O
quadro "O Conciliador" do Fantástico de ontem apresentou um casal de
noivos que após oito anos de namoro e noivado, apartamento montado, e faltando
três meses para o casamento, terminaram o relacionamento. Ela entrou na justiça
contra ele para reaver alguns bens que foram pagos com o dinheiro dela. Ele por
sua vez, nega e diz que a história não é bem essa. Depois de um tempo de
"farpas trocadas", ela aceita a proposta do ex-noivo, e chorando, diz
ao advogado que não está chateada pelo dinheiro que vai perder ao aceitar o
acordo proposto por ele, mas por ele estar mentindo.
Durante
a reportagem foi mostrado o apartamento cuidadosamente montado e pude perceber
a fisionomia e o gestual de ambos - sofrimento estampado. Corpos inquietos
e olhar perdido. Ele diz que foi traído, ela diz que ele é doente de ciúmes.
Fizeram
um acordo onde cada um cedeu 50% de sua proposta inicial. No final o
repórter diz - ambos perderam
um pouco, mas será menos um processo a se arrastar pela justiça.
E
eu fiquei pensando - ambos perderam um
muito! Perderam um projeto de vida em comum.
O
quarto estava todo mobiliado e na cama já tinha até colcha! Acredito que por
anos eles se imaginaram dormindo e acordando vida a fora, dividindo momentos de
prazer e aconchego. A cozinha com o microondas (um dos objetos reivindicados
por ela), tinha toalha sobre a mesa... Provavelmente ela gastou horas copiando
aquele famoso "caderninho da vovó", com receitas
deliciosas aguardando o dia de poder cozinhar para ele... Tudo
cuidadosamente planejado para começar uma vida com conforto e segurança. E de
repente, puft! Como fumaça perdeu-se no ar. O pleito da restituição de bens
substituiu a vida em comum que ambos não desfrutarão mais. A mágoa de um sonho
quase realizado era indisfarçável.
Essa
perda em vida precisa de luto e merece tempo e respeito. Com ou sem TV de
plasma e microondas o que se assistiu foi a intensidade de uma frustação. Mas...
o sol segue nascendo e um dia, ela comprará tudo novamente para montar outro
apartamento e investir em outro sonho com outra pessoa, e ele também levará
outro amor para morar naquele apartamento que ela o ajudou a montar, e, claro, nem se lembrará mais disso.
É a vida
como ela é.