O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Solidão não é estar só

Solidão é falta e não ausência. Pois há presença na ausência.
A pior solidão é sentida quando se está acompanhado. Ter com quem conversar e viver no silêncio. Ter com quem chorar, mas entender que só será, mais ou menos bem-vinda, se estiver sorrindo. Ter com quer sair, mas preferir ficar. Ter com quem dividir a vida porque, por exemplo, se casou, e ser apresentada ao imenso abismo que há entre teoria e prática. 
Enfim, teoricamente não há solidão quando se tem alguém ao lado. Mas quando esse alguém é apenas uma presença, essa certeza vira pó. Ter uma pessoa ao lado jamais foi sinônimo de companhia. 
Não acredito muito na solidão como uma escolha de vida. Já dizia Aristóteles que Quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem ou é Deus.
Solidão a dois é a mais difícil entre as solidões, é quando se descobre, contrário do que disse no começo, que há ausência na presença. Mas também é um rico momento para se despertar e compreender que antes só do que mal acompanhado.
Quem experimenta o prazer de uma companhia, seja de amigos, filhos ou de um amor, sabe o gosto de dividir um olhar, um poema, uma paisagem. As relações precisam ser plenas. Relacionamento é via de mão dupla, seja ele de que natureza for. Se você doa sem receber nada em troca, a fonte seca. É preciso reconhecer se há, presença ou companhia ao seu lado.
O filósofo Nietzsche já sabia disso no século XIX quando escreveu - Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia.
 

Realidade é apenas uma das muitas possibilidades

E de repente tudo muda de lugar. O relógio marca a hora, indiferente ao momento. O certo e errado vagam por aí coroando e punindo, mas quem mensura o que? Quem adjetiva? Tudo parece igual e por vezes tão diferente. Mas para quem? Tantas vezes o recuo é o avanço, partes do movimento da vida, unidos e separados articulando e expressando o tempo. E o que é o tempo senão a consciência dramática de nossa efemeridade? Efêmeros dentro da eternidade. Onde estamos? Aqui. Mas onde é aqui? Existo. Eu vejo, me veem. Eu sinto, me sentem. Isso significa que existo. Mas em qual dimensão estou? Em muitas. As realidades são múltiplas, nossa consciência sabe disso, pois só ela pode ir além desse mundo material.
 
Qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do Amor de Cristo?"(Efésios 3:18)
Espaço e tempo são ilusões. Estou aqui e lá, viajo no ontem e no amanhã. Encontro pessoas tão distantes. Não dependo de datas e horas. Distância é ilusão. Tudo é ilusão. A sintonia transcende. O que é real? Tudo e nada. A realidade possível está na existência de várias realidades. Universos paralelos. Indiscutível.
O mundo objetivo está na mente de quem observa. O que é, então, verdade? Nada... Tudo...

É na expansão da consciência que nos tornamos seres multidimensionais. E quanto mais cônscio disso, menos medo e mais desapego. Saímos dessa realidade para entrarmos em outras. Mas permanecemos aqui. E o nosso entorno nos pune. E, sem saída, nos isolamos desse mundo tido como real (ou o mundo nos isola?).
Todas as nossas possibilidades estão acontecendo simultaneamente, mas estamos focados somente na realidade, e ela é apenas uma possibilidade entre tantas outras que também são reais...

terça-feira, 28 de maio de 2013

Possuimos muito de nada...


