O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

domingo, 23 de junho de 2013

Deus sinaliza para mim

Estava ainda na imponente recepção daquele hospital gigante, aguardando um quarto para que minha mãe fosse internada, quando um enfermeiro a levou dali, direto para o centro cirúrgico. Fiquei entre zonza e impotente vendo-o conduzi-la sem muita explicação para a cirurgia. Ela foi chorando me perguntando porque não fomos, antes, para o quarto, enquanto eu fiquei sorrindo em meio a malas e travesseiros jurando a ela que tudo correria bem. Como correu, graças a Deus.
E eu voltei a assentar, sem mais me preocupar com o quarto. Eu precisava chorar. Coloquei os óculos escuros, recostei-me na confortável cadeira daquela recepção lotada de pessoas elegantemente vestidas (como as pessoas se produzem tanto para ir a um hospital? Vai ver eu é que beiro mesmo ao desleixo, com meus eternos tênis e jeans). Minha mãe se foi e eu não rezei dessa vez. Só chorei. Senti uma compaixão inexplicável pelo mundo, pelas pessoas, por mim mesma. É uma vida de tantas perdas... essa, de todos nós. Muitas vezes desejei sentir menos. Ou, quem sabe nada. Eu queria chorar ali só pela minha mãe. Mas chorei pela moça que estava ao meu lado e que acabara de saber que não poderia ser mãe. Chorei pelo porteiro do hospital que me contou que o filho drogado lhe deu um tiro em um momento de fúria. Chorei pelo bebê lindo que recebia alta, depois de três dias de UTI. Tão pequenino. 
 Meu último ano não foi nada fácil, como o de tantas milhares de pessoas. Nunca me acho vítima, só fico exausta buscando as lições. Errar os mesmos erros é um poderoso aniquilador da auto confiança. E tento não me punir, mas juro que vou ser mais dura para encarar a vida e as pessoas dali em diante. Em vão. A primeira coisa que digo aos meus alunos é que se emocionem. Sempre. Eu não saberia fazer diferente. A dor do outro é a minha. Sempre será. Por mais que isso me imbecilize aos olhos de muitos. A cada dia tenho mais convicção de que isso aqui é ínfimo perto do tanto que me espera nessa imensa existência que todos protagonizamos. Então, de que me importa os olhos dos outros? 
Fui para rua, caminhar, sem me importar com o que seria feito das malas e travesseiros. Um senhora estava sentada pedindo esmola. Eu estava com uma estranha sensação que por vezes me acompanha, de que tudo é uma grande ilusão. Eu, o mundo, e aquela indigente. Poderia ser ela a angustiada por causa da mãe no centro cirúrgico e eu ali, a pedinte, em seu lugar. Ou seria mesmo assim? Nesses momentos, perco os poucos limites que me centram... Afinal quem sou eu? Acho que fiquei parada olhando por tempo demais, o que a levou a me perguntar porque eu tinha chorado. Eu acho que falei algumas coisas desconexas que nem me lembro. Ela, então, me deu uma medalhinha de São Jorge e tinha lágrimas nos olhos. Lembrei de Rubem Alves que diz "Não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo aqueles que têm belezas dentro de si". Ela tinha a beleza. No meio da miséria. Como uma flor no pântano. Ela se preocupou com um semelhante, ela se emocionou. E é assim, desse jeito, que Deus sinaliza para mim nas poucas vezes em que acho que vou perder as forças.
 

Um comentário:

eder ribeiro disse...

Qdo deixamos de sensibilizar com as dores dos outros é pq perdamos o pedaços q nos faz humano e já há mto tempo deixamos secar a essência divina intrínseco em nós. Bjos e uma semana iluminada e enriquecedora.

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