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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Minha latinha de refrigerante

Quando criança eu adorava brincar de significado/significância - olhava para uma latinha de refrigerante  e imaginava o que mais ela poderia ser além de uma latinha de refrigerante - um carrinho, um foguete, um cachorro. E nada me escapava,  era divertido reinventar as coisas. De alguma forma segui fazendo isso. 
A destreza com que recoloco, transfiro, remanejo acontecimentos e pessoas  em minha vida ainda me surpreende. A segurança com que convido alguém a ocupar o topo da minha alma é a mesma usada quando estendo-lhe a mão e convido-a a descer e se retirar. Eu me concedo sentimentos de segurança. Ainda sou um pouco dona do meu universo. Além do que, me é inerente o sentir-me extremamente livre. Desconheço dependências, e,  nas poucas vezes que digo "preciso de você" assusto-me e recuo. Sei que não preciso, apenas quero. Eu sempre vou seguir, independente das pessoas. 
Quando o dia nasce, nasce com ele outro de mim, em um processo diário de reconhecimento "do ser e do vir a ser". Para mim, o segredo para se viver bem é adaptar-se. Minha capacidade de adaptação é imensa. Quando eu era casada, temia dirigir na estrada, detestava fazer compras de mercado sozinha, tinha preguiça de levar o carro para revisão e não concebia a ideia de dormir sozinha. Com poucos dias de solteira fazia tudo isso com a mesma naturalidade com que abro meus os olhos pela manhã. As ideias e as pessoas só me fazem falta enquanto concedo-lhe esse direito, mas no momento em que eu decido, tudo que era deixa de ser, e confesso, que até eu me assusto com a solidez que isso se dá. 
Eu tenho sonhos, claro, mas muitas vezes desfaço-o ainda no ar, imagino que é tão frustrante quanto abortar o lançamento de um foguete, mas da mesma forma, necessário. Meço muito bem se o ganho possível é maior que o prejuízo provável. 
Eu ressignifico o mundo que me cerca ou me reinvento para esse mundo, calmamente, enquanto tomo um sorvete. A frase do  crítico francês Andre Gide -"As coisas apenas valem pela importância que lhes damos"  norteia minha vida e relações. É simples viver. Difícil é quando se faz resistência à vida. A maioria vive do que virá - serei feliz quando alguém chegar ou alguma coisa mudar. Fatores externos nunca deveriam ser determinante ao bem estar de alguém. Isso é óbvio. Basta ver exemplos  mostrados na TV - a mãe que perdeu seus 4 filhos em uma tragédia natural, abriu uma creche para cuidar das crianças que ficaram órfãs, e conta isso com sorriso no rosto, enquanto a outra perdeu o marido na mesma tragédia e tentou o suicídio.
Dependência gera controle. Controle é sempre ilusório. A conquista, seja ela de que natureza for, só se dá verdadeiramente, quando se oferece a liberdade. A mão que liberta é a mesma que recebe. 
Sempre vou transformar minha latinha de refrigerante em um móbile bem bonito, porque minha vida quem cria sou eu. Esse poder é somente meu.

"Não: Não quero nada. Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer" (Fernando Pessoa via Álvaro Campos.)

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