O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Encerrando mais um ciclo

Dia 28 de agosto faz um ano e, como gosto de fechar ciclos anuais, encerro mais um.
Era uma segunda feira, meio-dia quando desci na rodoviária do RJ. Peguei o metrô que me deixou exatamente dentro daquele shopping desconhecido, não era o Rio Sul, nem Fashion Mall, nem o Barra Shopping, mas era excelente. Rio de janeiro para mim limitava-se à Zona Sul - Copacabana/Ipanema, sequer imaginava para que lado ficava Zona Norte, não saberia como chegar lá de carro, e então, pela primeira vez enfrentava a rodoviária do Rio, ônibus e metrô. Estava apavorada! Uma amiga vez um "guia" com nomes das estações de metrô. Ridículo! Mas compreensível em se tratando de uma interiorana que, apesar de acostumada ao Rio, só pegava estrada de carro e rumo à Copacabana. Cheguei ao shopping às 13hs, e teria que esperar até às 18hs, não gosto de ver vitrines, mas tinha uma boa livraria, e ainda assisti O Ditador, uma excelente comédia que estreava nos cinemas.  Na hora marcada, com uma pontualidade militar (literalmente), eu entrava no carro. Levava comigo uma pequena mala de mão, afinal, eu ainda não havia entendido direito o tempo que teria - se seriam algumas horas ou uma noite inteira. Às 22hs fui deixada cuidadosamente dentro de um táxi, no estacionamento do shopping. Frustrada, confesso, afinal foram 5hs de estrada contra apenas quase 4hs de chão firme. Decidi que não rumaria para minha sobrinha, em Copacabana. Fui para rodoviária, e, como só tinha ônibus à meia noite, lá estava eu - novamente na rodoviária do Rio, e...à meia noite! Cheguei em casa quando amanhecia o dia, não havia táxi, acordei meu filho que me buscou. Passei um email avisando que chegara, apesar de que não tinha nenhum  perguntando sobre isso.
Retornei dentro de uma semana. Era véspera de feriado, fui de carona com uma amiga da minha mãe que, a meu pedido, pegou a linha amarela ao invés da vermelha para me deixar, dessa vez, em um estacionamento de uma hiper loja. Cheguei 10 minutos antes da hora marcada e, mais uma vez, nem um segundo de atraso. Não levei nada dessa vez, já não havia mais o temor pela rodoviária do Rio, e eu retornaria no mesmo ônibus, à meia noite. Esse dia não fui deixada cuidadosamente dentro de um táxi, pelo contrário, apresentou-me uma fila onde dezenas de pessoas aguardavam a sorte de um táxi, e se foi sem olhar para trás e sem se preocupar em ligar para saber se eu conseguira chegar na rodoviária. Fiquei aos prantos. Apavorada com aquela multidão que se aglutinava. Imaginei se meus filhos ou meu pai me vissem naquela situação... Transcorreu quase duas horas quando, finalmente, entrei em um táxi. O motorista me perguntou se eu já estava de porte da passagem, e só aí me dei conta de que sendo véspera de feriado, possivelmente não conseguiria... E não consegui. Fui então, rumo a Copacabana, um trânsito infernal, a cada engarrafamento eu chorava mais enquanto olhava aquele ir e vir frenético das pessoas. Para onde será que iam? Muito tempo depois parava no apartamento da minha sobrinha sem saber que ela tinha ido passar o feriado na minha cidade. E agora? Eu sentia frio, fome, medo. Ela ligou para vizinha que tinha chave reserva e eu pude entrar. Não dormi. Só chorei. No dia seguinte foi  outra batalha para conseguir táxi para rodoviária. Saí de casa às 7hs e quando cheguei lá já passava das 13hs. Ruas fechadas para o desfile e, novamente, um trânsito terrível. Fiquei preocupada em dar-lhe notícia, e enquanto aguardava o ônibus, entrei no meu email. Não tinha mensagem. E nenhuma preocupação comigo - se cheguei, quando chequei, enfim...
Voltei ao Rio depois de 8 dias, novamente de ônibus, cheguei mais tarde, já começava a "pegar o jeito", e só aguardei durante 2 hs,  no mesmo shopping. Pontualidade de sempre. E quase 4hs depois, eu descia no estacionamento daquela grande loja para pegar o táxi. No carro tocava Roupa Nova e combinamos o outro encontro para início de outubro. Dali, segui para o Galeão para esperar minha irmã que deveria chegar às 23hs e só desembarcou às 3 da madrugada. Eu estava exausta! Mas estava feliz. Já tinha entendido as regras, não tinha mais lugar para frustração. Ficaria mais dois dias no Rio, de companhia com minha irmã, e, então, liguei na expectativa de um outro encontro, afinal viajava 300 km para estar ali, e dessa vez, eu já estava ali. Sequer perguntou porque eu ainda estava no Rio, disse que me ligaria mais tarde. Não ligou. Voltei para casa.