Schopenhauer faz uma referência curiosa em relação ao verdadeiro "eu" quando diz:
Seja você mesmo! Você não é na verdade nada do que faz, pensa e deseja agora.
Esse olhar lançado à parte daquilo que representamos, proporcionando o desapego da certeza de que somos isso que mostramos, esse questionamento dos valores aceitos e da força social, é exatamente o que nos guia ao caminho de volta para dentro. Lá, temos a chance do reencontro com uma essência que geralmente é abandonada para que possamos acatar as regras e sermos socialmente aceitos nesse mundo normatizado, robotizado, dogmatizado.
Esse processo de retorno se dá quase sempre quando as exigências sociais vem ao encontro de nossos anseios pessoais. Nesse momento conectamos com uma potência que sempre morou em nós, mas precisou ser deixada em um canto qualquer para que pudéssemos seguir "obedientes" à moral dominante. Potência acionada - acabou o sossego... Somos instados a abandonar nossa zona de conforto, e somos submergidos pela dúvida sobre ser ou não isso mesmo o que queremos. 
Essa força questionadora é Deus para uns, pois liberta, mas é o demônio para aqueles que não conseguem se libertar, pois quando a consciência é desperta, fica ainda mais difícil retornar à corrente. Não retornar é seguir quase sozinho, pois o crescimento pessoal submete-se ao crescimento econômico. E é para lá que a grande maioria segue.
Certa vez, li que a sociedade encaminha o indivíduo, por uma série de estímulos e vantagens, para uma maneira de pensar e agir que, quando se torna hábito vigora nele e acima dele, trazendo riquezas e honras, mas também exige tanto que priva-lhe o sentido da sensibilidade necessária para aproveitar essas riquezas e honras. 
O mundo tornou-se uma perigosa armadilha para nos apartar de nós mesmos. Estamos aleijados, marionetes da mídia, nossa tendência é a da massa, possuímos muito de nada...
 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Bissexualidade - lição de preconceito em rede nacional

Confesso que, constantemente, preciso vigiar meu "ataque" de preconceito em relação às novelas, até porque, é incoerente com o fato de que, vez por outra, estou ali, em frente à TV. Estreias e finais de qualquer uma delas, desperta minha curiosidade, talvez  por acreditar que todo começo encerra em si um final, e ficar curiosa para conferir, na ficção, essa poção de vida real.
Não dá para falar, simplesmente, que televisão é uma péssima opção e que toda a programação é um desserviço à humanidade porque não é tão simples assim. Aliás nada é tão simples assim. A simplificação é uma forma primária do pensamento, e tento fugir dessa "armadilha", que reduz qualquer fenômeno a uma relação de causa e efeito, bom e mal, preto e branco, homo e hetero,  pobre e rico, culto e ignaro, pois é justamente daí que nasce o preconceito. Ao simplificar acolhemos a deficiência no nosso pensar,  ficamos privados de conhecer a verdade do outro, e, reagimos àquilo que pensamos entender, mas na grande maioria das vezes, não entendemos.
No capítulo de ontem, Matheus Solano deu um show de interpretação, e os autores e roteiristas, um show de preconceito. Em uma mesma cena, transbordou intolerância e falso moralismo.
Um marido apavorado ao ter sua bissexualidade descoberta pela  esposa, e uma esposa perplexa, indignada, revoltada, possessa, como ficam a maioria delas quando traídas. Independente do meu conceito de traição, em tese, sei que é assim que funciona. Até aí tudo bem. Ou, pelo menos, tudo como costuma ser. Ocorre que, frente ao diálogo ali proposto, a esposa passou de  vítima de uma traição a vítima de uma hecatombe nuclear, ao que questiono: só porque a traição do marido se deu com um homem e não com uma mulher? Esse diferencial torna a traição mais grave? Potencializa a dor? Definitivamente, não entendo... Traição dói quando se sente que o amor foi traído, e pelo que eu saiba amor não tem sexo. Ou tem?
Antes daquele marido que, em absoluto martírio e desespero, se assumia bissexual perante a esposa, estava um ser humano completamente perdido, pedindo socorro. E essa esposa, antes de ser a vítima de uma traição (a meu ver, uma traição como outra qualquer) não deveria acolher a dor do outro conjuntamente com a sua?  Ou alguém tem a rigidez de pensar que aquele que trai não sofre? Ainda mais quando ele próprio se pune e se envergonha diante do situação. Comum que ela se debatesse, gritasse, chorasse, afinal, ela foi traída, isso não está em discussão. Mas a conotação conferida a cena é a de que ela fora duplamente traída, assim mesmo - como um homicídio duplamente qualificado - uma traição e, como agravante, outro homem.
Foi desperdiçado a chance de dar uma bela lição de generosidade, compreensão e amor ao próximo em horário nobre, e ao invés disso, vimos uma aula de preconceito. Deplorável... 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sei que chegou a hora de sair

