O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

domingo, 30 de setembro de 2012

Ode aos amores tardios

   
Queria ter te conhecido antes, muito antes... 
Num tempo em que nenhum de nós dois tivesse cicatrizes... queria ter estado ao seu lado enquanto você  ainda garimpava diamantes... quando acreditava que  a cura não dependia do veneno. Queria ter sido sua escora na primeira vez em que a vida lhe puxou o tapete... 
Quem me dera ter chegado a tempo de enxugar todas as suas lágrimas, de ter sido seu porto seguro quando você descobriu que viver era navegar em mar revolto... 
Queria ter construído um ninho para nós dois e ali criado nossos filhos e protegido você de toda dor. Queria ter chegado na sua vida quando você ainda acreditava em anjo, para poder lhe dizer: acredita em anjo? Pois então, sou o seu... soube que anda triste, sentindo-se sozinho, desconfiado que ninguém te ama, aí eu vim, estou aqui para cuidar de você, te proteger, te ensinar a sorrir, te compreender sem reservas, te ouvir sem julgar e quando você tiver muito cansado, te embalar para você dormir. 
Queria ter chegado na sua vida quando você ainda sonhava, quando seu coração ainda descobria o que era o amor, quando seu corpo descobria o que era desejo, queria ter chegado antes dos seus sofrimentos, para segurando a sua mão com força, te dar a certeza de que jamais estaria sozinho. Queria ter tido a chance de estar ao seu lado desde sempre para juntos termos aprendido as lições da vida. Queria ter te conhecido ao mesmo tempo em que suas esperanças chegavam,  seus sonhos, ainda  puros e corajosos, brotavam sem temores. Porque não cheguei quando nossas almas ainda guardavam a ingenuidade dos que acabam de nascer? Pena termos nos encontrado só agora... coração viciado, crenças arraigadas, culpas que engessam novas possibilidades... Que pena... logo agora quando já temos imagens tão distorcidas da vida... monstros imaginário imensos a engolir nossa expectativa de futuro. Queria tanto ter te encontrado quanto eu ainda era eu e você era somente você, sem imagens de um espelho a refletir tantas coisas tortas antes de permitir que sua imagem linda reflita e encontre somente a minha. Queria tanto poder construir a partir de agora um "você e eu", diários... para sempre... o resgate de um tempo passado, não vivido e de um futuro cheio de possibilidades, mas tão difícil de acreditar que será vivido. Queria você agora... para juntos construirmos uma nova vida, a vida que não tivemos, num outro tempo, um tempo só nosso... mas  há correntes pesadas demais, nos pés e na alma... A única chance seria acionar nossas asas, mas é preciso muita coragem para tirar os pés do chão... Tirei os meus desde que te encontrei... estou à sua espera... e quando você não mais puder sentir o vento das minhas asas em suas costas,  é porque voei... para longe... e para sempre...



sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Chorei...


"Ontem, chorei.
Cheguei em casa, meti-me no quarto, sentei-me na beirinha da minha cama,
tirei os sapatos, desapertei o sutiã  e chorei um bom bocado.
Acreditem que chorei até o meu nariz pingar para cima da minha blusa de seda
que comprei a prestação.
Chorei até ficar com as orelhas quentes.
Chorei até ficar com uma dor de cabeça tão grande,
que mal conseguia ver a pilha de lenços de papel sujos acumulada no chão, aos meus pés.
Quero que saibam que ontem chorei um bom bocado
Ontem chorei
por todos os dias em que estive tão ocupada, ou tão cansada, ou tão irritada, que nem consegui chorar.
Chorei por todos os dias, e todas as maneiras e todos os momentos em que eu desonrara, desrespeitara e desligara o meu eu de mim própria, e acabara por vê-lo refletido na maneira como os outros me faziam as mesmas coisas que eu já fizera a mim própria.
Chorei por todas as coisas que eu dera para depois me roubares;
por todas as coisas que pedira e que ainda não se tinham concretizado;
por todas as coisas que conquistara para depois as dar a pessoas em circunstâncias
que me deixavam com uma sensação de vazio, magoada e simplesmente usada.
Chorei, porque realmente chega uma altura da vida em que a única coisa que nos resta fazer é chorar.
Ontem chorei.,
Chorei, porque sofria,
Chorei porque me fizeram sofrer.
Chorei, porque o sofrimento não tem para onde ir,
a não ser para dentro da dor que o causou à partida, e quando lá chega, o sofrimento desperta-nos.
Chorei, porque era demasiado tarde. Chorei, porque era chegada a hora,
Chorei, porque a minha alma sabia que eu não sabia que a minha alma sabia de tudo o que eu precisava de saber,.
Chorei com toda a alma, ontem, e soube-me tão bem.
Pareceu-me tão, mas tão mal.
Por entre o meu choro, senti a minha liberdade chegar.,
Porque
Ontem, chorei com um objetivo"

