Pode alguém que desconhecia a singularidade de sentimentos como
amizade, solidariedade, respeito, amor, dignidade, se modificar totalmente?
Sempre digo que a grandeza do ser humano está em mudar, mas tanto assim? Pode o
sofrimento, o amor sincero, o desprendimento, a generosidade do outro conseguir
esse feito?
Quem traiu e abandonou três ex-esposas, não dá assistência aos
filhos frutos dos casamentos anteriores, poderá vir a ser um bom companheiro e um
pai dedicado? Acho pouco provável.
Algumas pessoas ganham da vida uma chance maravilhosa –
encontram parceiros que lhe oferecem amor, amizade, dedicação e lhe convidam
para formar a família que ele nunca teve, e ainda assim ele trai, fere,
abandona. Uma vez, duas vezes, três vezes. Então vem a vida generosamente e lhe
oferece outra chance - há possibilidade que ele aja diferente dessa vez
tornando-se de fato um companheiro e um pai? Possibilidade sempre há. Mas o
risco é imenso!
Criança que sofreu abuso, violência, abandono por parte de quem
deveria receber afeto, educação e segurança podem, quando adulto, valorizar ou não uma família,
assim como qualquer outra pessoa. Sofrimento infantil não é prerrogativa para tornar-se
um adulto responsável.
O mais esperado é que homens frutos desse meio tão sofrido, dêem
um grande valor a companheira dedicada, a família estruturada, às refeições à mesa na hora certa. Mas nem sempre é assim. Muitos tornam-se cópias do que
viram e viveram. E perguntas se formam - será que ele já nasceu assim
ou é fruto do meio em que se criou? Não há como saber, não há regras e
nem garantias.
Observar o histórico é uma maneira de calcular o risco de investir nessa relação. O que
não dá futuro é minimizar as responsabilidades dele, justificando atitudes como
traição e abandono dos filhos com uma infância difícil. A partir do momento em
que nos tornamos adultos e conscientes de nossos fantasmas estamos
automaticamente responsáveis pelos nossos atos.
Cada um faz a sua escolha, mas sempre digo que há caminhos mais
prováveis para se encontrar a felicidade a dois. Ninguém está livre de errar, mas é
preciso também assumir. Constatar no futuro que foi tudo um grande erro e comportar-se
como vítima de uma relação que deu todas as dicas que acabaria daquela maneira,
é uma covardia quase tão grande quanto a do seu parceiro que pela quarta vez traiu e
abandonou.