Me encolhi perante o mundo nesse último ano. Deixei de interagir com a realidade. Vivi no mundo das ideias. Disse mais “nãos” que “sins”. Perdi momentos. Me afastei de tudo. Mas foi um aprendizado, talvez, dos maiores que tive na vida. Sinto-me mais humana, mais tolerante, mais generosa. Percebo as pessoas com outros olhos, como se todos merecessem sempre uma chance, e merecem, mas saber é diferente de sentir. Eu já sabia, mas não sentia. Foi um período de solidão, e quando percebi, transformei-o em solitude - um isolamento voluntário onde busquei a paz em mim mesma. Consegui. Aos poucos vou redescobrindo que ter pessoas em volta de mim é como edredom no inverno. Chega de solidão. Me deixei de lado, só aguardando o que poderia ser. Não foi. E, mesmo certa de que certezas não existem, me arrisco a dizer que nunca será.
Queria poder fazer o parto de algumas frustrações. Mas não quero dar vida a sentimentos  que não levam a lugar algum. Descobri mais uma vez que não sei nada, e que, se não conheço nem mesmo a mim, não posso ousar acreditar que conheço os outros. Não conheço, mas ainda assim, estranhamente assim, me reconheço em alguns. 
Meu coração precisa parar de sair do peito. Tento acolher quem nem pediu abrigo. Quero curar dores alheias, que acabaram por se tornar mais minhas que do outro.
Uma tempestade se anunciava. Não dei atenção... não fechei portas nem janelas e ainda achei que meu jardim interno, agradeceria a terra molhada. Mas nada floresceu. Ou melhor, claro que floresceu... sempre floresce. Acho que não foi a flor que eu queria. Só isso. Me molhei toda e ainda tenho frio. Coloco blusas, cubro os pés, acendo a fogueira, e... nada!
Queria me esconder. Estou com raiva de mim. Dos meus olhos ternos. Parece que vejo o que ninguém vê. Acredito no que ninguém crê. E no fim, de nada adianta.
Não será a primeira vez que preciso me reinventar. Quando você adia mudanças, a dor vem e faz o serviço. Novamente, vou mudar de lugar, de pessoas, de projetos. Vou abandonar vícios. Vou destrancar a porta. Chegou a hora de sair. Ainda que sem vontade, ainda que tentada a aguardar mais um pouco, sei que chegou a hora de sair.

 

domingo, 19 de maio de 2013

O "bom do amor" não foi feito pra durar

Continuo me surpreendendo com o fato de que a verdade de ontem pode ser a mentira de hoje e vice e versa. Vejo isso por mim mesma. Eu me arrepiava quando ouvia alguém dizer que amores não foram feitos para durar. Na verdade, nunca fui de ter certezas, e ainda assim, as poucas que tive perderam-se. Ou perderam-se nos fatos, ou perderam-se de mim. Ou me perdi nelas ou me perdi delas. Sei lá. O amor está entre elas. Eu ousava ter algumas certezas acerca dele.
Antigamente, muito antigamente, quando eu ainda lia Pollyana Moça, eu jurava que todo e qualquer "eu te amo" era dito através do coração. Com o tempo percebi que não. Que "eu te amo" poderia também ser dito para atender a algum tipo de conveniência. Odiei isso e desejei pena de morte para aqueles que desrespeitassem tanto assim o amor. Até entender que "eu te amo" também encerra em si, certa relatividade. Li muito, discuti outro tanto, pesquisei ainda mais, para entender que só os anos me trariam algumas micros e incertas respostas, e, ainda por cima, mergulhadas em subjetividades. Claro. Não desejo mais a pena de morte simplesmente porque o "eu te amo" de alguém tem um significado diferente do meu. Pois é... os contos de fadas não mencionaram que até mesmo os príncipes encantados tinham um "eu te amo" próprio. Todos temos. Ninguém pronuncia um "eu te amo", sem acreditar, pelo menos naquele instante, que ama. Isso pode ser visto por alguns como algo leviano - declarar-se de porte de um sentimento que já trás embutido em si promessas imensas, enquanto ainda não se tem certeza. Mas, partindo do pressuposto de que certezas não existem, e promessas são apenas promessas, tudo fica mais fácil de ser, senão compreendido, pelo menos aceito.
Chego aos poucos a uma conclusão estranha. O amor dura sim. Mas o bom do amor (como dizia Cazuza), aquele bom mesmo! que transborda no momento daquele "eu te amo", esse não foi feito para durar. Ninguém suporta a intensidade delirante de um sentimento, esse tipo de emoção tem o tempo contado. Caso contrário não sobrevivemos. Sinto muito cinderelas! 
Não se pode prender o que é fluído. Amor é vento. Ao ouvir um "eu te amo" pronto! Os sonhos já se formam lá no "sim, eu te aceito como meu legítimo esposo". O bom do amor não dura até lá. Não foi feito para ser enquadrado. Vive de cenas. De episódios não escritos. De momentos. De suspiros. Da expectativa da próxima vez.  E, então, o "eu te amo" era só isso. Ou tudo isso. Depende de quem vê. Depende de como vê. Depende do que se quer ver. No fundo eu nunca quis a calmaria do amor que dura, talvez por nunca ter acreditado nessa possibilidade. Talvez por acreditar que amor é liberdade incondicional. Hoje, estou mais de Ferreira Gullart, mas pode ser que um dia eu mude, outra vez, quem sabe...
"O verdadeiro amor é suicida. O amor, para atingir a ignição máxima, a entrega total, deve estar condenado: a consciência da precariedade da relação possibilita mergulhar nela de corpo e alma, vivê-la enquanto morre e morrê-la enquanto vive, como numa desvairada montanha-russa, até que, de repente, acaba."

