Perco coisas e pessoas com uma frequência que judia e me sufoca. Enterrei em cemitério uma ou duas pessoas que me eram caras.Velei poucos mortos. Mas enterrei muitos vivos. Pessoas queridas que me deixam para trás. Choro por longo tempo essas perdas, em um velório sem corpo e sem velas. Meu lamento é solitário. Minhas perguntas, sem respostas. Forçam-me a jogar projetos na lata de lixo. Escondo de mim mesma porta retratos para nunca mais encontrá-los. Idealizei tantos cenários para depois desmontá-los. Outra vez tenho uma vida abortada. Mais uma vez me metamorfoseio para me adequar ao que não tive escolha. Fecharam a cortina antes que eu tivesse terminado minha fala. Existe um mundo que depende de mim e precisa seguir. E eu o seguro (e ele me segura) e vamos adiante. Me equilibro com extremo esforço para não cair, enquanto todo o resto parece alheio ao peso que me impõe. Novamente ninguém para me escorar. E um mundão para enfrentar. É a vida que segue.