Tudo que me cerca vira fonte de interesse e pesquisa para
mim. Eu não perco a chance de estudar atitudes e comportamentos. O ser humano
me intriga profundamente. Só nessa semana virei às madrugadas completando a
leitura de três livros da autora Ana Beatriz Barbosa Silva - Mentes Perigosas,
Mentes Inquietas, Mentes e Manias. Fonte de um aprendizado prático sobre
loucura, neuroses, obsessões, enfim, várias situações que convivi de perto,
outras que assisti de longe no decorrer da minha vida, outras que protagonizei,
e ultimamente, uma da qual tenho sido vítima há quase um ano. E a realidade
indiscutível é - a loucura pode morar ao lado. Esqueça aqueles temidos
assassinos em série... Sangue, cadeia, júri popular. Esses não matam a vítima
estrangulada. Matam a confiança, matam a paciência, matam o respeito, matam a
paz.
Essa pessoa pode ser aquela que mente compulsivamente para você, ou que
vigia todos os seus passos, sistematicamente, regulando seus horários,
investigando seu celular, assumindo um personagem, se fazendo passar pela irmã
mais velha, no intuito de arrancar informações da sua secretária. Não há
limites para que atinjam o objetivo - seja ele descobrir se o marido tem uma
amante ou impedir a promoção de um colega de trabalho. Em muitos casos, principalmente
no amor, pode ser aquela pessoa obsessiva que vai lutar sem o mínimo escrúpulo
por aquele que ama... Continuará não sujando as mãos com sangue, mas sujará
tudo que está em volta com suas manipulações. Finge, troca de máscaras, inventa
nomes, cria falsos laços de amizade, enfim, monta um circo dos horrores.
Diferente do assassino que sempre deixa uma pista e é descoberto e será preso,
esse tipo raramente é desmascarado... Conhece o ponto fraco dos que lhe
interessam, só age na hora certa, com as palavras e atitudes absolutamente
corretas, tornando-se em um passo de mágica, a "pobre coitada da
situação" , imputando culpa e remorso nas suas "presas". Enfim,
estão salvos. Todos nós, temos alguns desses traços, mas temos um filtro que nos indica a hora
de jogar a toalha antes de prejudicar as pessoas. Esses não. Esses acham que podem ir sempre mais e que se dane os outros.
Quando eu era jovem havia em minha cidade um barzinho da
moda onde meu pai me proibira, junto a minhas irmãs, de frequentarmos, e ele
passava para lá e para cá de carro, nos vigiando, quando menos esperávamos.
Morríamos de medo e ninguém arriscava desobedecê-lo. Eu era terrível, sempre
tive dificuldade de "ser obediente" e um dia bolei um plano -
ligaríamos do orelhão (naquela época nem se sonhava com celular) e se o
telefone de casa atendesse, poderíamos ficar no bar pelos 15 minutos seguintes,
que era o prazo para que ele saísse de casa, e chegasse até lá. Deu certo nas
três primeiras vezes. Um dia, ligamos e estava ocupado, fomos tranquilas.
Quando pisei no bar, meu pai estava lá dentro, de braços cruzados, e calmamente
me disse: "tirei o telefone do gancho porque desconfiei de você, sempre a
"cabeça" de tudo. Não tente de novo, você não tem jeito para isso,
pois é preciso ter dentro de si, mais sombra do que luz, e esse não é o seu
caso". Um mês sem sair de casa foi o meu castigo, minhas irmãs saíram
ilesas, afinal, o plano tinha sido assumidamente meu. Nunca esqueci esse
conselho. Apesar de que, durante a vida, tentei outras vezes manipular
situações, mas em todas elas, me dei mal. Sempre na adolescência. Sempre para
enfrentar meu pai. Como não podia vencer, aprendi a me proteger, então,
reconheço de longe os manipuladores e raramente me engano. Não estou imune a eles, claro que não, mas sou uma presa mais difícil. Reconheço aqueles que se utilizam da manipulação como forma de "sobrevivência", mas ainda assim, têm uma boa alma, e reconheço aqueles que pautam sua conduta dentro de uma moral ilibada, são tidas como boas pessoas até o momento em que algo foge do seu controle, e a partir daí, "moral, que moral?" Detesto é quando vejo situações onde está
"claro como a luz do sol" que um está manipulando com tamanha astúcia
e competência, que o placar já marca 10 x 0, e o outro não percebe... Eu vivo algo assim, onde bastava um click meu para tirar a máscara e ajudar a virar o placar, mas lembro do
que meu pai disse "é preciso mais sombra que luz", e me encolho. Até
porque, é preciso ser responsável por certas escolhas, e entre elas está
decidir em que pessoas confiar
E àqueles que não leram nenhum dos três livros,
recomendo Mentes Perigosas, para que menos pessoas sejam arrastadas pela
correnteza de mentes aparentemente inocentes, corações aparentemente nutridos
de boas intenções, posturas forçosamente éticas guiadas pela moral social e
religiosa, mas que, se desfazem como bolha no ar perante uma situação que possa
lhes atrapalhar. E o controle vira descontrole, e tornam-se mentes altamente
perigosas que, como um trator, vão arrastando para longe, tudo que possa ser
visto como um empecilho para seus planos obsessivo de controle e posse.
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