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Um recadinho para você.

 
A moral do "rebanho" valora sempre o outro como ruim e "nós" como bons.
Nietzsche dizia que o rompimento com o padrão moral era a única forma de nos livrarmos dos conceitos errôneos que a sociedade nos "enfia" de bem e mal para que, livres, possamos descobrir, através da consciência, e não da obediência,  os verdadeiros valores que nos motivarão a superar nossos instintos e colaborar para uma humanidade autenticamente voltada para o bem.
Tenho sentido "na pele" que estamos cada vez mais distantes disso. Poucos desenvolvem a consciência, preferindo encostar, confortavelmente, na obediência divina e amarrando seus instintos como se fossem "bicho bravo", esquecendo-se, que um dia, sempre escaparão, fugindo do controle.
Há um ano eu tenho sido vítima de "instintos fora do controle" de pessoas que se auto intitulam do "bem", onde a palavra Deus é citada em profusão, funcionando como escudo para sua insanidade. Abri as portas da minha vida para uma pessoa, e junto com ele, sem que eu convidasse, vieram outros elementos desconhecidos para mim. Através de suas presenças impostas, conheci o que seriam sanguessugas humanos. Aos poucos foram sugando minha paz. Invadiram minha casa, meus filhos, meu telefone, meus e-mails, meu blog. Ontem minha irmã me perguntou porque eu não encerrava o blog. Quase cai dura! Jamais! Zumbis nada mais são que sombras de pessoas vivas, infelizmente têm o poder de perturbar, mas nada mais que isso. Não entendo como pessoas visivelmente articuladas desperdiçam  vida, ou melhor, a energia da vida em busca do controle de outro alguém... Todos temos uma vida ativa - trabalhamos, criamos filhos, estudamos, temos interesses, participamos de alguma forma da comunidade em que vivemos, tudo isso engrandece, enobrece, nutre, isso é o bem em nós. E, nos momentos de ócio onde pode-se ler um livro, olhar a lua, andar de bicicleta, ouviu música, essa mesma pessoa de vida tão ativa, prefere viver a minha vida. É isso... Existe alguém nesse mundão que quer ser eu! Isso é impossível, meu bem... Podemos ter passeado pelos mesmos lugares, entrado e saído pela mesma porta, esperado no mesmo ponto, olhado nos olhos da mesma pessoa, sentido o mesmo toque, até sonhado os mesmos sonhos, mas apenas isso... Nada mais que isso nos aproxima. Eu não me considero o bem e você o mal e nem vice-versa. Não tenho padrão moral justamente para não incorrer em erros terríveis, portanto não julgo, apesar de, pelas suas palavras tão "doces" ver o quanto me julga. Não tenho culpa se suas certezas escorreram por entre seus dedos. Boa oportunidade para que você aprenda a não ter certezas, porque elas não existem. Nunca existirão. Por mais maníaca por controle que você seja, no fundo você não controla nada. Mas seu jogo é altíssimo! Não sei se tem cacife para bancar. Cuide-se.
Eu estou trabalhando em uma monografia cujo tema tem exigido de mim mais do que eu poderia imaginar, acaba de ser descoberto um tumor em minha mãe, tenho uma filha de 9 anos que sente uma falta visceral do pai que foi embora há um ano( e já que você quer ser eu, saiba que eu nunca perturbei a vida dele pelo fato de nunca tê-lo considerado minha posse, aprenda isso), tenho um filho de 17 anos que mora sozinha em outra cidade a quem preciso dar constante assistência, tenho um ensino médio inteiro que me aguarda todos os dias para as aulas de filosofia que ministro com total comprometimento. Portanto, gostaria de pedir-lhe encarecidamente na presença dos meus mais de 300 seguidores que siga sua vida e, esqueça o dia, em que, de tanto investigar, finalmente você me encontrou. Deixe que eu possa abrir meu blog e ter o prazer de ler e responder as dezenas de pessoas que mandam desabafos e comentários tão pessoais que opto por nunca postar, porque a dor alheia não precisa de plateia. Não suporto mais abrir meu blog e me deparar com seus recados que declaram uma mente obsessiva pela posse e controle. Se você fosse uma leitora eu te aconselharia a se tratar, para que possa resgatar sua vida, sua paz de espírito, para que possa aprender a trocar, a respeitar, a dividir a vida com alguém, a se dar valor, para poder valorizar o outro. Enfim, você precisa aprender sobre o amor, porque dele, você não conhece nadinha.

