O anseio pela ligação ao outro é
eterno na alma humana, e essa aproximação só se concretiza com êxito quando os
dois buscam, dão, sustentam, alimentam, recebem e tomam. Esse ritmo orgânico,
não pode ser determinado pelo ego, pois é a expressão genuína de um processo
legítimo e significativo que é impossível de ser transmitido à limitada
capacidade humana de compreensão. O movimento para a fusão ocorre apenas
através do amor no seu verdadeiro sentido, com todos os seus aspectos e
manifestações.
Quando ocorre atração no plano
físico, sem a participação do plano emocional, mental e espiritual, a
experiência sempre é decepcionante, pois é uma representação superficial
daquilo que a alma anseia. A consciência humana é limitada e na maioria das
vezes a atração que se sente não é pela pessoa real, mas por uma imagem que a mente
cria quanto ao que o parceiro deveria ser para atender a necessidades reais ou
imaginárias. A pessoa real costuma ser ignorada e a pessoa que deseja insiste
em sua ilusão e fica irritada quando a realidade desmente a ilusão. Poucos
sabem realmente o que é o amor, e na ânsia por esse encontro, espalham vários
"eu te amo" sem significado algum, como um rótulo estereotipado,
usados para esconder sentimentos muito diferentes, em uma relação onde, mesmo
inconscientemente, se usa o outro, explorando-o e manipulando. A experiência do
amor consiste primeiro, em perceber a realidade múltipla do outro. Para tanto é
necessário abandonar o ego e esvaziar-se. Só aí é possível deixar entrar o
outro, para poder de verdade perceber e sentir toda a complexidade desse outro
ser. Só sobre uma base sólida é possível efetuar uma troca de sentimentos. O
aspecto do amor real é mais do que aceitar quem o outro é, é ter uma visão
total da pessoa, incluindo seu potencial ainda não realizado. Essa visão do não
- manifesto no outro é um grande ato de amor. A satisfação e o contentamento
por que a alma anseia só podem ser conseguidos pela fusão com outra
consciência.
Dois
parceiros compatíveis precisam compartilhar determinadas idéias fundamentais
sobre a vida e estar mais ou menos no mesmo plano de desenvolvimento espiritual.
Discordâncias sempre haverão pois isso faz parte da diversidade dos seres
humanos e contribui para o desenvolvimento de cada um. A liberdade de ter
idéias diferentes é aceita e altamente construtiva quando os dois parceiros
estão ancorados na verdade espiritual, pois quando a realidade espiritual é a
meta final, existe apenas uma verdade que se aplica tanto às grandes questões
vitais como às pequenas futilidades cotidianas. Para quem busca a realidade
interior, as divergências não têm grande importância, pois logo se integram e
se fundem na verdade do espírito que a tudo une. A satisfação que todos os
seres almejam só ocorre à medida que seu desenvolvimento espiritual avança.
Esse estado é mantido na medida em que os parceiros estão em movimento e na
medida em que a destrutividade tenha cedido lugar a atitudes e comportamentos
construtivos, expansivos e positivos. É comum os seres humanos ficarem
estagnados, e ainda ficam surpresos quando o anseio pela unidade continua
insatisfeito – relacionamentos desfeitos ou infelizes e atribuem a culpa ao
parceiro, nas circunstâncias e na vida, esquecendo-se que só a partir de uma
autocrítica profunda será possível uma busca consciente e um encontro
verdadeiro.