O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Os olhos mais lindos do mundo


Seus imensos olhos negros e cílios inacreditavelmente longos são exatamente os mesmos de 16 anos atrás.
Quando nos vimos pela primeira vez, fiquei impregnada pelo seu olhar. Encarou-me firme e pude ouvir olá mamãe, vim para ficar sempre ao seu lado. E é assim, do jeitinho que prometeu, meu companheiro de todas as batalhas.
Foi o bebê mais lindo que já vi (corujices à parte, já sou mãe de outros dois). Não atravessou fase feia, aquela pela qual toda criança passa. Não foi um bebê trabalhoso. Não chorava à noite, não fazia manha, andou e falou cedo, deixou as fraldas muito antes que eu o estimulasse.
Toda essa moleza ficou para trás depois dos cinco anos de idade. Foi difícil crescer. Passou por perda irreparável, enquanto eu o ensinava que ninguém perde o que não tem. Eu larguei o mundo por ele. Agarrei-me com todas as garras que uma mãe leoa é capaz. Tantas vezes impotente, presenciava aqueles olhos imensos nadando em água e o garoto destemido tentando em vão, segurar o choro.
Corajoso, tocava gado, montava cavalos imensos, escalava montanhas, acampava no mato, mas tinha pavor das incertezas da vida. Mãe, e se você morrer? E eu prometia com todo o direito imaculado de mãe Fique tranqüilo meu bem, mamãe só vai morrer quando você já for um homem. Percebia que ele se acalmava.
Sempre admirei sua frontalidade perante o mundo. Nunca trouxe desaforo para casa, defendia quem fosse preciso, e me esgotava descontando tudo o que não me cansou quando bebê - Mãe porque o sol chama sol? Mãe porque Deus não aparece? Mãe porque tem criança diferente de mim? Incansavelmente ele seguia perguntando, e ainda segue até hoje.
Amo meus três filhos, mas nenhum deles é tão meu quanto esse. O sofrimento dele e minha vontade desesperada de aliviá-lo nos uniu com elos de ferro. E é recíproco. Por um longo período, éramos só nós dois, apesar de todos os outros que estavam a nossa volta. Até hoje ele se desnuda para mim através de seu olhar independente do que sua boca fala aos outros.
Carrego um orgulho que não cabe em mim de tê-lo criado.  E não errei quando disse lá na maternidade que nunca tinha visto um bebê tão lindo. Não vi mesmo. Sua beleza se perde na generosidade. Sua intensidade quase me consome.  E seus olhos continuam querendo engolir o universo inteiro.
Inácio, filho amado, você me sugou, exigiu de mim o que eu desconhecia ter para dar. Confesso que foi difícil demais, às vezes não sabia o que te dizer. Percebia que não estava desempenhando o papel esperado de uma mãe - eu também queria colo e você sempre tinha para me dar. Sua mãozinha pequena ficava sobre a minha e juntos vencemos, afinal o pior já passou e finalmente você compreendeu que ninguém perde o que não tem. Apesar das tantas adversidades, sou privilegiada e agradeço a Deus por tê-lo deixado sob meus cuidados e por senti-lo integralmente meu, mesmo percebendo que o mundo já começou a ficar pequeno para você.  Obrigada pela companhia. Te amo. Feliz aniversário!

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