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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Cardápio de amor na internet


Li hoje uma reportagem sobre o promissor mercado de sites de relacionamento que está por aí, a serviço do amor. Eu sou sabidamente uma defensora dos relacionamentos virtuais, primeiramente por uma questão pessoal, já que amo antes de tudo, aquela famosa "beleza interior", e depois por uma questão prática e geográfica, já que abrange um leque maior de possibilidades.
Mas percebo que esses sites já embarcaram nessa ignóbil "viagem capitalista", e no afã de atrair mais clientes,  vão criando compulsivamente serviços diferenciados, perdendo sua mais nobre função - a possibilidade de reconhecer-se no outro, antes de conhecê-lo em detalhes. Racionalizando, enquadrando, objetivando o que deveria ser apenas sentido.  Os sites hoje, são verdadeiras vitrines humanas. Os candidatos passam por uma profunda anamnese onde nem mesmo aquela tatuagem feita na adolescência, escapa. Oferecem um minucioso cardápio onde é você mesmo quem monta cada item que deve compor a pessoa que você desejaria amar. Pode isso? Pode, aliás tudo pode, mas perdeu o significante e o significado. Tornou a busca vazia. Assassinou o sentido, literalmente. 
Cor do cabelo, peso, altura, renda mensal, cor da pele, religião, preferência musical... Tudo lá à disposição. Basta escolher. Um convite ao preconceito. Eu já não seria mais candidata a esses sites, porque a única coisa que tem o poder de me conquistar  não tem cor, não tem sexo, não tem peso, nem altura... é a alma. A sensibilidade, por exemplo, que eu poderia expressar em uma frase escrita durante um bate papo,   nunca iria ocorrer caso o candidato em questão, tivesse optado por uma mulher sem tatuagem. Na contra mão do que é objetivado, esse  rol imenso de possibilidades, impossibilita o verdadeiro encontro. É vedado o reconhecimento. E porque aquela pessoa não tem o mestrado exigido no seu cardápio você perde de conhecer uma alma nobre. E porque o outro não tem a renda mensal que você quer que ela tenha, você perde de conhecer um ser humano inteiro.
Em meio a tantas exigências você está  se fechando  dentro de seus próprios dogmas e crenças, ou seja, rodando em círculo. Buscando semelhança em excesso e abrindo mão do grande aprendizado contido nas diferenças. Um atraso na evolução de todos nós. Você se protege e deixa de experimentar. 
Sem contar que você poderá ser privada de descobrir que por trás daquela pessoa misteriosa está um ser humano nobre, que em detrimento de tantas diferenças entre vocês, socorre cachorros que vivem sobre uma laje quente. E mesmo que tudo dê errado, o que vale é olhar para trás e certificar que de tudo, fica uma história que enriquece a vida. Dor de amor, todos vamos passar. Decepções, frustrações, mágoas todos estamos sujeitos, mas o que vale é o que ficou de belo e verdadeiro, daquilo que não pode mais ficar. 
"Eu quero amor feinho.

Amor feinho não olha um pro outro.

Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais." (Adelia Prado)

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