Recebi um email com a
pergunta - “Existe traição virtual”?
A convicção é perigosa, mas
me arrisco – é óbvio que existe! Se existe relação virtual, existe traição
virtual.
Não vejo dificuldade em
entender isso a partir do momento em que se acredita que laços verdadeiros
podem ser firmados (e desfeitos) através da virtualidade.
No blog “O amor está na
rede” http://www.oamorestanarede.com.br/
de
Erica Queiroz, certamente existem muitas matérias a esse respeito, vale
conferir.
Não vou abordar aqui os sites
de relacionamentos onde as pessoas se cadastram para encontrar alguém com
características pré-estabelecidas, porque entendo que a pergunta não cabe para essa
situação. Percebo que a questão é mais sutil.
Há muito tempo os
relacionamentos vêm passando por transformações. As mulheres estão buscando viver
de modo singular, libertando-se das posturas que as feministas definiram como
sendo modus operandi que possa
garantir o papel da companheira, amante, mãe e dona de casa, sem perder as indubitáveis
conquistas galgadas do universo feminino. Ocorre que essas mulheres descobrem que
seguir uma opção pessoal, independente de manuais, também não é garantia de felicidade
a dois.
Enquanto isso, os homens vão
tentando se encontrar dentro da relação em que vivem ou buscam viver, perdidos,
entre Amélia, workaholic, Bridget
Jones e fêmea fatal. Também tentando encontrar
o tipo de relação que os fará feliz.
Nesse antigo descompasso
entre as fórmulas da felicidade conjugal e o que cada um aposta que poderá lhe
fazer feliz ou não, somos presenteados com o ilimitado mundo virtual
abrindo-nos um universo de perspectivas. Somos içados do emaranhado de livros
de auto-ajuda que compulsivamente surgem trazendo sempre a “última solução para
viver bem a dois”, e entramos em salas de bate papos (o famoso chat).
Troca de experiências, desabafos,
conselhos, e percebe-se que o mundo está repleto de pessoas com os mais
diversos tipos de questões sentimentais. A cadência de relatos sobre
relacionamentos a dois impressiona. Essa constatação de que você não está
sozinha em sua queixa, conforta. Pois a colega de ginástica, a cabeleireira, o
chefe do escritório, a turma da pelada de domingo, as mães que tagarelam na
porta da escola dos filhos, parecem sempre protagonizar o relacionamento
perfeito! Quantos deles não estarão como você, em algum chat? Todos na mesma
embarcação, buscando as mesmas respostas.
Ai, um dia, em meio a essa
troca despretensiosa, você esbarra (assim mesmo como em uma esquina) com alguém
que pensa como você, que gosta das mesmas coisas e que também está ali pela
mesma razão - sente-se só, e busca encontrar pessoas afins.
É improvável que um casal
feliz fique entrando em salas de bate papo, mas caso entre, não vai se envolver
em algo mais do que novas amizades. Se a relação é inteira, não haverá espaço
para ninguém entrar.
Ou há?
Ou não existe relação
inteira?
Ou foi inteira por anos até
que um dia deixou de ser?
Ou estava inteira até o
momento daquele chat onde se conheceu alguém?
E cada dia me convenço mais
que certezas em torno de amor são como bolhas de sabão...
Uma pessoa que guardo
comigo, me disse que meus textos passam uma visão fatalista sobre
relacionamentos – que quando esses não dão certo já evidenciavam essa
possibilidade, e os casais, desatentos ou mergulhados na irracionalidade
própria dos apaixonados, é que apostaram errado. É verdade, sempre pensei
assim, e nunca tinha me dado a chance de perceber de outra maneira.
Essa nova ótica que
generosamente me foi apresentada, de que muitas relações podem dar certo e um
dia chegar ao fim, desarrumou algumas coisas dentro de mim. À medida que vou
arrumando, vou percebendo que essa abordagem faz mais sentido – relações que
eram afinadas, um dia perdem o compasso e a dupla não encontra mais o tom, e
isso não invalida as belas melodias que tocaram juntos.
É uma visão mais realista, sem
a irracionalidade que por vezes me acompanha.
Diz Lia Luft – “pois viver deveria ser – até o último
pensamento e o derradeiro olhar – transformar-se.”
Ocorre que quando só um
acredita nisso, é o começo do fim, o grande descompasso que poderá levá-la/o ao
interessante mundo dos relacionamentos virtuais.
E quando menos se espera
estão teclando diariamente, a tela do computador parece pulsar, viva,
transmitindo as emoções... E vem a necessidade de esconder esse fato do
companheiro/a – apagam-se todas as mensagens, troca-se a senha antes
compartilhada, enfim afastam-se, ficando de lados opostos. A meu ver, começa aí
a traição.
“Traição é trair a
confiança”. É isso. Respondida a pergunta.
13 comentários:
Menina! Você é tudo! Escreve com propriedade e consegue poetizar tudo o que toca... Ainda tem o desprendimento de citar sempre um amigo, e blog de terceiros dentro do seu texto sem perder o seu brilho! Parabéns, mil vezes. Você é uma estrela.
