O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

E foi assim que tudo acabou


Chegou estranho em casa dizendo que não poderíamos mais estender a viagem após o congresso. Deixou de alugar na locadora filmes para sábado à tarde. Não saboreamos mais o vinho antes de dormir. Aos poucos deixou de vir para o jantar. Passei a ir à banca sozinha comprar jornal aos domingos. Não parava mais para tomar sorvete. Sozinha não tinha graça. Sempre cansado, aguardava em casa, enquanto eu me dilacerava com aquela ausência tão perto de mim.
Já estava com pena da Ludi,  não tinha culpa daquela inexplicável reviravolta em nossa rotina. Há noites não passeava mais. Comecei a caminhar com ela. Por vezes se voltava para mim com a sensibilidade que só os cães têm - "ei! onde está ele"? Passando a mão pelo seu pelo farto respondia "parece que não está mais entre nós." E seguia, na maioria das vezes, chorando.
Fugia a todo custo da primeira conversa (disse primeira porque casal nenhum decide duas décadas de vida em uma única conversa). Tentava evitar o inevitável.
No começo do fim eu ainda o esperava para irmos dormir, e o livro que nunca mudava de página era a justificativa tola para não ir. Pouco tempo depois passei a correr na sua frente e ganhar a cama. Quando ele chegava era eu quem fingia dormir. Temia a tal conversa. Meu sangue sempre quente parecia congelado. Não fazia perguntas e seguia sem raciocinar. 
Um dia comunicou que estava comprando um apartamento na praia, “que bom! sempre disse a você que seria ótimo para nós”. Não se virou para mim, “preciso de um pouco de privacidade”.
Não tive reação, senti aos poucos o sangue descongelando. “Você tem outra?” A pergunta que ele aguardava impaciente há dias pareceu soar-lhe como um  remédio contra dor “tenho”
O teto caiu sobre mim, despedaçando-me por dentro. Não íamos mais envelhecer juntos?
“Como você teve coragem de fazer isso comigo?” “Acha que se pudesse escolheria isso?” “Porque então?” “Não tenho essa resposta.” “Quando começou?” “Há seis meses” “Porque não me contou antes?” “Não queria te magoar”
Magoou-me a conta gotas. Mudou nossa rotina. Foi arrancando minhas esperanças de que tudo voltaria ao normal. Friamente esperou que minha angústia perante tamanhas mudanças lhe servisse de estopim para aquela conversa.
“Você é um covarde! Separou-se de mim há seis meses e obrigou-me a ficar com você.” “Você ia sofrer muito resolvi dar esse tempo” “A opção era minha, não tinha o direito de decidir por mim
Ainda assim eu não queria a separação. Era uma vida tão boa...
“Podemos tentar mais uma vez. Sempre vivemos tão bem” “Amo outra mulher” “Isso não é amor, vai passar” “Quero partir” “Por favor, vamos dar mais uma chance a nós” “Não quero mais viver com você” “E eu não quero ficar sem você!” Gritei aos prantos.
“E vai me condenar a ficar ao seu lado?” Juntei o que pude de roupa e dignidade e fui embora. 
Foi nossa primeira e única conversa e decidiu soberanamente o destino de duas décadas de vida em comum, em menos de 15 minutos.
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