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

E fugimos...


Passamos a vida fugindo.
De tudo. De coisas, de pessoas, de sentimentos, de nós mesmos. 
Fugimos a todo custo de ficar sozinho, e para tanto, aceitamos viver relacionamentos sem amor, para só então, descobrir que solidão a dois leva a uma solidão mil vezes maior.
Pagamos caro em cirurgias plásticas para fugir das marcas da idade e comemoramos cada ano de vida que nos trás justamente as marcas que vamos continuar tentando apagar.
Abrimos mão de quase todos os prazeres da vida com o objetivo de prevenir  doenças, e aí deixamos de beber, de fumar, de comer carne... Mas continuamos nos estressando no trânsito ou ao manter um casamento por conveniência. E ai, mesmo nunca mais tendo saboreado um belo churrasco, acabamos produzindo um câncer.
Pais se descabelam buscando uma "fórmula" para afugentar as temíveis drogas de perto de seus filhos, enquanto dentro de casa bebem e fumam "socialmente", desde que esses são bebês.
Trabalhamos feito louco para fugir das instabilidades financeiras, e com isso, a cada dia ficamos mais longe de nós mesmos e daqueles que amamos, e depois gastamos grande parte do dinheiro que guardamos para reaver a saúde emocional que perdemos.
Blindamos carro, subimos os muros das residências, contratamos seguranças para fugir dos assaltos enquanto a mídia manipula nossas escolhas, e como robôs, nos tornamos vitrines ambulantes que aguçam as diferenças sociais, e são iscas para os assaltos dos quais tentamos nos proteger.
Participamos de programas sociais através dos 0800 para afugentar a culpa que nos consome ao ver tanta desigualdade e vamos de encontro a uma miséria pior ainda, ao entendermos, muitas vezes tarde demais, que o que é fundamental dinheiro nenhum poderá comprar.
Quanto mais a donzela foge do seu príncipe, mais forte ele vive em seu pensamento.
Fugimos do novo, fugimos das mudanças, fugimos dos riscos, fugimos de ser e de viver de verdade. Sentimos culpa por tudo. Se falamos a verdade, magoamos. Se mentimos, somos desonestos. Se vivemos de acordo com nossa consciência, somos revolucionários, se seguimos a esperada conduta social, somos infelizes. Se acreditamos no amor, somos utópicos e sonhadores, se não acreditamos, somos frios e calculistas. Não fomos programados para a felicidade... Acostumamos a ouvir que viver é difícil, que todos temos problemas e seguimos confortáveis à situação de "vítimas do viver". E então, fugimos de todas as novas oportunidades que a vida, generosamente, nos apresenta... às vezes por medo, noutras por culpa, por insegurança, por pena. E  abrimos mão de quase tudo...
Fugimos do tempo que voa, enquanto a vida esfrega na nossa frente que a manhã já virou noite e que o carnaval já virou outro natal. O tempo não espera que nossos temores passem. E assim perdemos a chance do amor, de uma nova vida, de outro emprego, de outra religião... por temer desarrumar nossos hábitos, nossa rotina, derrubar nossas crenças e nossas "certezas". Por temer  finalmente encontrar a felicidade.
Quanto mais fugimos, mais perto ficamos daquilo que queremos afastar. Pólos opostos são imãs. Então, de um jeito ou de outro, a vida sempre nos encontrará. 
Enfrentar é mais inteligente que fugir. Viver pede alguma dose de coragem, mas ser feliz exige toda coragem.
Fechando com Clarice Lispector: "Tenho medos bobos e coragens absurdas"

