Ciúme é um
tema recorrente nos relacionamentos desde os primórdios da humanidade, tendo
destaque entre filósofos de todos os séculos, e continua existindo “atavicamente”
e sem nenhum tipo de evolução, que não a teórica, em pleno século XXI.
“Oh, tende
cuidado com o ciúme. É um monstro de olhos verdes, que zomba da carne de que se
alimenta".
“Hoje pela
primeira vez tive ciúmes dos olhos do meu primo”.
Porque eles
viram-te e eu não te vi”.
Confesso-me
totalmente parcial quando se trata de Fernando Pessoa, mas essa doçura com que
ele se refere ao ciúme está valendo... Sentimento gostoso destinado a quem se
quer sempre ao lado para dividir a vida. Ciúme dos olhos que a olham, dos
sorrisos que lhe dirigem, das mãos que lhe estendem. Existe esse ciúme que é
cuidado e não posse (mas eu tinha vontade de arrumar outro nome para esse
sentimento que não ciúme, poderia mesmo ser “cuidado”).
Dizem que sentimentos irracionais fazem sentido quando entendemos
o que está por trás deles. O que vemos por trás do ciúme nos relacionamentos
amorosos é o medo, real ou irreal, vergonha de se perder o amor da pessoa
amada, falta de confiança no outro e/ou em si mesmo. Esses sentimentos podem
estar embasados em alguma coisa real, como já ter sido traído por exemplo.
Mas racionalmente, nada justifica esse sentimento. Pois senti-lo,
não modifica os fatos - se tiver que ser traído, será, se tiver que ser
abandonado, será, se tiver que ser trocado pelo seu melhor amigo, será. Sentir
ciúme não tem utilidade nenhuma. Não ajuda, não previne, não defende, e,
quando é exagerado, pode tornar-se patológico e transformar-se em uma obsessão.
Eu fui muito ciumenta, hoje sou bem menos, ainda sim, não me
conformo em sê-lo, pelo simples fato de eu ser tão consciente acerca da total
incoerência desse sentimento. É a irracionalidade do amor.
Diz Rubem Alves que
"O ciúme é aquela dor que dá quando percebemos que a pessoa amada pode
ser feliz sem a gente".
Enfim, ciúme resume-se em desejar a posse absoluta do outro. Não
basta se saber amado. Busca-se a garantia ilusória de que aquela pessoa nasceu
a partir do momento em que te conheceu - não tem passado para recordar, e nem
futuro para almejar, que não a sentença de viver com você e para você.
Como a vida
nunca nos dá garantia, tudo isso é absolutamente em vão.
3 comentários:
Que apanhado espetacular que vc fez sobre o ciúme. Que certeza nos passou na inutilidade desde. Parabéns
Oi Arione! Obrigada pelas palavras, vc é especial tb.
O AnônImo, obrigada pelo elogio. BJOS
Minha amiga...vc fala em racionalidade, sentimento racional, desejos de posse etc...Desde qdo o amor é racional? Se for amor, não é. E o problema do ciúmes não é o sentimento em si, é a intensidade, a doença. Aí sim, vira um problema, não querer dividir o amor com ninguém, é egoista, sempre. É preciso aprender a controlar essa fera dentro de cada um...e viver o lado bom do amor..
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