O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

TEMENDO OS AFETOS

A maturidade me trouxe o medo de perder os afetos. Antes não era assim.
Sempre fui visceral, tudo em mim pulsava, minha dificuldade em lidar com sentimentos, provinha da imensa facilidade que tinha em vivenciá-los. Jamais administrá-los. 
Minha primeira reação sempre foi instintual. Agia impulsivamente conforme sentia. Minhas emoções me guiavam, empurrado para um canto ermo a racionalidade. Criei-me em meio a esse turbilhão emocional. Sentimentos à flor da pele.
Lancei-me na vida de qualquer maneira, guiando-me somente pelo calor das sensações. 
Tive uma educação rígida, com pais "caretas" e controladores o que me impediu de abandonar tudo em duas ocasiões da minha adolescência - uma para viver em uma comunidade hippie em Mauá e outra para acompanhar mochileiros para o Tibet. Eu me atirava no impulso, eles vigiavam, percebiam e me podavam. Por muitas vezes pensei em fugir de casa, literalmente. Mas minha irracionalidade não superou meu medo. Até hoje não sei se lamento ou fico grata (ainda não achei o caminho do meio).
Fui assim também no amor. Na verdade nunca fui arrebatada por paixões violentas, daquelas que acontecem em um primeiro olhar. Mas bastavam algumas conversas para que eu percebesse pelo "faro" a chance de um grande amor. Foram poucos, mas sempre intensos e verdadeiros, para mim. 
Com o tempo (e não demorou muito) comecei a temer os afetos. Talvez a vida tenha me levado ao uso de uma racionalidade forçada e imatura, e, com isso não consegui encontrar o equilíbrio entra razão e emoção. Dei um violento salto de um extremo ao outro e passei a me proteger de tudo e de todos.  Fiquei consciente disso pouco tempo atrás. E confesso que essa consciência não me trouxe a solução. Vivo entre me lançar e me resguardar, e com isso perco momentos e pessoas. Sou cuidadosa desde as amizades até uma saída descomprometida com uma turma qualquer. Finjo para mim e para os outros que sou segura e que me entrego às vivências - minto nas duas situações, não sou segura, e nem me entrego. Protejo-me o tempo todo. Ainda oscilo entre emoção (que teima em me guiar) e a razão (na qual tento me agarrar). Equilíbrio ainda está distante de mim.
Envolvimentos me afugentam, vivo em uma casca, ando de lado para não dar as costas e olho de soslaio para qualquer aproximação ou comprometimento com situações ou pessoas.
Mais de uma vez já tive a curiosidade de perguntar a várias pessoas - "amar e correr o risco de sofrer ou não amar?" e de todas ouvi um sonoro "AMAR". Entenda-se amar como comprometimento de qualquer natureza. Desde dedicar-se intensamente ao trabalho e temer uma transferência indesejada para outro setor, até envolver-se corpo, alma, cabeça e coração com alguém e conviver com o risco de perdê-lo. Vale trabalhar mais ou menos, cumprindo obrigação sem colocar o coração? Vale amar sem entregar-se por inteiro? Acho que não. Mas nem sempre ajo como acho que deveria.
Vivo entre sair e ficar. Entre não conhecer e conhecer e gostar, entre gostar e correr o risco de não dar, entre correr o risco de não dar e não tentar deixando sempre como está. 
Sofrer ou não sofrer também carrega uma dose de relatividade - para uns sofrer depois de vivenciar  nem é sofrer, para outros não sofrer porque não arriscou é que é sofrer.
Eu ainda busco a minha medida.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...