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Solidão


Adoro o silêncio, mas nunca o da noite. Gosto da quietude de cantos isolados e vazios da natureza. Mas não suporto aquele barulho silenciado pela madrugada que sufoca e confunde - não é mais noite e ainda não é dia. Pensei na solidão. Solidão mesmo. Aquela sentida  quando se está em meio a um batalhão de pessoas. Em tantas ocasiões ela assombra a nossa falta de sossego, e apontando o dedo na cara diz "entendeu o que é de fato sentir-se só?" Entendi. Eu, particularmente tenho entendido tanto... Não vejo à hora de esse dedo parar de apontar em minha direção.
Quando somos magoados. Quando nossas expectativas vão pelo ralo...ah! frustração! Quando adoecemos. Quando somos mal interpretados. Quando nos sentimos indevidos. Quando somos vítimas de mentiras. Quando injustiçados, não encontramos maneira de nos defender. Em todos esses momentos estamos absurdamente sós. Nada pode ser compartilhado. É um parto no deserto. Você olha em volta e nada te alcança. Curioso é que nesses momentos, entramos em um ciclo destruidor porque ao invés de nos acolhermos, a tendência é concordarmos com o mundo, e simplesmente nos abandonarmos também.
Quando sentimos essa solidão "na raiz", tendemos a desistir de nós. Não queremos levantar pela manhã, não há dia lindo lá fora, não queremos caminhar, desistimos da ginástica. Sair para que? Não há graça em comprar roupa, abandona-se o batom e de quebra, os amigos. Come-se qualquer porcaria fora de hora, deixa aquele exame para quando "eu estiver mais disposta".  E fica-se ainda mais sozinha. Você diz a si mesmo através dos seus atos "fique por aí, não estou nem aí"! Então quem estará?
Uma vez uma amiga minha que estava submersa em antigos problemas familiares, começou uma mudança de hábitos rigorosa e eu lhe questionei como ela conseguia iniciar uma dieta em meio a tantos problemas, e ela me disse: "Se eu fizer a dieta, continuarei tendo um problema - minha família, se eu não fizer a dieta, passarei a ter dois problemas - minha família e meu peso". Nunca esqueci isso. E olha que já faz muito tempo... Um tempo onde o sono nunca me deixava e eu achava que solidão era aquela sensação ruim de ficar sozinha aos domingos à tarde ouvindo o maldito radio do meu avô narrando jogo de futebol.
Se o mundo que te cercava abriu as fronteiras deixando-lhe sem rumo, não se maltrate mais ainda.  Não faça  como todo mundo... não vire as costas a si mesmo justamente na hora em que mais está precisando de carinho e cuidado.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Um amor humano demais