Otima materia!!
bjs
Olá minha querida Marcela!
Uau!! Caramba! Que texto maravilhoso! Adorei a sua abordagem, a forma como fez o paralelo da rotina e suas camufladas insatisfações, para chegar à conclusão final! A pergunta foi super bem respondida mesmo!
Concordo com você! Para mim, quando a confiança deixa de ser o ponto comum de união e passa a se tornar segredos, com certeza o início ou o despertar da traição está ocorrendo! Adorei você citar a Erica Queiroz que, além de ser minha amiga pessoal, é uma talentosa escritora e coch de relacionamentos! Sempre conversamos que relacionamentos são virtuais pelo simples fato de ter uma tela de computador e um teclado mediando a comunicação, porque na verdade, são duas pessoas (reais); com sentimentos e componentes humanos, expondo os seus desejos e as próprias vidas!
A comunicação hoje segue numa velocidade tão grande que é "moderno" dar uma espiada e abrir "outros horizontes" através da internet!
Minha querida, parabéns pelo excelente texto! Gostei muito mesmo!
Grande beijo,
Jackie
Nossa! Como você escreve bem! Quanta lucidez para explicar algo para mim, tão complicado de entender. Como ser traído por uma máquina? Mais fácil ver assim. Ficou claro para mim, porque fui traido. As máquinas guardam mais vida do que a que eu tinha para dar. Muito bom! Parabéns
É redundante, mas seu texto é simplesmente maravilhoso!
Oi minha querida, te desejo uma ótima semana obrigada pela visita ao meu blog,vc é uma amiga muito espeçial um abraço. fica com Deus...bjs
Bom gente, vamos lá!
Obrigada Marcos pelos elogios.
Dri, um comentário positivo vindo de vc, é no mínimo importante para mim...obrigada.
Jackie querida! Sabe qto sou fã de absolutamente tudo que vc escreve, dessa forma me sinto lisonjeada com seu terno comentário. Quanto a citar Érica, não tinha como deixar, gosto demais do que ela escreve e sei que tem propriedade nesse tipo de tema. Quando mais dividimos, mais somamos, é assim que penso.
Obrigada Luiz e Jully sempre presentes por aqui.
Arione, obrigada pelo carinho. Bjos a todos.
Todos nós buscamos uma parceira diária na nossa vida, linda e maravilhosa. Buscamos uma mãe incansável pra educar nossos filhos. Queremos uma topa-tudo pra shows, baladas e outras aventuras. Queremos uma mulher-tufão na nossa cama, uma amante dedicada.
Por quê não uma mulher cibernética?
Só não deixe q elas se encontrem, não costuma dar certo.
Olá Aônimo, diferente de você(óbvio né?) penso que o melhor fosse que todas se encontrassem em uma só. E, se isso não é possível(apesar de eu achar que seja), que se faça uma escolha, afinal a vida é isso - escolher o tempo todo. Quem tudo quer, nada tem. Obrigada pela visita.
Desconfio q você já foi cibernética...
Fazer escolhas é fazer opções. Opções implicam em desistências de algumas coisas.Querer nem sempre é poder, uma mulher total é utopia, por mais q ela se esforce. As mulheres se atrapalham nesses papéis, o resultado é um grande nada, como vc mesma disse.Como a vida muda todo dia, um dia pode dar certo...se não der, deleta.
Querida Marcela,
Em primeiro lugar, obrigada por mencionar meu trabalho em seu texto. Eu também admiro demais tudo o que você escreve e já te admirava desde o Sentimento Calmo, sem saber que se tratava da mesma pessoa, como te contei.
As pessoas hoje são tão cobradas, tanto por si mesmas, quanto pela sociedade, que acabam ficando em relacionamentos totalmente pedidos se não puserem os pés no chão.
Na minha opinião, se uma pessoa vai em busca de outra na net, seja para desabafar ou apenas conversar (o que acontece muito, uma vez que há pessoas disponíveis 100% do tempo, mesmo que em outros países, enquanto não poderíamos ligar para um amigo no meio da madrugada), é porque ela já não está satisfeita com seu relacionamento atual e, por isso, é muito mais fácil se "apaixonar" por alguém que conheça na rede, pois esta pessoa será, num primeiro momento, totalmente idealizada. Só no dia a dia é que aprendemos a conhecer e reconhecer o outro. E essa paixão pulsa, como você disse. Instala-se um vício, um querer estar com o outro o tempo todo. E aí começam os segredos...
Portanto, se há uma intenção, mesmo que meio inconsciente de início, eu também considero traição (porque a outra pessoa nem desconfia que você está fazendo isso). Adorei como você definiu: "traição é trair a confiança".
Parabéns pelo maravilhoso texto, amiga!
Beijos,
Erica
Oi Érica, prazer é meu tê-la aqui. E poder citá-la em um texto meu é uma honra. Obrigada por gostar e por deixar sua importante colaboração para meus leitores. Bjos
Obrigada, Marcela!
Nosso carinho é recíproco! :)
Beijocas
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