O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

Trechos do livro

"Aquela noite me trouxe prenúncios de coisas sombrias. Novamente não tive consciência do que estava acontecendo. Parecia anestesiada, e não era de alegria, meu coração nem disparou, era uma apatia que não sei mencionar. Alguma coisa dentro de mim me sacudia para que eu me defendesse do que viria. Mas perdi minha adorável capacidade de abstração. E foi assim que tudo começou, sem uma gota de consciência. Quase sem escolha, como se o destino não tivesse me permitido opinar".


"A história dele era a mais interessante entre todas as que eu conheci. Repleta dos meus ingredientes prediletos foi o caminho certo para nascer em mim uma grande paixão. Mas o que para mim era estimulante, para ele era azar. Vemos nas pessoas o que queremos ver".


"Ouvi da minha avó enquanto chorava por causa de uma briga com o Júnior uma frase que eu jurei nunca esquecer: Minha filha, namoro foi feito para o casal ser 100% feliz, qualquer 1% a menos, deixa para o casamento".


"Na minha adolescência ao presenciar a dor da minha mãe, eu jurava que nunca passaria por nada daquilo, e que jamais criaria meu filhos em um lar infeliz".


"Eu tinha certeza que esse exemplo de relacionamento doentio que de modo sofrido eu testemunhei, me imunizaria contra o mesmo erro. Aí descobri que a vida não nos dá garantia".


"Nas raras vezes em que discutíamos eu não podia falar alto, não podia levantar as sobrancelhas, não podia gesticular, não podia me expressar, ele não gostava, e até para brigar eu me moldei ao gosto dele. Eu precisava estudar cada gesto meu para não correr o risco de desagradá-lo".


"Protagonizavamos uma triste história, que eu achava que era de amor. Ele não me fazia bem, eu não era mais uma pessoa alegre, não estava tomada por nenhum tipo de atração fatal, e mesmo assim minha vida estava desesperadamente atrelada à dele".


"Meu mundo ruiu, redescobri em mim a força que pensava não ter mais, e terminei o noivado. Pensei que fosse morrer".


"Meu pai me ofereceu pela segunda vez, uma viagem pelo mundo.
A vida novamente me deu a chance de escolher".


"Viajamos de lua de mel pelo litoral Sul, uma viagem longa e estranha. Quase não tínhamos assunto. Quieta, olhando aquela paisagem de sonho eu tentava driblar alguns pensamentos que me invadiam e justificava para mim mesma que aquela solidão que me assolava era apenas um sintoma de quem deixava para trás seu espaço de segurança por um incerto".


"Meu pais viajaram comigo para me ajudar com a mudança. O chão me faltou ao vê-los partir. Olhava para minha casa e não reconhecia nada ali. Estava com medo da solidão".


"Eu comecei a buscar uma razão para tudo o que me acontecia, e pensei que a realidade era outra - que as pessoas muitas vez fazem coisas sem absolutamente razão alguma. Supor que tudo precisa de explicação racional é uma forma de se reconfortar".


"Eu estava totalmente adoecida, não tinha ânimo para nada. Minha vida se resumia a um vazio sem precedentes. Não tinha planos. Vivia completamente sozinha. Troquei minha vida por nada".


"Peguei o resultado do teste de gravidez numa 6ª feira à tarde. Estava sozinha e quase desmaiei de alegria. Não foi planejado, mas um filho era bem vindo para mim".


"Insisti, não tinha idéia do que estava acontecendo e nossa vida estava insustentável. Sua frieza nunca me pareceu tão patológica. Tudo estava muito pior do que sempre fora".


"Voltou da praia cinco dias depois, trouxe para mim um cordão que nunca usei. Na hora em que o vi chegando, tive uma sensação nova, de desencanto. Eu já não era  a mesma e não seria nunca mais".


"Comecei a sentir um arrependimento visceral por ter me casado. Iniciava pela primeira vez, meu processo de reflexão interna. Queria me separar".


"Minha auto-estima estava em frangalhos, e eu perdida, sem saber quem era e para onde deveria ir. O grau de destruição que esse relacionamento causou em mim foi imensurável. Eu tinha apenas 19 anos".


"Entendi o significado de castelo de areia. Comecei a pensar nas emoções não vividas. As lembranças de coisas que não aconteceram me perseguiam - os aniversários que não comemorei, os amigos que deixei de ver, os beijos que não dei, os momentos bons da vida em que eu não estive presente porque estava infeliz ao lado dele. Tinha perdido a conta de quanto tempo o conhecia, mas sabia que não era sempre. Eu queria então, minha vida de volta".


"Custei muito a entender que apenas quando conseguimos viver apesar do olhar do outro é que estamos prontos - para a vida e para o outro".


"O mês passou depressa e logo voltei às aulas sem imaginar que minha vida seria modificada para sempre naquele mês de agosto".


"Depois de dois anos com a auto estima esmagada, me sentia novamente desejada. Havia uma pessoa que me olhava nos olhos, que se interessava por mim, que escolhia estar ao meu lado".

"Meu filho tinha 3 anos e me perguntou: Mamãe porque hoje você não está triste"? O chão me faltou, éramos duas crianças perdidas. Fui invadida mais uma vez por uma revolta descomunal".


"Todas as noites o telefone tocava ao lado da minha cama, era ele me dando boa noite, jurando me amar e me esperar".


"Quantos traumas eu tinha dentro de mim, quantas coisas precisariam ser reformuladas para que eu entendesse que uma relação saudável não englobava absolutamente nada do que eu estava acostumada a vivenciar".


"Fui aguando aquele vaso seco, vendo aquela planta que em segundos começou a ficar mais cheia de vida. Era assim que eu me sentia".


"Pensei em me separar novamente, mas o medo do julgamento das pessoas me paralisou. Eu me preocupava com o que pensariam sobre mim, pois ainda não havia aprendido que são raríssimas as pessoas que batem à porta de nossa casa, no momento em que a dor nos assola lá dentro'.


"No segundo dia em que eu estava trancada dentro do quarto a babá levou meu filho lá dentro, ele ajoelhou-se ao meu lado na cama e perguntou: Mamãe, você vai ser triste de novo"?


"Desisti da faculdade que não existia sem ele. A sua ausência atormentava a paz que eu não tinha. Via-o em todo lugar, sentia seu cheiro, escutava sua voz."


"Fui mãe com absoluto prazer pela 2ª vez..."A solidão não me consumia, não vivia na expectativa de ser feliz ao seu lado e nem dependia mais do seu olhar. Deixei de amá-lo. O cheiro do seu perfume e o barulho de suas chaves agora me eram indiferentes. Passei a viver apesar dele. Sempre guardei comigo a certeza de que um dia me separaria definitivamente..."


"Eu poderia ter optado por não me casar. Nada garante que eu teria sido feliz, afinal a vida não dá garantia. Mas eu teria escolhido o caminho mais provável, e se não desse certo, ao menos não carregaria o peso do arrependimento."
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