O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Quem disse que felicidade segue algum padrão?



Como posso ser feliz? Pilhas de livros de auto-ajuda. Sempre em vão.
Felicidade não é um bem que vamos conquistar se cumprirmos algumas regrinhas básicas. Serão felizes os mais determinados, ou aqueles que meditam, ou os que não bebem, não fumam, não comem carne, a esses grupos, o reino da paz, da harmonia, da sonhada felicidade. Nada disso. E aí você casa com o amor da sua vida, têm filhos saudáveis, sua carreira vai muito bem, obrigada, fez aquela plástica de nariz e a lipoescultura, comprou aquele carro maravilhoso e ainda viajou a dois para esquiar em Aspen... (bom, eu ficaria com o amor da minha vida, filhos saudáveis, carreira, uma biblioteca inimaginável, a compra de um sítio para construção de um asilo modelo, e uma viagem a dois para qualquer lugar que eu ouvisse os grilos e  visse a lua, enfim... felicidade não tem molde). Bom, prioridades acertadas: sou feliz! 
E instala-se a terrível decepção. Quem disse que felicidade segue algum padrão? E caso seguisse, quem ditaria esse padrão? Tudo é absurdamente relativo. A tal almejada felicidade não "vinga" por uma condição humana. Somos naturalmente faltosos de algo que não podemos nomear por uma questão quase estrutural - incapacidade de silenciar-se, ouvir-se, sanar-se. Quem não sabe do que precisa não tem como buscar. É isso. As previsões da vida plena de felicidade falham porque não conhecemos nossas reais necessidades, e nos guiamos pelos desejos, daí vem a sensação de falta. Mas objetivamente tudo está suprido, não há falta...  Eu até posso ver a lua do vão da janela enquanto leio Fernando Pessoa, ou...prioridades respeitadas, eu até tomei vinho em Paris enquanto olhava vitrines... E então... Quem vai levar a culpa por essa sensação de falha, de falta, de ausência? Para cada época uma explicação - desde Platão, passando por Niesztche, Gramsci, chegando a Gikovate ou Shinyashiki, e o final é sempre o mesmo - o coração funciona muito além da razão. Felicidade não é uma conquista dos merecedores. Ela simplesmente é um estado, sei lá como ou porque acontece. E, muitas vezes, quando aquela felicidade nos acomete e o coração fica quente, sinalizando que está absurdamente vivo dentro do peito, nos questionamos “quem é essa pessoa que aqui está?” É isso mesmo... Dá-se uma crise de identidade ao vivenciar esse estado de plenitude... Aceitamos a infelicidade muito bem, nos condenamos a seres não merecedores, nos punimos e quando a felicidade chega sem aviso, entramos em uma crise de identidade e corremos o risco de que ela se vá novamente. Para ser feliz aí vai uma dica que li e gostei: “Agüente nem que seja por um instante o amor que não se compreende, que explode qualquer cenário, que nos leva a habitar o mais forte que nós mesmos".

Para mim, Vinicius de Moraes dá a definição quase perfeita - A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. É preciso encontrar as coisas certas da vida, para que ela tenha o sentido que se deseja. Assim, a escolha de uma profissão também é a arte do encontro, porque a vida só adquire vida, quando a gente empresta a nossa vida, para o resto da vida.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A outra parte de mim


