O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

domingo, 18 de março de 2012

Uma carta para mim



Querida eu mesma,
Que sensação boba é essa de  desamparo, de sonhos partidos, de futuro roubado?
Onde está aquela adolescente sedenda por justiça que foi suspensa da escola por mais de uma vez por afrontar o arbitrário e  tradicional colégio de freiras ao defender a colega que era alvo de perseguição apenas por proferir outra crença religiosa?
Que sensação de desamino, de fracasso, de revolta que anda te consumindo?
Onde está aquela estudante corajosa que lá nos idos de 1980 passou a madrugada rodando as ruas da cidade grande junto a uma colega, sem nenhum dinheiro no bolso e nem onde se instalar porque ao defendê-la de uma injustiça racial, foi escorraçada da república onde moravam?
Que importa quem não te quis ou quem não entendeu nada?
Lembra quando você fazia parte do grupo da terceira idade do Centro Espírita e levou aqueles velhinhos solitários, humildes e sem esperanças para conhecer o mar? A emoção deles ao ver aquela imensidão! E sua vontade de chorar ao presenciar tanta felicidade, por tão pouco... 
É tão bom ser você, não é? Tanta gente te admira e te ama, esqueceu disso?
Velhice planejada, futuro escolhido, certeza de uma companhia boa, de cuidados mútuos, nada vai acontecer. E daí? Rasteiras da vida... Tenho certeza de que você se manteve no lugar certo. Pode continuar no mesmo passo, sem fardos. Você não se desviou, desviaram de você. Em uma encruzilhada, te deixaram. Tomou poeira no meio do caminho. Fazer o que? Enquanto tenta achar o retorno, aproveite para olhar a natureza a sua volta. Você não foi perfeita, mas foi inteira. Dedicou-se, empenhou-se, deu o que tinha para manter em “ordem” o que acreditou ser importante para todos. Você foi generosa. Só desistiu no último minuto. 
Eu sei...essa dor que te consome, te derruba, te suga qualquer possibilidade de acreditar. Não consegue dormir...Eu sei. Olha para frente e só vê um breu...Eu sei. Olha para a filha e chora...Eu sei. Medo? Mas você sempre deu conta! Na época de ser filha, sempre ocupou o papel de mãe. Ainda menina foi mãe sozinha, guerreira e incansável. Porque agora seria diferente?  Você é maior (não melhor) do que tudo isso. Muito maior. Você se doou de verdade, sem culpas, sem falsos pudores, sem se esconder atrás de nada. Você foi você. Tudo que fez, faria de novo. É bom não ter nada do que se arrepender, não é? Sensação de dever cumprido não tem preço.
Chega de luta garota! Desistiu na hora certa. Tudo isso vai passar, e você, continuar.
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