Esqueci o temor de insetos e dormi com a janela do quarto totalmente aberta. Fui desperta pelo sol. Era muito cedo quando ele tocou meu rosto. Diferente de mim, parecia saber onde ir. Fiquei observando e rapidamente invadiu a cama, deixando o cabelo de minha pequena (é, estamos dormindo juntas só por um tempinho, prometo) dourado como quando ela nasceu. Por breves momentos me senti quase feliz. Aquela tristeza monstruosa deu licença ao sol.
Ainda tenho a sensação irracional de que a alegria me abandonou para sempre. Ando obtusa e, como estou consciente disso, nem dou "bola" aos temores que me assombram.
O sol continuava brilhando lá fora quando, sem mais nem menos, fez-se noite novamente dentro de mim. Acho que foi o toque do telefone. Não sei. É uma sensação ruim. Parece que o mundo pára de girar e se concentra nessa dor que esmaga tudo, obrigando o coração a se agarrar para não ser cuspido para fora de peito. Aprendi a dar licença a todos os sentimentos que me visitam, pois estou convencida de que, mais dia, menos dia, todos vão embora para sempre. É o famoso e perfeito "tudo passa". Tudo mesmo!
Novamente me fixei no calor do astro. Descobri que é diferente chorar sob o sol. As lágrimas secam mais rápido. Decidi acompanhá-lo mais de perto. Fui caminhar. Em meia hora não se via mais o sol. O céu ficou escuro. Mas eu optei por mantê-lo o resto do dia vivo dentro de mim, e espero conseguir.