Não canso de me surpreender com a abençoada capacidade de regeneração do ser humano.
Li que a esponja do mar, colorida e de formas exóticas que vive no fundo dos oceanos tem uma capacidade de regeneração tão impressionante que, mesmo se for triturada num liquidificador, consegue renascer.
E não é isso que fazem os corações?
Dor de amor pode ter a intensidade de uma patologia grave. A dor é física, ainda que esteja somente na alma.
Parece infarto.
Quem nunca experimentou? Você deseja que o mundo pare para você descer.
As cores desaparecem como em uma magia negra. A vida passa a ser levada no automático.
Enfim, é como uma morte.
Aliás, é mesmo. Morre o futuro planejado.
Depois do luto vêm as conseqüências e tem-se a impressão de que será impossível se envolver em outros relacionamentos.
Até que, gradativamente, como acontece à esponja do mar, tudo em você vai se regenerando. A dor vai diminuindo, diminuindo e ao invés de consumir dias inteiros, passa a consumir somente as noites, e chega o dia em que a dor se dissolve, sendo substituída pela lembrança da dor.
Essa ficará para sempre.
E aí, um dia qualquer, você se pega acreditando novamente.
E então, após ser triturada por um processador, você se vê viva.
Outra onda a te "engolir" e você sabe que poderá se afogar novamente.
Mas já conhece todo o processo, e já sabe que não vai morrer.
Para recomeçar é imprescindível enfrentar o medo de descer ao inferno mais uma vez.
Melhor queimar do que não sentir nada.
E então, você se entrega. E se arrisca. Porque viver é isso mesmo.
E no final, a gente sempre renasce. Como esponja do mar.
(http://www.marcelolopes.jor.br/blog/detalhe/5/marcela-goncalves-de-sousa)