Sentada na varanda de casa, olhando a chuva fina
cair fiquei pensando de onde vem essa paz que me envolve indiferente ao mundo
lá fora que segue disparando metralhadoras contra mim por todos os lados. Tenho
a impressão que vivo em duas realidades (ou vivemos todos?). Como em Matrix, me
pego duvidando se a realidade é realmente o que é. Creio que a realidade seja subjacente às coisas de nossa
experiência, mas ainda assim, me perco.
Se a realidade nada mais é do que
aquilo que vemos, sentimos e ouvimos, e da confirmação dos outros acerca disso, o que fazer quando quase ninguém confirma aquilo que você percebe? Geralmente
te internam como louco, ou mais respeitosamente, como deficiente mental.
Minha percepção está submersa em uma
parte de mim que existe independente do mundo lá fora, e aí, na guerra, eu vejo
a paz, na maldade, eu acho bondade, na escuridão eu enxergo a luz. Indevida. É assim que me sinto sempre.
Fora do contexto dessa vida estranha. Ou estranha sou eu? Eu vivo totalmente à margem do mundo lá
fora ao mesmo tempo em que mergulho tão fundo, que quase me afogo, naquilo em
que acredito. Mas o que acredito não é partilhado pela maioria. Não me conformo
com uma existência vazia, nunca vou embora cedo, nunca paro na esquina, nunca
entro no mar só "até ali", nunca fico sob a chuva "só um
pouquinho". Arrisco sempre. Plagiando um amigo, opção é desistência. E vivo
a vida pescando e devolvendo ao mar... Quero a serenidade que me permite ser
complacente sem sentir-me roubada em nada.
Vejo pessoas atormentadas,
acorrentadas, enlouquecidas na linha de frente da exaustiva batalha pela posse
de coisas e pessoas. Pessoas controladoras jamais
terão paz. Talvez esteja aí a fonte da minha paz. Sei que nada me pertence,
portanto não preciso empunhar armas, porque não tenho que lutar para conquistar
nada. Por vezes, apenas preciso defender algo.
Quem tem as mãos fechadas não pode receber energia. A palma da mão é fonte receptora e doadora, mas para tanto,
precisa estar aberta.
Dizia Heráclito "Difícil é
a luta contra o desejo, pois o que este quer, compra-o a preço da alma".
E há um mercado negro de almas por aí...
O desapego é a cura da alma e poucos se
atêm a isso. Fácil falar de fé e nunca aceitar o que a vida coloca a sua porta.
Não tenho religião, mas tenho resignação porque assim como dizia Tales de
Mileto, eu também creio “tudo está cheio
de deuses”, e essa certeza me dá paz.
Um comentário:
"ah! e prepare-se para as desculpas esfarrapadas..."
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