Ainda muito pequena,
passando férias no litoral, perguntei a alguém onde o mar terminava. A
consciência de sua infinitude foi o gatilho da minha inquietação, que permeia
desde então, a minha caminhada. Universo, Deus, vida e morte... E raramente
consegui respostas satisfatórias – livros e mais livros, filmes, templos,
religiões, pessoas especiais. Poucas
foram as coisas que não chegaram a ser objeto de dúvidas para mim, como por exemplo, a
existência de Deus, de outros mundos, a imortalidade da alma e suas
reencarnações.
Nunca fui um
exemplo de racionalidade, mas sempre tive em mim a certeza de que há no mundo
milhares de coisas que a ciência jamais explicará. Não por incompetência, mas por falta de
tecnologia que possa apreender “coisas” que estão além da matéria. Assim
entendo.
Minha vida foi
de insatisfações. Sempre. Tinha poucos momentos de trégua. A inquietação me
incomodava inteira, como o grão de areia que se enfia no corpo mole da ostra
causando-lhe dor, impulsionando-a na criação de algo firme que alivie sua dor -
a pérola. Assim, fui criando minhas
pérolas - os conhecimentos que não me deixarão jamais. Mas aconteceu que uma única
vez a inquietação foi embora, porque senti
vontade de me dedicar ao que acreditei
que tinha conquistado para sempre – um amor fiel e leal, diferente de tudo o
que testemunhara até então. Casa,
filhos, cachorro e férias na praia, e fiquei quieta por um tempo, vivendo
não aquilo que realmente era, mas o que eu idealizei que fosse (mas só descobri isso longo tempo depois). Saí muito machucada, e dessa vez, não produzi
pérolas, aliás, não produzi nada.
Mas...............
Como o universo é perfeito e nada acontece em vão, descobri que a decepção só
existe nas relações estritamente humanas, que a efemeridade não ocorre quando a
busca é pessoal - a única que é verdadeira e eterna. Assim, depois de confiar em
um mundão de fantasias que eu criei, e cair, quero voltar a produzir pérolas.
O caminho do
meio é uma das minhas buscas e frustração por não conseguir atingi-lo. Ainda. Sempre
troco “isso” por “aquilo”, e muitas vezes o correto é manter-se entre “isso” e “aquilo”...
Se tivesse agido com esse equilíbrio, não precisava ter deixado de lado minha
busca pessoal, só para me dedicar a Romeu e Julieta, e, assim, quando a “temporada”
terminasse, certamente não me sentiria tão vazia e desamparada. Quem foi mesmo
que disse que não tirou lição nenhuma?
Li em um livro que “não
encarnamos neste mundo para espreguiçar ao sol, mas para evoluir e servir ao
mundo segundo o melhor de nossas capacidades. Quem agir assim, conscientemente,
encontrará a felicidade”. E é essa
felicidade que voltou a ser o meu objetivo, sem fugas do mundo material, mas
com consciência de que viver é muito mais do que isso que vemos por aí. Bem-vinda seja minha inquietação. Quero voltar a produzir pérolas!