 

domingo, 12 de maio de 2013

Mães, filhos e destino

A sociedade tenta, o tempo todo,  padronizar nossos sentimentos e reações. Assim, por exemplo, é preciso jurar de pés juntos que a maternidade está acima de tudo e todos, sob o risco de ser julgado e condenado ao fogo eterno, por não ser  grata tempo integral, a esse maravilhoso presente de Deus. 
Minha filha chegou em casa penalizada porque a coleguinha de classe lhe contou, chorando, que a mãe joga fora todos os desenhos e bilhetes que ela lhe dá. Eu expliquei que a mãe dela estava com um bebê novo em casa, e ainda trabalhava fora, e deveria estar sem tempo e que, provavelmente, fazia isso sem prestar a atenção. Ela então, me pediu que comprasse uma pasta como a que eu tenho para guardar essas coisas, para dar a mãe da colega e, assim, resolver o problema. Cá para nós, tem coisa mais chata do que aquelas dezenas de desenhos de corações que eles fazem para nós sem parar? Não. Mas quem assume isso? 
Fácil julgar, mas poucos pensam em quantas mães tiveram suas vidas completamente modificadas pela chegada dos filhos, tenham sido esses, planejados ou não. Viram seus projetos futuros virarem pó. Precisaram trocar viagens e estudo por fraldas e mamadeiras. Não puderam viver um amor porque não tinham com quem deixar o bebê. Muitas fizeram o contrário, e para não modificar sua vida, não ver projeto virar pó, não abrir mão de um amor, levavam a criança a tiracolo, criando-a sem estrutura, segurança, e  cuidado necessário... Qual escolha tiveram essas mães? Se abrem mão de realizar os projetos ou viver aquele amor para cuidar do filho, chorarão suas frustrações sobre o filho, mil vezes, ficarão arruinadas emocionalmente e o futuro, provavelmente, apresentará uma mãe doente em todos os sentidos.  Se deixam os filhos sob os cuidados de alguém, para seguir em busca de um amor, de um sonho, de um projeto, já estão condenadas, antes de tudo por si mesma, e que ninguém tenha dúvida disso. Qualquer um desses caminhos nascem de escolhas que, na verdade, nada mais foram que faltas de escolha. Pois em qualquer um desses caminhos,  no resultado final teremos filhos rejeitados e mães culpadas.
História já traçadas, onde as poucas escolhas nascem sempre a partir dos mesmos recursos emocionais e sociais. Filhos juízes de suas mães condenadas. Faltou amor? Não acredito de forma nenhuma. Sempre há  amor no coração de uma mãe, mas é preciso saber o que esse coração viu, sentiu e viveu enquanto essa mãe ainda era filha, porque é assim sempre... e assim será, sucessivamente. 
Quando eu reverencio as mães, é a todas elas, as que como eu, puderam cuidar de seus filhos com  total prioridade, e àquelas que não puderam fazer assim, porque não tinham, como eu, recursos internos e externos que lhes possibilitassem equilíbrio, maturidade, desprendimento e tranquilidade. Enfim, amamos da mesma forma, tanto eu quanto elas, o resto, foi coisa do destino. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

