apenas as realidades, e não se permitissem ser enganados, a vida, comparada com as coisas que conhecemos, seria como um conto de fadas ou as histórias das Mil e Uma Noites.
Se respeitássemos apenas o que é inevitável e tem direito a...
ser, a música e a poesia ressoariam pelas ruas fora. Quando somos calmos e sábios, percebemos que só as coisas grandes e dignas têm existência permanente e absoluta, que os pequenos medos e os pequenos prazeres não passam de sombra da realidade, o que é sempre estimulante e sublime. Por fecharem os olhos e dormirem, por consentirem ser enganados pelas aparências, os homens em toda a parte estabelecem e confinam as suas vidas diárias de rotina e hábito em cima de fundações puramente ilusórias. "
 

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