Pediu-me que guardasse, por tempo indeterminado, o álbum de fotografias que montou durante os 3 anos de namoro. "Nunca mais terei coragem de abri-lo" disse aos prantos. "O tempo se encarregará disso, meu bem". Abracei-a forte enquanto soluçava.
Ele havia terminado aquela relação de forma descuidada. Sem arremate algum. Colocou o ponto final sem direito a interrogações. Com o tempo ela iria superar, mas naquele instante, sua dor exalava, me contaminando. Ela uma adolescente, eu uma quarentona. Não percebi diferença entre nós duas. Dormi chorando noites seguidas pensando no sofrimento dela. Sempre me penalizei pelas dores de amor (e olha que ainda nem havia provado o gosto). Era como um velório. Eu ia diariamente até sua casa e ficava ali - eu e sua mãe, uma de cada lado - mãos dadas com ela. Não falava, não xingava, não reclamava. Só se ouvia soluços entrecortados. Tudo baixinho, como as mães gostariam que seus filhos pequenos fizessem. Um rio de lágrimas. De vez em quando soltava minha mão e enxugava o rosto com um pequeno lenço de linho branco, bordado com sua inicial (aquilo devia ser presente de avó). Eu saía dali moída. Era dilacerante ver toda aquela juventude, o sorriso largo, ainda sem disfarces, conhecendo o fim de um amor. Queria matar aquele namorado! (Que por acaso era o meu filho).
Nunca perdemos contato. Passados quase dois anos ela me conta que está apaixonada e muito feliz. Quer saber que dia pode marcar para apresentar-me ao novo namorado. Perguntei se não era hora de pegar de volta o álbum de retratos para guardar como lembrança.
"Que álbum?"
Ela se esquecera. Corações seguem sem olhar para trás. Custa muita lágrima e demora o tempo do tempo. Mas depois vira apenas álbum de retrato. Ou nem isso.