"...nem sempre posso querer aquilo que quisera querer"

Disse o filósofo Waldo Emerson que "O que está por trás de nós e o que está diante de nós são coisas pequenas comparadas ao que está dentro de nós".
Questionamentos pautaram minha existência, e não imagino como teria sido, se assim não fosse.  Minhas primeiras angústias surgiram, a partir, de um senhor muito idoso que carregava uma imensa cesta de vime nas costas, vendendo biscoitos. Aquele peso, pesava em mim, e mesmo nos dias em que não o via, ele me acompanhava. Ele passou a morar em mim. E muitas vezes, brincando de boneca, eu via aquela cesta imensa em minha imaginação, e ela vinha acompanhada de  porquês - porque tinha que ser assim, porque justo aquele velhinho e não o meu avô, ou o meu vizinho... Conjuntamente veio a descoberta da infinitude do mar, e uma inquietação latente tomou conta de mim, principalmente pelo fato de ninguém conseguir me explicar como alguma coisa poderia não ter fim; e  só fui descobrir, sozinha, anos depois, que simplesmente há coisas que não são passíveis ao entendimento humano.  No primeiro fato descobri o sentimento de inconformidade e indignação, no segundo, a constatação da efemeridade do ser e insignificância perante a Criação. Me aproximei de Deus exatamente nesses dois momentos - com mais ou menos 6 anos de idade. Eu amadurecia, definitivamente. Há caminhos que não têm volta, por mais custosos que sejam, e amadurecer é um deles. Sem saber despertava em mim, a tal da consciência. Continuei assim a vida toda, inconformada, indignada, buscando entender a Criação, Deus, o Universo. A inquietação me levou primeiro a contemplação e a angústia, depois à ação - o caminho exato da filosofia antiga até a modernidade. Angustiar-se perante o desconhecido, contemplar para abstrair e, finalmente, racionalizar o que for possível, para agir dentro de um contexto, quase sempre limitado.
Por longo tempo acreditei que pudesse transformar o que me cercava, não pude. Fiquei mais isolada que nunca, com um sentimento eterno de inadequação perante aqueles que haviam me apresentado o mundo, mesmo que de maneira "torta". Depois encontrei meus guetos, fui feliz, mas acho que de certa forma, improdutiva. Descobri que o coletivo disfarça a inquietação interna. Todas as religiões que experimentei me desviaram do foco, me distraíram do que era fundamental. Em cada uma delas, mais do que perdi tempo, perdi-me no tempo.  Na minha concepção, religião para ser seguida com louvor e obediência precisa, antes de tudo, de um indispensável sentimento de culpa. Disfarçadamente ainda vendem-se indulgências por aí, e, convenhamos, se vende é porque há quem compre. É na solidão que tudo acontece para mim. O autoconhecimento é a chave para o despertar da minha consciência, é onde estamos aptos a viver, verdadeiramente, sem intermediários, o imanente e o transcendente.
Sozinha me reconheço no outro. Sinto o frio alheio. E percebo que  dar o cobertor não é nada, perto do ato de cobrir. A humanidade é quase inerte, ainda não estamos despertos, fazemos quase nada, talvez porque como disse Schopenhauer: Eu posso fazer tudo o que eu quero, mas nem sempre posso querer aquilo que quisera querer.
Ainda somos pouco... muito pouco

