Andréa me escreveu um desabafo longo e bem escrito, que transbordou toda
a emoção necessária para me envolver completamente em sua história. Trinta anos
de idade, carreira bem sucedida, divorciada e sem filhos resolveu retornar à
sala de aula e cursar outra faculdade. Muitos amigos, boas noitadas, e sempre
um "namorinho aqui e ali", nada sério. Não constava em seus planos um envolvimento duradouro "pelo menos não nos
próximos seis anos" .
No final do quarto período de faculdade ocorria um fórum em sala de aula
e o professor responsável assentou-se ao seu lado para assistir "era um homem razoavelmente alto, calvo, bem barrigudo e uns 10
anos mais velho que eu". Sorriu ao assentar-se
e cumprimentou-lhe batendo delicadamente a mão sobre a dela. "gostava
de suas aulas, achava-o inteligente, bem humorado e extremamente jovial."
No final das apresentações ele fez qualquer comentário e ficaram
conversando por mais de uma hora "fiquei tonta com o cheiro bom do seu hálito e a doçura do seu
sorriso que nunca tinha notado".
No outro dia, no outro e no outro ele aproximou-se dela no intervalo da
aula e um dia convidou-lhe para jantar. Ela gostava muito de conversar com ele “mas daí a jantar... poderia dar uma conotação de interesse homem/mulher que eu
jamais teria por ele, definitivamente ele não fazia meu tipo".
Quando ela chegou, ele já estava no restaurante, levantou-se e veio ao
seu encontro "olhei para aquele homem jovem, apesar de velho para o meu gosto,
calvo, e barrigudão e pensei no que eu estava fazendo ali". No terceiro dia consecutivo saindo juntos à noite, foram ao apartamento
dela "e tive a melhor
noite de toda a minha vida".
Não fez nada no dia seguinte, não conseguiu ir a faculdade, não
conseguiu levantar-se da cama, estava atônita, com um sentimento de completude
nunca antes experimentado - "estava amando, não tinha dúvidas disso! Um homem inteligente,
excelente papo, bem humorado, calmo, educado, careca, barrigudo e o melhor
amante que já tive!"
Recebeu um buquê de flores lindo e um cartão que dizia "Você sempre diz que adora o fato
de eu lhe incentivar, e te digo que por enquanto é só o que posso lhe dar -
incentivo e o meu amor."
Não entendeu muito bem, ela não dependia dele para nada, ele sabia
disso, e só queria mesmo o seu amor e a sua companhia. Mas... A vida bate forte
algumas vezes, e apesar do amor que sentia por ela, ele não poderia mesmo
dar-lhe a desejada companhia, pois era casado e tinha duas filhas. "No
primeiro momento achei que fosse morrer, depois desejei matá-lo. Ele não me deu
a chance de escolher se ia querer ou não me envolver com um homem casado."
Eu entendi sua revolta. Não foi um amor à primeira vista, não foi uma
paixão fulminante. Tudo aconteceu no caminho inverso. Foi uma conquista que se
deu aos poucos, uma admiração que nasceu através da intimidade que brotou das
longas conversas, das gargalhadas, das afinidades, e finalmente do sexo.
"Ele chora e me pede perdão, eu choro e lhe cobro uma explicação". Mas quando ela lhe pergunta o que será
deles dois (porque ela não quer desistir do que acredita ser um verdadeiro
encontro de almas) ele diz que precisa de um tempo para resolver a situação do
seu casamento.
E quando ela me pergunta o que eu acho que deve fazer, eu digo que tenho
duas respostas:
Uma da pessoa racional que briga para conseguir morar em mim sem ser
despejada e diz- "Sai fora, você vai sofrer, mas vai passar. Envolver-se
com pessoas casadas não vale o risco"
A outra, irracional que está confortavelmente instalada em mim e diz- "Jogue-se de cabeça. Não abra mão
de um amor".
Só você pode decidir qual das duas opiniões lhe servirá, pois eu mesmo vivo em conflito entre elas.
Só você pode decidir qual das duas opiniões lhe servirá, pois eu mesmo vivo em conflito entre elas.
E para você, a segunda pessoa que vive em mim envia esse poema de
Fernando Pessoa:
"Se
estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver
tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
O mais é nada".
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