Algumas vezes (como hoje) queria que habitasse outro eu em mim. Fico imaginando o que seria, se eu fosse diferente de mim. Tantas modos de ser eu poderia ser. Evitaria tantas coisas e causaria tantas outras (isso é certo). Mas se pudesse, queria experimentar. Olhar com outros olhos, ler outros livros, pensar menos no que poderia ter sido e mais no que poderia ser. Se eu tivesse outra motivação talvez sentaria mais em bares e olharia menos para o céu. Com isso veria mais pessoas e menos constelações. E se eu ficasse feliz em ganhar uma aliança de diamantes azuis e achasse brega receber uma rosa com um cartão e um poema? Seria diferente. E se eu chorasse só porque meu filho repetiu o ano na escola? Outra novidade.Como deve ser não ter vontade de chorar quando seu filho pega o ônibus na rodoviária para estudar em outra cidade? Nem imagino... Mas queria saber como é sentir tantas coisas diferentes dessas que eu sinto. Queria não saber fazer bolo de banana e gostar de churrasco e cerveja. Queria não estragar todos os meus sapatos com menos de um mês de uso. Se eu fosse outro eu, ainda assim investiria nesse mesmo amor. Porque valeu à pena e eu não sei amar diferente. E se eu soubesse amar pela metade? Acho que sofreria menos (olha, te amo se você fizer isso, se você me der aquilo, se você se comportar assim...). Eu amo porque amo. Se eu não fosse esse eu que vejo agora refletido no espelho, mas esse outro eu que meus olhos procuram, queria ter menos livros e ver todo mundo em minha volta voltando a ser feliz. Não, não é culpa dos meus livros. É só vontade de ser diferente. E só vontade de que tudo não tivesse mudado de lugar.