O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Depressão


 Não sei como nem porque aconteceu. Aos poucos, eu que dormia como um anjo passei a dormir cada vez menos. Depois a novela de época exibida às 18hs que eu adorava, deixou de me interessar. Lia a biografia de Che Guevara sofregamente, fechei o livro na metade e não abri mais. Nada prendia minha atenção. Não ligava mais o som quando chegava do trabalho. A palavra concentração evaporou-se do meu vocabulário. Não tinha lugar, nem posição, nem sossego... Eu não cabia mais em mim. Tudo que comia me fazia mal. Parei de comer. Eram duas ou três maçãs ao dia. Repentinamente, eu, naturalista de carteirinha comecei a ir a médico quase diariamente. Sentia tudo de ruim, por dentro e por fora. Por dentro eu sublimei, e por fora me submetia a exames sem fim. E, nada. Quantas vezes saía de madrugada para ir ao hospital... Era uma tortura solitária e que me minava a conta gotas. Olhava para meus filhos com saúde, crescendo lindos, minha casa,  mesa farta, um amor novo que me enchia de felicidade, e tentava entender aquele sofrimento. Um dia não dormi, veio outro dia e não dormi também, chegou o terceiro e nada. Sentia um sono imenso, mas não desligava “algum botão” em mim. Telefonei para minha mãe, cedi ao comprimido de calmante que me trouxe (nunca havia tomado nada parecido, aliás, não tomava nem remédio para dor de cabeça). Acreditei que fosse desmaiar e dormir por 24hs. Não fez efeito... Às 6 da manhã cai num pranto que durou mais de cinco horas. Desse momento em diante a luz se apagou.
Eu desaguava ininterruptamente, como se aquela água toda fosse esgotar minha dor. Tinha consciência de tudo e buscava um motivo que justificasse. Não encontrava. E me consumia ainda mais por isso. Dilacerava-me de tanto sofrimento, e não encontrava a razão. Comecei a dormir a noite inteira (no canto da cama da minha mãe) mas, continuava chorando. É incrível a sensação de um mundo preto e branco. De nada ter sentido, de tudo o que “era” deixar de ser. Eu me via no meio no nada. Um vazio sem precedentes. Percebia as pessoas em volta aguardando uma reação e não suportava a expectativa em relação à minha ressurreição. Minha mãe se dedicava incansavelmente, mas não entendia isso. Meu padrasto segurava minha mão e recitava um mantra que iniciou a minha cura “vai passar... vai passar...” e eu me agarrava àquilo como náufrago em alto mar. Passado uns dois meses, senti o paladar de uma torrada e dias depois, me peguei cantarolando enquanto tomava banho. Impossível descrever o que senti nesses dois momentos. Retornava lentamente à vida. Muito tempo depois, um ano talvez, senti forças para me reinventar. Ninguém é o mesmo após tanto sofrimento. Hoje tenho consciência que tive uma... digamos...premonição e foi ela que me levou àquele episódio de depressão; eu sofri antes dos acontecimentos terríveis que me aguardavam à frente. Quando seis anos depois esses tristes acontecimentos invadiram minha vida, privando-me de coisas e pessoas que me eram tão caras,  como se fossem um exército armado até os dentes para me derrubar, eu só balancei... Resisti a um rolo compressor que passou devastando toda a minha estrutura e nem assim, eu perdi o sono ou a esperança. Ao reconstruir-me o fiz em base sólida e com material resistente que provavelmente eu não teria acesso antes de passar pelo doloridíssimo "teste" da depressão. Agradeço a Deus por isso.
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