Uma sensação estranha de não pertencimento tem preenchido um vazio que eu não tinha. Vazio nem sei de quê. Ou seria nem sei porque? Nunca tive medo de mim. Sempre enfrentei meus fantasmas de luz acessa. Enquanto o mundo fazia barulho lá fora, eu me aquietava por dentro. Fugir sem saber para onde ia, já me levou a lugares piores que eu mesma. Não me arrisco mais. Tenho opção? Passei do tempo. Ou o tempo passou... Tem tempo para esperar? O melhor lugar é perto de mim. Mas antes preciso saber onde estou. Onde estou?  Escuto o buzina do carro e me assusto. A música alta me desperta e tento retornar para mim. Ouço as vozes ao meu lado, conversas soltas, sorrisos que tentam me fazer sorrir. Vivo à parte da vida que vivo. Alheia. Alguém me busca incansavelmente e não me acha. Mas estou aqui, você me toca, e eu pareço evaporar. Absolutamente ausente de onde estou presente. Desculpe, mas nem eu sei onde estou. Devo estar em algum lugar. Tenho vivido em dois mundos, em um existo, a outro pertenço. Ouço o beijo estalado, mas não posso senti-lo.  Sentir está no mundo a qual pertenço. Mas que mundo é esse? Recebo propostas, mas não me convenço. Quero voltar para casa. Entro no carro e por um segundo escuto a música animada, enquanto no outro mundo que roubou meus sentidos, ouço Villa Lobos.  Tento me levar para casa, enquanto procuro a chave na bolsa e mais uma vez percebo que nem eu mesma sei de mim. Olho no espelho e me vejo - então aqui estou eu! Mas não estou. Mais uma noite que eu tento e não consigo. Me sobram sentimentos. Mas não posso senti-los. Preciso me trazer de volta a esse mundo onde existo. Há carruagens oferecendo para me buscar. Mas chegam sempre atrasadas. Não quero companhia que não seja a minha. Preciso da outra parte de mim. 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

"Encomendai o caso a Deus, Sancho"

Depois de me contar como se deu sua separação há 16 anos, quando o marido a abandonou com uma filha de três meses para ir viver com outra, eu lhe questionei de forma impulsivamente simplista (divergindo do que creio ser a vida) se naqueles 12 anos de relacionamento ela não percebeu que o marido era um mulherengo. E ela respondeu: "Mas ele não é mulherengo, ele apenas se apaixonou por outra." Fiquei surpresa com sua afirmação principalmente após ouvi-la narrar que passou os dois anos seguintes à separação agredindo-o  verbal e fisicamente - razão X emoção.  Quando somos magoados é preciso muita maturidade para não enquadrar o outro, condenando-o definitivamente. 
Na concepção dessa amiga, as pessoas  nascem infiéis, e morrerão assim. Eu não gosto de sentenças definitivas, é certo que todos temos tendências, mas basta motivação e o  padrão de comportamento poderá ser modificado. Somos seres inacabados, temos chance, e não fosse assim, de que valeria a vida? 
Convivi com a infidelidade  antes mesmo de perceber o mundo. Não entendia nada daquilo, mas sentia  o estrago dentro e fora de mim. Enquanto isso, eu crescia e desejava ter nascido longe daqueles telefonemas que tocavam de madrugada, longe das horas extras, longe das viagens de última hora, longe daquele mundo de invencionices. E eu, temendo me afogar nas intermináveis falsetas, me agarrava em minhas tábuas imaginárias que me levavam para a outra margem, onde o sol sempre nascia. Jurei vingar todos os homens. Nunca vinguei. Seria preciso coragem para ser o que eu não era. 
Apesar de, cada dia mais, acatar o determinismo que nos é imposto por diversos fatores, uma parte de mim defende, por experiência própria, que viver pede dedicação. Sobreviver é mais que viver, muito mais.   Somos compelidos, pelos padrões, a estagnar na caminhada. É preciso consciência  para não atrasar a evolução de todo o universo. Somos parte de uma engrenagem, somos responsáveis por nossa existência.  
"— Encomendai o caso a Deus, Sancho — tornou D. Quixote — que tudo se fará bem, e talvez melhor do que pensais, que não bole folha nas árvores sem a vontade de Deus." Mas ainda assim, é preciso empunhar nossas espadas. Creio que Ele anseie por nossa intervenção consciente, afinal, não é assim que educamos nossos filhos?
Sempre temi passar a vida estacionada no mesmo lugar, com os mesmos medos, os mesmos erros, os mesmos dias nublados. 
Eu não sei se, de fato, nascemos infiéis, mentirosos, manipuladores, etc, mas entre as pouquíssimas certezas que tenho na vida, está a de que ninguém está condenado a morrer tal qual nasceu.
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