E aí de repente ele chegou, e era tão idêntico a você que, antes que você dissesse, ele já sabia que morava em você desde sempre e para sempre. O amor era um, porque  amor é sempre  um, mesmo que todos guardem a ilusão de que habita duas almas, na realidade são uma só. É assim que acredito. 
Surpresa, sou apresentada à ideia de que o amor independe de tudo e de todos... As pessoas que se amam tornam-se "não pessoas"? Afinal esse sentimento preexiste, resiste, subsiste. Partindo desse pressuposto, talvez seja uma grande ilusão o enamoramento... Qual a valia do encontro com o objeto do amor se na verdade esse será coisificado, passando  a ser "apenas um melhor espelho"? Essa noção de amor a qual tenho sido apresentada é dotada de tão grandiosa auto suficiência, que creio que poderia dispensar seu portador. 
Se amor é uma projeção(e é) seu conceito nasce no plano das idéias e, a partir dessa concepção do amor, melhor seria, que lá permanecesse mantendo-se imaculado. Realizá-lo seria humanizá-lo. Humanizá-lo talvez signifique exterminá-lo em sua essência.  Onde estaria a lógica de vivenciá-lo se sua existência independe de tudo? Melhor deixá-lo permanecer sublime e intocável. 
Só não entendi o que seria feito dos corpos onde habitam essas almas que portam esse amor... Corpos são matérias, possuem histórias, experiências, choram, sentem, precisam... Devem ser desprezados por não possuírem a pureza e a grandeza do sentimento do qual são reles portadores? Até onde sei, são eles  essenciais  instrumentos para que esse sentimento se manifeste nessa dimensão terrena, onde vivemos. Creio, que na mesma proporção em que necessitamos do amor, precisamos também dos corpos  que nos concedem a graça de nos reconhecermos em outra alma.
Minha humanidade me corrompe e me impede de compreender esse amor que me apresentam... Um amor que é senhor de si mesmo. Tenho distorções acerca desse sentimento tornando-o mais ou menos doloroso, de acordo com o interesse do meu corpo, que se detém no outro corpo que generosamente divide comigo esse amor... E, ao percebê-lo como outra parte minha, confesso que quero sim, a posse dele... Perdoem-me por tamanha fraqueza... Pelo que consegui entender, é aí que estraga-se tudo... Pois a partir de minha necessidade de posse, nasce o risco de humanizar o meu amor... No momento em que o quero perto, estrago tudo? Quero sim tocá-lo. Quero sim por horas sem fim. Quero sim só mais hoje, mais amanhã, só mais um pouquinho. Quero para sempre. Quero só para mim. E aí quero notícias, quero ouvir, quero saber, quero falar. E quero certezas, quero promessas, quero atitudes. E quero agarrar-me nele para não soltar nunca mais. 
Será que serei forçada a aceitar que amor para ser sublime nunca pode depender de nada? E que esses detalhes fazem parte de uma reles humanidade que o amor desconhece? Se assim for, talvez eu ainda seja humana demais para merecer o amor. E assim, chego à conclusão que o meu objeto de amor merece amar e ser amado por outro amor...que seja tão altruísta e consciente quanto ele... Ainda sou humana demais. Desculpe-me por essa triste constatação.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

E...



E novamente a sensação de queda livre... Incrível como nos habituamos a tudo, até àquilo que tememos... Nas primeiras vezes em que me vi caindo busquei um pára quedas que nunca veio. Hoje, tranquila, apenas experimento as sensações que descer me proporciona, e em detrimento do medo de onde irei pousar, sinto o vento forte no rosto e aproveito a ilusória sensação de que sou livre. Nunca somos livres... Difícil constatação à qual não resisto mais, e talvez por esse motivo, tornou-se menos difícil.
Todos os seres humanos têm o objetivo de viver em estado pleno de amor. Essa busca já nos faz prisioneiros. Estado de carência é a realidade da maioria. Miséria afetiva. Solidão. Casamentos sem amor. Relações superficiais. O homem tem medo de amar e medo de ser amado. Amar causa variadas sensações... Fragilidade, dependência, insegurança. O temido monstro da traição e do abandono, imensos, assustadores, com garras afiadas... Assim, sabotamos a possibilidade de viver o amor. Dilema cruel - querer viver o amor, procurar, encontrar e destruí-lo. Obviamente a destruição não é feita de modo deliberado, mas o que conta é o resultado final.
Nem sempre podemos seguir o sábio Fernando Pessoa, aliás nem ele mesmo conseguiu agir assim...
"Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. 
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. 
Se achar que precisa voltar, volte! 
Se perceber que precisa seguir, siga! 
Se estiver tudo errado, comece novamente. 
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a. 
Se perder um amor, não se perca! 
Se o achar, segure-o!"

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