Saudades do abacateiro da casa da minha avó. Lá ficava a rede onde deitava para olhar o céu estrelado morrendo de medo da noite. Não sei porque temia o escuro. Adoro o escuro. O cheiro de fim de tarde adocicado que exalava das florzinhas roxas e brancas do pequeno pé de manacá. O vento morno. Meu avô dando corda no relógio antigo. O som do piano da minha avó, e eu. Saudades de mim. Cresci ali. Morava com meus pais, mas crescia só ali. Na biblioteca enorme, com escada para ter acesso as últimas prateleiras. O Primo Basílio lido em um fim de semana. "Minha filha, assim você prejudica as vistas".
Saudade de não desconfiar das pessoas. Saudade de um tempo onde não conhecia as decepções. Saudade de nunca ter sido magoada. Saudades do balanço daquela rede.Saudade do colo da minha avó, das suas mãos nos meus cabelos: "A vovó já está vendo você daqui a alguns anos, uma mulher inteligente, corajosa, amada e muito feliz."
Saudades de quando eu só tinha medo da noite. Saudade de acreditar nas doces profecias da minha avó.