domingo, 5 de maio de 2013

A loucura pode morar ao lado

Tudo que me cerca vira fonte de interesse e pesquisa para mim. Eu não perco a chance de estudar atitudes e comportamentos. O ser humano me intriga profundamente. Só nessa semana virei às madrugadas completando a leitura de três livros da autora Ana Beatriz Barbosa Silva - Mentes Perigosas, Mentes Inquietas, Mentes e Manias. Fonte de um aprendizado prático sobre loucura, neuroses, obsessões, enfim, várias situações que convivi de perto, outras que assisti de longe no decorrer da minha vida, outras que protagonizei, e ultimamente, uma da qual tenho sido vítima há quase um ano. E a realidade indiscutível é - a loucura pode morar ao lado. Esqueça aqueles temidos assassinos em série... Sangue, cadeia, júri popular. Esses não matam a vítima estrangulada. Matam a confiança, matam a paciência, matam o respeito, matam a paz.
Essa pessoa pode ser aquela que mente compulsivamente para você, ou que vigia todos os seus passos, sistematicamente, regulando seus horários, investigando seu celular, assumindo um personagem, se fazendo passar pela irmã mais velha, no intuito de arrancar informações da sua secretária. Não há limites para que atinjam o objetivo - seja ele descobrir se o marido tem uma amante ou impedir a promoção de um colega de trabalho. Em muitos casos, principalmente no amor, pode ser aquela pessoa obsessiva que vai lutar sem o mínimo escrúpulo por aquele que ama... Continuará não sujando as mãos com sangue, mas sujará tudo que está em volta com suas manipulações. Finge, troca de máscaras, inventa nomes, cria falsos laços de amizade, enfim, monta um circo dos horrores. Diferente do assassino que sempre deixa uma pista e é descoberto e será preso, esse tipo raramente é desmascarado... Conhece o ponto fraco dos que lhe interessam, só age na hora certa, com as palavras e atitudes absolutamente corretas, tornando-se em um passo de mágica, a "pobre coitada da situação" , imputando culpa e remorso nas suas "presas". Enfim, estão salvos. Todos nós, temos alguns desses traços, mas temos um filtro que nos indica a hora de jogar a toalha antes de prejudicar as pessoas. Esses não. Esses acham que podem ir sempre mais e que se dane os outros.
Quando eu era jovem havia em minha cidade um barzinho da moda onde meu pai me proibira, junto a minhas irmãs, de frequentarmos, e ele passava para lá e para cá de carro, nos vigiando, quando menos esperávamos. Morríamos de medo e ninguém arriscava desobedecê-lo. Eu era terrível, sempre tive dificuldade de "ser obediente" e um dia bolei um plano - ligaríamos do orelhão (naquela época nem se sonhava com celular) e se o telefone de casa atendesse, poderíamos ficar no bar pelos 15 minutos seguintes, que era o prazo para que ele saísse de casa, e chegasse até lá. Deu certo nas três primeiras vezes. Um dia, ligamos e estava ocupado, fomos tranquilas. Quando pisei no bar, meu pai estava lá dentro, de braços cruzados, e calmamente me disse: "tirei o telefone do gancho porque desconfiei de você, sempre a "cabeça" de tudo. Não tente de novo, você não tem jeito para isso, pois é preciso ter dentro de si, mais sombra do que luz, e esse não é o seu caso". Um mês sem sair de casa foi o meu castigo, minhas irmãs saíram ilesas, afinal, o plano tinha sido assumidamente meu. Nunca esqueci esse conselho. Apesar de que, durante a vida, tentei outras vezes manipular situações, mas em todas elas, me dei mal. Sempre na adolescência. Sempre para enfrentar meu pai. Como não podia vencer, aprendi a me proteger, então, reconheço de longe os manipuladores e raramente me engano. Não estou imune a eles, claro que não, mas sou uma presa mais difícil. Reconheço aqueles que se utilizam da manipulação como forma de "sobrevivência", mas ainda assim, têm uma boa alma, e reconheço aqueles  que pautam sua conduta dentro de uma moral ilibada, são tidas como boas pessoas até o momento em que algo foge do  seu controle, e a partir daí, "moral, que moral?" Detesto é quando vejo situações onde está "claro como a luz do sol" que um está manipulando com tamanha astúcia e competência, que o placar já marca 10 x 0, e o outro não percebe... Eu vivo algo assim, onde bastava um click meu para tirar a máscara e ajudar a virar o placar, mas lembro do que meu pai disse "é preciso mais sombra que luz", e me encolho. Até porque, é preciso ser responsável por certas escolhas, e entre elas está decidir em que pessoas confiar 
E àqueles que não leram nenhum dos três livros, recomendo Mentes Perigosas, para que menos pessoas sejam arrastadas pela correnteza de mentes aparentemente inocentes, corações aparentemente nutridos de boas intenções, posturas forçosamente éticas guiadas pela moral social e religiosa, mas que, se desfazem como bolha no ar perante uma situação que possa lhes atrapalhar. E o controle vira descontrole, e tornam-se mentes altamente perigosas que, como um trator, vão arrastando para longe, tudo que possa ser visto como um empecilho para seus planos obsessivo de controle e posse.
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