Não fui no início de outubro, nem de novembro, nem de dezembro. Nunca soube direito o porquê. Também nunca pressionei. Raramente eu ligava, preferia enviar e-mails. Recebia constantes telefonemas, com as mesmas promessas e muitas justificativas. Eu pouco perguntava, pois além de não ser curiosa, é uma boa forma de auxiliar o outro a não mentir. Eu gostava daquela relação construída sobre uma absoluta liberdade, onde permanecer junto era questão unicamente de escolha, sem amarra alguma. Eu pouco sabia de detalhes do dia a dia de sua vida, e nem me interessava. Construía aos poucos uma sólida amizade. Percebia os conflitos, as angústias, os temores. Me fiz presente o quanto pude. A recíproca nunca foi verdadeira. Não se interessava pela minha vida e nem pelos meus problemas. Mas sempre tive suporte para relacionamentos com pesos diferentes, sempre cri que cada um dá o que pode. Eu não idealizava mais nenhum futuro para nós,  mas gostava dos nossos momentos, das trocas intelectuais, e ele brigava quando eu dizia isso e pedia que eu não desistisse de nós. Nem tudo foi tranquilo, por mais de 10 vezes tentei colocar um ponto final na relação, e ficar só com a nossa amizade, mas ele nunca aceitou. "Confie em mim" ouvi dezenas de vezes, "Preciso de você" ouvi centenas de vezes, "Eu amo você" ouvi milhares de vezes. Acreditei.
Finalmente, voltei ao Rio, no dia 17 de março, dessa vez, dirigindo. Já havia aprendido a pegar a linha amarela ao invés da habitual linha vermelha, e chegaria fácil. Saí de casa com febre e dor de cabeça, e após uma hora de viagem comecei a passar muito mal, não tinha condições de continuar. Entrei, então, na primeira cidade, peguei um motorista de táxi que dirigiu o carro para mim. Um desconhecido totalmente do bem, para sorte minha. Paramos em uma cidade, ele desceu na farmácia comprou termômetro e remédio, eu estava com quase 40ºgraus de febre. Segui. Chovia torrencialmente. Aguardei no mesmo estacionamento daquela grande loja, dessa vez, houve um pequeno atraso que já havia sido anunciado. Eu sentia tanto mal que pensei em desistir e ir embora. Não desisti. Dessa vez, ele não desceu do carro para ir ao meu encontro, como todas as outras vezes. Ele apenas piscou o farol e eu fui. Não gostei disso.  Achei indelicado, diferente do cavalheirismo de sempre. Dessa vez tudo foi mais longo  e acho que quando desci novamente naquele estacionamento, já passava das 23hs. Foi o retorno mais difícil entre todos os outros, e novamente, ele não se interessou em saber se cheguei bem, ou se cheguei. Enviei um email, como de hábito, avisando.  A volta foi um tormento, não havia levado blusa, era madrugada e aquela serra gelada, e a febre não dava trégua. Era dengue e passei 10 dias de cama. Sem nenhuma explicação eu chorei os três dias que se seguiram ao encontro. Eu me negava a percepção de algo que não sabia explicar.
Marcamos, novamente, para início de abril. Novos problemas o impediram. Não sei quais. Um dia chegou um email com uma justificativa absolutamente inconsistente para o fim. Como sempre prometi, respeitei, mas convicta de que a amizade permaneceria, afinal não era esse o combinado? Escrevi à ele sobre isso e não obtive resposta. Após uma semana resolvi tentar falar em seu celular, os dois números desligados. Entendi o recado. Só não entendi porque tinha que ser assim. Os avisos foram muitos, mas eu não quis ver. Como uma pessoa que sabe que você está em uma cidade estranha, cheia de riscos, onde o objetivo da ida era exclusivamente ir ao seu encontro, não se interessa em saber, sequer, se chegou ao destino final em segurança? Como alguém que dizia querer cuidar de você sabe que você foi internada, que sofreu acidente de carro, que está com a mãe doente, que enfrenta processo no fórum, que baixou delegacia de madrugada, que operou o cérebro ou arrancou dentes, enfim, qualquer situação problema, e nunca perguntou nada a respeito? Só então entendi que nunca houve amizade nenhuma. Nem vínculo real de afeto. Sua atitude ao terminar a relação e ficar incomunicável foi um descarte daquilo que não tinha mais utilidade. Simples assim. Eu não era ameaça para nada, portanto não precisaria me "cozinhar" para evitar maiores danos para si mesmo. E, como também, não era mais objeto de seu interesse, só restava o fim. Enfrentei a fase da indignação e da raiva, porque sou o tipo que perco muito bem um amor, mas prezo as amizades, e eu era uma grande amiga. Eu era. Só eu. Eu criei essa amizade. Eu criei esse laço sincero. Eu criei esse afeto. Eu o nomeei como sendo real. Eu o imortalizei. E fiz tudo isso com alguém incapaz de se doar, incapaz de criar vínculos emocionais, para quem pessoas são objetos, e foi essa constatação que retirou de mim o tormento da pergunta: o que eu fiz para que até mesmo minha amizade fosse dispensada, descartando tudo que foi vivido como se fosse um pacote qualquer? e me trouxe o alívio da resposta: "A generosidade das pessoas boas são folhas de papel em branco nessas mãos, pois quando sentimos pena, quando temos bons sentimentos estamos vulneráveis emocionalmente, e é essa a maior arma que será usada por eles, contra nós." E foi isso.
Enfim, foi uma relação unilateral e predatória, pena que descobri isso tão tarde.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...