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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O FIM DE UMA HISTÓRIA DE AMOR EM IBIZA

Hoje me sinto extremamente nostálgica, não pela fim de ano e suas festividades, que só exerceram esse poder sobre mim quando eu ainda acreditava em papai noel. Mas pelo fascínio que a leitura tem sobre mim. Embrenho-me para dentro do livro e me perco lá, como se o mundo real fosse aquele. Só aquele.
Estou relendo pela 3ª vez, Catadores de Conchas, de Rosamunder Pilcher, 600 páginas de pura delicadeza. Lembro-me que na primeira vez em que o li, tinha meus 20 anos e passei batido pelo capítulo que narra a história de amor entre Olívia e Cosmo. Dessa vez foi diferente. Mexeu tanto comigo que precisei parar de ler e pensar.
Olívia, alta executiva de uma editora, solteira convicta de 35 anos, sai de Londres com uma turma de amigos para conhecer Ibiza, ainda uma ilhota deserta e quase desconhecida da Espanha. Lá encontra Cosmo, um belíssimo homem, 15 anos mais velho que ela, desquitado e pai de uma filha de 10 anos. Aproximaram-se, conheceram-se, apaixonaram-se, e ela, através de telegramas pede demissão do emprego, e avisa a mãe que ficará por lá. Um lugar sem telefone, sem shopping, sem a vida cultural, que ela tanto fazia questão de preservar, sem intelectuais, com exceção de Cosmo, que além de culto, reunia todas as qualidade que  nunca pensou encontrar em um único homem. Ainda assim, ela preferia encarar aquela sua brusca mudança, como  férias sem prazo. Contrariando a si própria e  todas as suas crenças, passou a levar uma vida simples, como a dos nativos, cuidava da horta, do jardim, da casa charmosa e aconchegante, fazia longas caminhadas, passava horas lendo na rica biblioteca da casa, nadava, e... amava e era muito amada! Nas férias conheceu a filha de Cosmo, e se apaixonou pela garota, outro choque para alguém que passava longe até mesmo dos sobrinhos. Tudo era perfeito demais. Nunca mais usou batom, nem salto alto, aliás, nem se calçava mais. Usava moletons folgados e deliciosamente confortáveis. Estava extremamente feliz. Cosmo vivia ali há uma década. Sua ex mulher não se adaptou ao lugar e se foi com a filha. Ele ficou. Era aposentado, além de contar uma pequena renda de um dinheiro deixado pelo pai. Mas nunca conversavam sobre dinheiro, bens, posses. Às vezes ela pagava alguma coisa, mas lá não se gastava quase nada.
Olívia já não se imaginava sem ele. Nunca sentiu falta, nem por um minuto, de sua vida agitada, de seu trabalho, de seus amigo. Um ano se passou. Até que um dia um senhor chamou por Cosmo, conversou com ele, entrou na casa, olhou a descarga do banheiro e se foi. Ela pensou ser o encanador, apesar das boas roupas e do carro muito mais novo que o de Cosmo. Perguntou despretensiosamente quem era o homem, e ele respondeu com a mesma despretensão: "O dono dessa casa" Como? Não era ele o proprietário? Não, não era. Era o zelador. Apenas o zelador. Não tinha casa própria e nem dinheiro para tê-la. Ela questionou o que ele deixaria de herança para a filha, e ele lhe respondeu "lembranças". A mulher de negócios surgiu indignada:  "Como uma pessoa pode viver bem, sem possuir  casa própria?" E ele lhe respondeu que nunca lhe fez falta. Ela lhe perguntou se ele tinha reservas financeira para caso de uma emergência, ao que ele respondeu: "Não, tenho apenas o suficiente para viver o dia a dia". "Mas, Cosmo, e se vc adoecer, e se vc precisar, e se vc ficar sem essa casa, e se, e se, e se..."
De repente, ela começou a querer sua vida de volta. E assim, ela se foi. Largou o amor, a vida de frente para o mar, os moletons aconhegantes, os braços morenos que lhe envolviam nas noites frias. Voltou para seu apartamento de dois andares de paredes brancas, para suas roupas de griffe, e para o antigo cargo na editora.
Sentiu-se traída por ele nunca ter lhe contado aquele fato, de fundamental importância para ela. Mas ele não sabia disso. Ele apenas não tinha casa própria, nem reservas financeiras. Já ela, ouvia desde menina que comprar uma casa, e ter uma poupança era vital, aprendeu que ninguém poderia viver em paz, sem a certeza de  um teto e de um dinheiro extra.
Escala de valores é isso. Cada um tem a sua, e ela é capaz de destruir as maiores histórias de amor. Por isso defendo que para que o amor dê certo é essencial que as prioridades do casal, sejam no mínimo, bem próximas.
Olívia e Cosmo não pensaram nisso.


Um comentário:

Anônimo disse...

(Veneziano) E viveram infelizes para sempre...o amor pode quase tudo. Os valores e conceitos, a escala de cada um afeta esse equilíbrio. A convicção de um pode esbarrar na descrença do outro. Enquanto ela mudou atitudes, mudou o coração, esqueceu de mudar a cabeça, as suas neuras. Buscar culpas aonde, onde estava a felicidade? Fugiu de medo...acontece todo dia...

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